Zona do euro enfrenta queda prolongada

Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), disse que a economia da zona do euro se defronta com uma “queda [da economia] muito mais prolongada” do que se previa alguns meses atrás, ao justificar o estímulo monetário que anunciou neste mês.
Os comentários de Draghi ocorrem após uma pesquisa com executivos revelar que a economia da zona do euro está perto de entrar em estagnação, abalada por uma queda vertical da atividade industrial da Alemanha. Os dados afetaram os mercados ontem e desencadearam previsões de recessão.
O índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) da zona do euro caiu em setembro para o menor patamar dos últimos seis anos, de 50,4 pontos, abaixo das previsões e dos 51,9 pontos de agosto. Os dados, da IHS Markit, oferecem um resumo da atividade do setor privado. Leituras abaixo de 50 indicam contração.
“Os dados de hoje confirmam uma coisa: não haverá nenhuma melhoria palpável da economia neste ano”, disse Ralph Solveen, economista do Commerzbank. “Pelo contrário, o risco de uma recessão está aumentando.”
O euro perdeu 0,4% em relação ao dólar, os rendimentos dos bônus recuaram, e as bolsas europeias caíram após a divulgação dos dados. O índice europeu Stoxx 600 caiu quase 1%. Já o índice Dax, da Bolsa de Frankfurt, caiu 1,5%.
Em sua última aparição como presidente do BCE perante o Parlamento Europeu, onde foi elogiado por salvar a zona do euro de sua crise da dívida, Draghi disse que “a incerteza geopolítica” impediu que o banco alcançasse sua meta de inflação, apesar de o desemprego na região ter caído para o menor nível dos últimos dez anos.
Neste mês o BCE atribuiu à desaceleração da economia e da inflação a sua decisão de reduzir as taxas de juros, mergulhando-as ainda mais em terreno negativo, e de retomar seu programa de compra de ativos, de € 2,6 trilhões.
Os mais recentes esforços de estímulo do BCE atraíram fortes críticas e abriram divisões nos escalões superiores do banco, poucas semanas antes de Draghi passar o comando para Christine Lagarde.
Klaas Knot, presidente do banco central da Holanda e um dos críticos mais eloquentes de Draghi, reclamou ontem que a taxa de juros em nível mínimo histórico está se tornando uma “situação quase permanente”, com efeitos colaterais negativos, como a alta dos preços dos imóveis e a queda no valor das aposentadorias.
A maioria dos economistas não acredita que o afrouxamento da política do BCE terá sucesso em restabelecer o crescimento. “O BCE está certo em manter uma postura política acomodatícia, mas seu pacote recente não fará diferença e certamente não ajudará o setor automobilístico alemão”, disse Dirk Schumacher, diretor de pesquisa macroeconômica europeia da consultoria Natixis.
A indústria automobilística alemã sofreu queda de 12% na produção e de 14% nas exportações neste ano, abalada pela desaceleração do mercado chinês e pela adoção de novos padrões ambientais.
Draghi disse ao Parlamento Europeu que “quanto mais persistir a fraqueza da produção industrial, maiores serão os riscos de que outros setores da economia sejam afetados pelo desaquecimento”. E alertou que “o saldo dos riscos para a perspectiva de crescimento continua inclinado à queda”.
O PMI da indústria alemã caiu de 43,5 pontos, em agosto, para 41,4 em setembro, seu menor nível desde meados de 2009. Os números chamam a atenção para o quanto os problemas do setor automobilístico, as tensões em torno do comércio internacional e as incertezas impostas pelo Brexit estão deprimindo a economia alemã, a maior da zona do euro.
“Os números da produção industrial estão simplesmente horríveis. Toda a incerteza em torno da guerra comercial, do panorama para o setor automobilístico e do Brexit está paralisando as encomendas”, disse Phil Smith, economista-chefe da IHS Markit.
O PMI da produção industrial da zona do euro ficou em 45,6 pontos, pior do que o previsto por economistas ouvidos pela Reuters, o que fez com que o PMI composto somasse 50,4 pontos – o menor patamar em 75 meses.
Os dados da IHS também mostraram que o desaquecimento da produção industrial está se espalhando para o setor de serviços como um todo, cujo PMI caiu de 53,5 para 52 pontos.
Na Alemanha, o PMI composto total caiu de 51,7 pontos para 49,1 pontos, menor níveldesde outubro de 2012 e o primeiro resultado inferior ao piso de 50 pontos desde abril de 2013. A queda foi a mais pronunciada em quase sete anos.
A atividade econômica do setor privado francês cresceu em setembro de forma mais lenta do que o previsto, uma vez que seu setor industrial foi prejudicado pela queda das exportações. O PMI francês recuou para 50,3 pontos, enquanto o setor de serviços totalizou 51,6 pontos, seu pior resultado em quatro meses.

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2019/09/24/zona-do-euro-enfrenta-queda-prolongada-diz-draghi.ghtml

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