House e o Ovo da Serpente

Por Mario Rene

Pretendo dar um panorama acerca dessas manifestações da duas últimas semanas de forma inusitada, sob duas óticas, apenas:
– a “do que é”;
– a do “poder vir-a-ser”.
A do que é:
Alguém sabe de fato?
Será que é contra o aumento de vinte centavos na tarifa do ônibus urbano???
Ou talvez seja contra a Copa? A corrupção? (no-vi-da-de!…) A violência urbana? (Não li nadinha sobre isso na pauta dos manifestantes). Contra …
“…tudo isso que tá aí”?…
Li e reli O Estadão, Folha, Época e Veja.
Sem diagnóstico, sem consenso.
Cada especialista expondo seu ponto-de-vista.
E aí me veio à mente o seriado, digo, ex-seriado House.
House foi um dos mais vistos seriados da TV, por oito temporadas.
O ator Hugh Laurie representa um médico genial, de um Hospital do leste americano, que só é chamado para diagnosticar enfermidades raras e complicadas, que estão além da compreensão de muitos de seus colegas médicos.
E para efetuar o diagnóstico, ele se reúne com a sua equipe de quatro ou cinco jovens médicos, tendo como pano de fundo uma lousa branca ou um flip-chart, aonde todos os sintomas desses pacientes tão especiais são listados.
E para cada sintoma, um dos médicos presentes arrisca um palpite:
Leucemia?
Lupus?
Infecção por fungo?
Sarcoidose? (todo seriado tem!…)
E lá vão eles proceder a exames laboratoriais e de ressonância magnética para confirmar (ou desmentir) a suposição.
Que jamais é confirmada, logo assim de cara.
Até que no final do episódio, a doença é mapeada, geralmente em um “insight” do próprio House.
Pois bem. Penso que não pode haver melhor metáfora para as manifestações das últimas semanas do que o enredo de House.
A enfermidade complexa é a manifestação.
Seu diagnóstico; suas causas?
Um antropólogo diz que… já o cientista social… o sociólogo… o jornalista… o filósofo…
… e o paciente permanece à morte.
E agora, a do “poder vir-a-ser”.
“O Ovo da Serpente” é um filme de Ingmar Bergman (1977), ambientado na Alemanha dos anos 20, que presenciou o surgimento do Nazismo.
Com este título, Bergman expressa um brado de alerta quanto ao que está por vir.
O ovo da serpente é uma metáfora para algo potencialmente perigoso, que pode eclodir a qualquer instante. Através da fina e translúcida casca do ovo, pode-se perceber o crescimento do feto no seu interior. A fina casca então pode se romper a qualquer momento, fazendo brotar um ser perigoso.
Bem perigoso.

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