Em Tóquio, a casa que cuida de você

A caravana passa pelas ruas do bairro de Komazawa, na região oeste de Tóquio e movimenta o entardecer de sexta-feira na pacata vizinhança. Dentro dos ônibus, executivos e jornalistas de várias partes do mundo têm como destino uma casa de dois andares com fachada de tijolos e design de linhas retas.
O imóvel atrai interesse por ser o primeiro modelo da nova geração de casas desenvolvida pela construtora da Panasonic, a Panasonic Homes. E qual seu diferencial em relação às outras 490 mil que a divisão construiu nos últimos 55 anos? É a primeira a vir com o conceito de “casa conectada” integrado, usando uma tecnologia de automação batizada de Home X que a Panasonic desenvolveu e ambiciona que se torne um padrão no mercado.
A casa também pode ser vista como um microcosmo das mudanças pelas quais a gigante japonesa vem passando e das medidas que vem tomando para se manter relevante frente às mudanças no mercado de eletrônicos. Nos últimos seis anos, a companhia tem investido para reduzir sua dependência de produtos tradicionais como TVs e tem buscado novas áreas, como “internet das coisas”.
O sistema base do Home X foi desenvolvido em pouco mais de 12 meses por uma divisão da companhia, a Panasonic Beta, que opera no Vale do Silício. Já o hardware foi criado por uma startup japonesa que o grupo adquiriu em abril – e que continua a operar de forma independente. Segundo Wataru Baba, diretor da divisão de inovação da Panasonic, a companhia trabalha com mais de 30 parceiros na iniciativa e está aberta a novas colaborações.
Em pé próximo à mesa da cozinha instalada no segundo andar da casa, ele diz que a ideia é que o sistema seja sempre atualizado com novas funções e seja compatível com produtos de outras marcas, não só Panasonic. A incompatibilidade entre os diferentes fabricantes é hoje um dos principais entraves para o avanço do conceito de casa conectada. Como cada um desenvolve as próprias tecnologias, a tendência é que consumidor fique “preso” ao universo de uma marca. “Não dá para imaginar que o consumidor vai querer tudo de uma empresa só”, afirma.
Para que o Home X se torne uma base comum para o mercado, a Panasonic tem trabalhado com órgãos de padronização como o World Wide Web Consortium (W3C) e o Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE). Outras construtoras também poderão usar a tecnologia em suas obras. Até mesmo as rivais Samsung e LG, que têm suas próprias construtoras na Coreia? “A ver”, desconversa Baba.
Espalhadas pelos cômodos, cinco telas retangulares servem como uma central de comando para qualquer ação com um simples toque – abrir as cortinas, acender as luzes, ligar a TV, ouvir música ou regular o ar condicionado. Ligada a todos os eletrodomésticos e a serviços externos (previsão do tempo, compras etc.), ela também avisa quando a roupa terminou de ser lavada e recomenda se é melhor colocá-la para secar dentro ou fora de casa dependendo das condições climáticas. Se a previsão é de chuva, faz até o papel de mãe e avisa para levar um guarda-chuva ao sair de casa. Está sem ideia do que cozinhar, ou não tem muita prática na cozinha? Basta ver quais são as recomendações de receitas e seguir as instruções. O próprio sistema liga e desliga os eletrodomésticos à medida que eles forem necessários para o preparo da comida.
Construída com tecnologias desenvolvidas pela Panasonic que vão desde as vigas de aço resistentes a terremotos usadas na fundação até os móveis instalados na cozinha, a casa de 152 m2 custa a partir de 40 milhões de ienes (cerca de R$ 1,3 milhão). A meta é entregar 200 unidades nos próximos 12 meses em praticamente todo o Japão (com exceção de algumas áreas predefinidas).
Com mais de 6,2 mil funcionários, a Panasonic Homes constrói e reforma casas no Japão, em Taiwan, na Malásia e na Indonésia e está expandindo sua operação para a Tailândia e o Vietnã. Segundo Ryuji Matsushita, presidente da divisão, não há planos de ir além desses mercados no momento. No ano fiscal 2017, encerrado em março, as vendas da Panasonic Homes somaram US$ 3,25 bilhões.
Talvez por ter sido apenas um teste ou por não se tratar de um morador, no fim da visita o Home X não foi capaz de lembrar um dos jornalistas que ele deveria pegar de volta os sapatos deixados na entrada da casa, como manda o costume japonês. A devolução teve que ser feita no dia seguinte. Quem sabe essa função seja incluída na próxima atualização do sistema.

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