Wall Street vive um intenso namoro com Donald Trump

Depois de terem se oposto em peso à candidatura de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, executivos do setor financeiro estão rapidamente virando amigos do presidente eleito.

Executivos de bancos e lobistas estão ajudando a arrecadar os milhões de que Trump precisa para financiar a transição e festividades ligadas à posse. Uma grande associação do setor, a Independent Community Bankers of America, está agendando eventos no Hotel Trump International na capital americana.

Várias outras entidades da indústria financeira, como a Associação Americana de Bancos, estão respondendo a pedidos de assessores de Trump para sugerir nomes que possam ocupar altos cargos na área de regulação financeira no novo governo, como mostrou matéria do The Wall Street, assinada por Brody Mullins, Emily Glazer, publicada no Valor 1/12

Uma entidade de lobby, a Financial Services Roundtable, está ajudando a levantar fundos para um evento – no qual Trump será a principal atração – em Nova York na semana que vem para levantar US$ 4 milhões para a transição de governo. Esse esforço coordenado é o último sinal de que Wall Street pode acabar entre os grandes vitoriosos no governo Trump, apesar dos ataques feitos a grandes bancos durante a campanha.

Na terça-feira, Trump escolheu dois investidores de Wall Street para posições cruciais em seu gabinete. Steven Mnuchin,ex-executivo do Goldman Sachs Group Inc. que foi o tesoureiro da campanha de Trump, foi nomeado secretário do Tesouro. Já o investidor de private equity Wilbur Ross foi escolhido para secretário de Comércio.

Os laços sobrepostos também mostram quão difícil será para Trump cumprir a promessa de campanha de “drenar o pântano” de interesses especiais em Washington e, ao mesmo tempo, bancar a transição e montar a equipe do novo governo.

A boa onda de notícias para Wall Street ocorre após um investimento pesado do setor na campanha da democrata Hillary Clinton. A indústria de valores mobiliários e investimentos doou mais de US$ 78 milhões para a campanha de Clinton e um super-PAC, como são chamadas as entidades que podem arrecadar dinheiro e investir sem limites em ações políticas nos EUA, que a apoiava, mais de cem vezes o valor que doou para a campanha de Trump, segundo o Center for Responsive Politics, um instituto apartidário.

Apesar desse desequilíbrio nas doações, Wall Street esperava passar os próximos anos se defendendo de ataques regulatórios de um governo Clinton. Em vez disso, o setor agora espera que o total controle republicano da Casa Branca e do Congresso inaugure uma nova era de desregulamentação financeira.

“É como um alívio regulatório com esteroides”, diz Cam Fine, presidente da Independent Community Bankers of America que apoiu Trump desde o início.

O estreitamento dos laços entre Wall Street e Trump é o último – e surpreendente – capítulo no longo e conturbado relacionamento de Trump com o setor financeiro. A relação, que era amistosa nos anos 80 e 90, ficou fria depois de 2000 e abertamente hostil durante a candidatura dele à Casa Branca.

Durante a década de 90, algumas das maiores firmas de Wall Street emprestavam dinheiro com regularidade às operadoras de cassinos e hotéis de Trump. Deutsche Bank AG, UBS AG, Lehman Brothers e Credit Suisse First Boston estavam entre as instituições que disputavam negócios com o empresário nova-iorquino.

Depois de vários negócios de Trump quebrarem, e de outros conflitos, a relação se deteriorou. Em 2008, quando não quitou parte de um empréstimo ligado a um imóvel em Chicago, Trump processou o Deutsche Bank. O banco moveu uma ação em resposta e os dois fecharam um acordo extrajudicial.

Quando Trump lançou sua candidatura à presidência, poucos bancos em Wall Street tinham negócios com ele.
Isso tudo mudou depois que Trump venceu a eleição. Desde então, o presidente eleito já esteve com uma série de executivos de Wall Street – inclusive aqueles que não o apoiaram.

Talvez nada demonstre melhor a mudança no relacionamento entre Trump e Wall Street do que suas relações com o Goldman Sachs antes e depois da eleição.

Em setembro de 2015, quando a campanha de Trump pegava embalo, o diretor-presidente do Goldman Sachs, Lloyd Blankfein, disse que a ideia de Trump “com o dedo no botão [nuclear]” era assustadora.

Depois que Trump venceu, Blankfein classificou o programa do presidente eleito como “bom para o mercado e bom para os investimentos”. Na terça-feira, no processo de montar a equipe de governo, Trump esteve com mais de uma dezena de indivíduos. Entre eles: Gary Cohn, superintendente e diretor de operações do Goldman Sachs.

Um porta-voz do Goldman Sachs se recusou a comentar.

Enquanto isso, a equipe de transição entrou em contato com associações do setor como a American Bankers Association e a The Clearing House, que representa firmas de compensação de pagamentos, em busca de indicações de nomes para ocupar postos regulatórios, segundo pessoas envolvidas nas discussões.

Cam Fine e executivos de bancos regionais estiveram entre os poucos do setor financeiro que apoiaram Trump logo cedo. Em setembro, Fine decidiu transferir várias reuniões da associação – já marcadas para outros hotéis – para o Trump International Hotel em Washington.

Wall Street também está se organizando para captar dinheiro para o comitê de transição de Trump e a cerimônia de posse. Thomas Barrack, um investidor de private equity, foi nomeado presidente do comitê da posse presidencial.

A Financial Services Roundtable, que reúne os presidentes do Citigroup Inc., do Bank of America Corp., do Wells Fargo & Co. e de outras grandes instituições financeiras, está ajudando a bancar os custos da transição. O diretor executivo da entidade mandou um convite a empresas de serviços financeiros dizendo que a equipe de transição espera levantar US$ 4 milhões para essa finalidade no evento em Nova York.

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