Google tenta ganhar mercado na nuvem

O Google lidera, ao lado do Facebook, o mercado global de publicidade on-line e é imbatível como ferramenta de busca de informação na internet. Mas na venda de serviços na nuvem computacional está bem atrás da Amazon e da Microsoft. O indiano Thomas Kurian, há pouco mais de dois meses no Google, foi contratado para reduzir essa distância. Ontem, em San Francisco, ele falou como planeja fazer isso.
De terno, mas sem a gravata vermelha que caracterizava suas aparições
públicas enquanto estava na Oracle, o executivo contou que seu plano tem
dois componentes principais: abraçar a ideia de que as empresas não vão usar os serviços em nuvem de apenas um fornecedor, mas sim vários ao mesmo tempo (a chamada multi-cloud) e a criação de produtos que atendam necessidades específicas de empresas em diferentes segmentos de mercado – como saúde, varejo, finanças e mídia.
O Google não revela o quanto tem de receita com serviços de nuvem. Segundo a empresa de pesquisa Canalys, foram US$ 2,2 bilhões no quarto trimestre de 2018, um crescimento de 81,7% na comparação com o mesmo período do ano anterior. As vendas deixaram a companhia com uma fatia de 9,5% do mercado, atrás da Microsoft, que ficou com 16,5% (receita de US$ 3,7 bilhões, com alta de 75,9%), e muito distante da AWS, a empresa da Amazon que tem 32,3% (US$ 7,3 bilhões, com avanço de 46,3%).
Com mais de duas décadas de experiência na venda de software para empresas, Kurian tem como principal desafio criar a cultura de venda de tecnologia para presidentes e diretores de tecnologia dentro de uma empresa que cresceu falando com consumidores e convencendo anunciantes a comprar publicidade em seus serviços.
“Eu já falei com centenas de clientes desde que entrei no Google [há dez semanas] e as duas coisas que eu que escuto deles é adoro a sua tecnologia, mas não tenho gente suficiente do Google para me ajudar. Então a questão é aprimorar a forma como vamos ao mercado e trabalhar com parceiros para entregar as coisas certas para os clientes”, disse o executivo durante uma mesa redonda com jornalistas. De acordo com ele, melhorar esse relacionamento significa contratar mais gente para vendas, suporte, engenharia e profissionais com entendimento profundo das demanda de mercados específicos.
Até agora, o Google vinha batendo na tecla da inteligência artificial como principal fator de diferenciação de seus serviços em relação aos dos concorrentes. A ideia era atrair a atenção das empresas pelo fato delas poderem fazer dentro de casa coisas parecidas com as que o próprio Google faz, usando as ferramentas que a companhia desenvolveu para si mesma.
Nos planos de Kurian, esse conceito mais amplo continua tendo importância, mas dentro de um contexto de produtos criados para atender a necessidades específicas de companhias de diferentes setores. Ele citou o uso de inteligência artificial por empresas de mídia para catalogar o conteúdo de arquivos de vídeo. O computador assiste aos vídeos e faz marcações sobre o que está ali de forma automatizada. Mais tarde, alguém pode consultar essas informações e achar os pontos específicos. “Isso pode até gerar uma nova fonte de receita de licenciamento de conteúdo”, disse.
O executivo deixou a Oracle no fim do ano passado depois de desentendimentos com o fundador e diretor de tecnologia da companhia, Larry Ellison. Apesar de uma relação de confiança construída ao longo de 22 anos, os dois divergiam sobre os rumos dos negócios de computação em nuvem da companhia.
Enquanto Ellison afirmava que as tecnologias da companhia não deveriam ser compatíveis com as de seus concorrentes, Kurian, que ocupava o cargo de presidente de desenvolvimento de produtos, defendia o contrário, a integração com outras ofertas. “Você tem que ter as melhores tecnologias e as soluções mais fáceis de adotar que dão opções aos clientes. Se você fizer isso, eles vão escolher você”, disse o executivo durante a mesa redonda.
No começo de setembro o executivo informou que tiraria uma licença não-remunerada sem prazo determinado. Mais para o fim do mês pediu para deixar definitivamente a Oracle. Um mês depois, o Google anunciou sua contratação para substituir Diane Greene. Fundadora da VMware, Greene entrou no Google em 2015 quando a startup que ela havia criado, a Bepop, foi comprada por US$ 380 milhões em ações. Em um e-mail enviado a funcionários, a executiva disse que havia ficado no Google mais tempo do que tinha planejado anteriormente e queria passar mais tempo com a família, por isso resolveu deixar o posto. Um possível desentendimento com Sundar Pichai, presidente do Google, sobre a velocidade de crescimento do negócio, chegou a ser citada por algumas pessoas.
Pela manhã, durante uma palestra no Moscone Center, o executivo apresentou um novo produto do Google que atende a essa visão, o Anthos. A ideia é que com ele as empresas possam administrar serviços em diferentes nuvens. A IBM, que também corre para conseguir uma boa posição no mercado de computação em nuvem, tem um produto similar. “O mercado ainda está muito no início, 80% do uso ainda acontece em centros de dados próprios”, disse Kurian.
Perguntado sobre o que iria fazer com as gravatas vermelhas que acumulou durante seus anos de Oracle, Kurian respondeu sem pensar: elas ficaram para trás.

https://www.valor.com.br/empresas/6205173/google-tenta-ganhar-mercado-na-nuvem#

Comentários estão desabilitados para essa publicação