Vale do Silício voltou a gostar da Microsoft

O clima mudou. Algo estranho acontece na capital da indústria tecnológica: o Vale do Silício está começando a gostar da Microsoft.

Esse sentimento era raro por lá e em outros polos de empresas novatas, onde durante anos muitas pessoas do setor ou viam a Microsoft como ultrapassada ou evitavam a companhia por medo da sua antiga tática de destruir rivais mais novos, como mostrou matéria do The Wall Street Journal, assinada por Shira Ovide, publicada no Valor Econômico de 06/02, pg B9.

Agora, a Microsoft está parecendo a queridinha do setor. “Startups” e firmas de capital de risco mantêm contato próximo com executivos da empresa, colaboram com ela para garantir que seus próprios produtos funcionem com os da Microsoft e torcem pelo sucesso da empresa.

A maior razão para essa nova tendência tem um nome: Satya Nadella, que na quarta-feira completou um ano como diretor-presidente da Microsoft. Nos últimos 12 meses, Nadella seduziu o Vale do Silício adotando uma diplomacia pessoal e energética.

A Microsoft, que é sediada em Redmond, no Estado de Washington, costumava se esforçar para varrer do mapa ou se apoderar de tecnologias emergentes que não haviam nascido dentro da empresa. Essa atitude funcionava na época em que seu sistema operacional, o Windows, definia a computação. Mas o mundo da tecnologia não é mais tão homogêneo.

Consumidores, desenvolvedores de software e empresas usam hoje uma mistura de tecnologias de diversas fontes e esperam que todas funcionem sem problemas. A Microsoft tem que se adaptar ou ficará para trás.

Nadella fomentou uma nova disposição para aprender e trabalhar com outros. Ele conversou com firmas novatas, fez acordos com concorrentes, abriu o software de alguns produtos da Microsoft e adquiriu tecnologias que colocaram a empresa num nível mais competitivo em relação a rivais como Google e Amazon e dezenas de ambiciosos desenvolvedores de aplicativos. Dentro da Microsoft, ele enfatizou a necessidade de aprender com outras firmas e promoveu uma cultura em que tecnologias desenvolvidas em outros lugares não são automaticamente consideradas inimigas.

É verdade que a Microsoft continua alijada de alguns nichos do mundo da tecnologia. Fabricantes de aplicativos populares para o iPhone ou smartphones com o sistema Android, como Snapchat, Pinterest e Starbucks concluíram que não vale a pena fazer uma versão para o Windows Phone, que roda em apenas 3% dos novos smartphones no mundo todo. Sob a liderança de Nadella, a Microsoft continua perdendo participação no mercado móvel.

O sinal mais visível de mudança na Microsoft é a disposição de Nadella de fazer o software da Microsoft trabalhar com produtos de concorrentes, mesmo que eles ameacem roubar negócios da empresa. A estratégia é uma aposta que, no longo prazo, adotar tecnologias consideradas úteis por consumidores, desenvolvedores e empresas será vantajoso para a própria Microsoft.

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