Adiamento de tarifas contra a China gera otimismo, mas há riscos

O adiamento, pelo presidente Donald Trump, de um novo aumento das tarifas sobre produtos chineses, evitou uma escalada na tensão entre as duas maiores economias do mundo e gerou otimismo nos mercados ontem. Ainda assim analistas veem com cautela as chances de uma acordo comercial entre EUA e China.
Em post no Twitter no domingo, Trump disse que havia “um progresso substancial em nossas negociações comerciais com a China, em questões estruturais importantes, incluindo proteção à propriedade intelectual,
transferência de tecnologia, agricultura, serviços, câmbio e muitos outros assuntos”.
Trump disse ainda que se houver “avanço adicional” nas negociações, seu governo se prepararia para uma nova cúpula com o presidente chinês, Xi Jinping, na Flórida, para “concluir um acordo”.
Os comentários de Trump foram feitos ao final de uma nova rodada de negociações entre Robert Lighthizer, representante comercial dos EUA, e Liu He, o vice-premê chinês, em Washington, que se estendeu pelo fim de semana.
Trump não deu mais detalhes sobre um possível novo prazo para o aumento das tarifas. Essa medida elevaria de 10% para 25% a sobretaxa sobre importações chinesas no valor de US$ 200 bilhões, e causaria danos muito mais severos aos exportadores chineses e aos consumidores americanos.
Apesar do otimismo de Trump e dos elogios da Xinhua, a agência de notícias oficial chinesa, para a qual as negociações caminham para uma solução vantajosa para todos, havia um ceticismo profundo quanto à possibilidade de que um progresso real esteja ocorrendo ou de que Pequim esteja oferecendo concessões substanciais.
Fontes informadas sobre as negociações vêm dizendo há semanas que os dois lados continuam a divergir em questões como transferência de tecnologia e como garantir o cumprimento do acordo.
“Embora algum tipo de compromisso possa ser alcançado entre EUA e China em alguns temas comerciais, é pouco provável que o processo seja tranquilo e a relação entre EUA e China deve continuar controvertida, oscilando entre o compromisso e o conflito, e envolvendo fricções não apenas no comércio, mas também em tecnologia, investimentos e geopolítica”, disse Marie Diron, diretora do Serviço de Investidores da Moody’s.
A extensão nas negociações comerciais e o adiamento do aumento das tarifas vinham sendo descartados por autoridades dos EUA até o começo deste mês, quando a possibilidade foi aventada pela primeira vez por Trump. Até então, Lighthizer insistia em que 1o de março era o prazo improrrogável.
Mas, por causa da complexidade das questões comerciais em discussão – que buscam remodelar a relação econômica mais importante no mundo – tornou-se cada vez mais claro que Liu e Lighthizer precisavam de mais tempo para elaborar um acordo.
A decisão de adiar as tarifas marca o último sinal de que Trump está determinado a alcançar um acordo com a China para cumprir uma de suas promessas de campanha e evitar mais transtornos para a economia americana enquanto inicia sua campanha à reeleição.
Mas não está nada claro se Trump será capaz de garantir concessões suficientes da China sobre subsídios industriais, proteção de propriedade intelectual, fim de restrições regulatórias sobre investimentos americanos e outras questões que ele e seus negociadores buscam. Os EUA também tentam achar um mecanismo para obrigar a China a honrar seus compromissos, um dos pontos mais delicados das negociações.
“Planejar uma reunião de cúpula envia um forte sinal de que Trump espera poder anunciar um acordo A principal dúvida é justamente como o acordo de Trump será respeitado”, disse Chad Bown, membro sênior do Peterson Institute for International Economics.
A perspectiva de que Trump aceite um acordo limitado – que inclua um grande aumento nas compras chinesas de produtos americanos, mas pouco além disso – enervou autoridades americanas que são mais linha-dura com a China. Os democratas no Congresso também aumentaram a pressão sobre a Casa Branca para que não ceda a Pequim muito facilmente.
O anúncio do adiamento das novas tarifas gerou otimismo nos mercados mundiais ontem.
“O otimismo sobre as negociações comerciais entre os EUA e a China, que foram uma contribuição chave para a recuperação dos mercados de ações, parece ser justificado pela confirmação do presidente Trump, que estendeu o prazo de 1o de março”, disse Ian Williams, analista do Peel Hunt.
Grupos empresariais americanos manifestaram alívio com o adiamento das sobretaxas, mas também reiteraram a necessidade de obter resultados concretos com as negociações com os chineses.
“Saudamos a decisão do presidente Trump de adiar o prazo de 1o de março para a elevação de tarifas e nos sentimos encorajados pelo fato de que os negociadores americanos e chineses continuam a fazer progressos na direção de um acordo”, disse Naomi Wilson, diretora do Information Technology Industry Council, uma organização de lobby em Washington que representa as principais empresas americanas de tecnologia.
Ela disse que o grupo “aguarda com interesse” um acordo que trate das “restrições de acesso ao mercado, as transferências forçadas de tecnologia e as oportunidades desiguais de licenciamento para empresas não chinesas na China”.
Mesmo nos momentos mais difíceis da guerra comercial, Trump e Xi disseram que têm uma relação pessoal amigável, que poderia levá-los a um acordo final. Uma nova cúpula em Mar-a-Lago ocorreria aproximadamente dois anos depois de Trump ter recebido Xi em sua propriedade em Palm Beach, pouco depois de ter tomado posse na Casa Branca.

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