Uso de carvão cai, mas emissões de carbono sobem

As emissões globais de carbono vão subir neste ano apesar da crescente pressão internacional para reverter uma tendência que afasta ainda mais o mundo das metas do Acordo de Paris sobre o clima.
As emissões da queima de combustíveis fósseis deverão crescer 0,6% neste ano, segundo pesquisa publicada ontem na revista científica “Nature Climate Change”, após um aumento de 2,1% em 2018 e de 1,5% em 2017.
A desaceleração no crescimento das emissões é reflexo do menor uso de carvão nos EUA e na União Europeia (UE) e do desempenho econômico mais fraco na China e na Índia. As emissões neste ano, contudo, ainda serão 4% mais altas do que eram em 2015, quando foi acertado o Acordo de Paris.
O pacto, assinado por quase 200 países, almeja limitar o aquecimento global a bem menos de 2°C por meio de esforços conjuntos dos países para reduzir as emissões. Os dados mais recentes, porém, colocam em evidência a dificuldade de atingir essas metas.
“O fracasso em enfrentar prontamente os fatores propulsores por trás do crescimento contínuo das emissões limitará a capacidade mundial de mudar para um rumo mais consistente com um aquecimento global de 1,5oC ou bem abaixo de 2°C”, disse Pierre Friedlingstein, professor da Universidade de Exeter e um dos autores do estudo. A pesquisa anual “Global Carbon Project” é referência em emissões de carbono.
Glen Peters, outro autor e diretor do Centro de Pesquisas Ambientais e Climáticas Internacionais de Oslo (Cicero, na sigla em inglês), prevê que as emissões vão crescer mais 1% em 2020, a não ser que ocorra alguma grande mudança nas políticas climáticas ou um evento inesperado.
A divulgação das projeções ocorre em meio às discussões na CoP 25 – a conferência sobre mudança climática da ONU, em Madri – sobre metas ainda mais ambiciosas. Nesta semana, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que a “própria vida” estaria em risco se os maiores poluidores do mundo não reduzirem o uso de combustíveis fósseis.
Levando em conta a margem de erro, as emissões neste ano poderiam subir até 1,5% ou cair 0,2%, segundo os pesquisadores.
As emissões na China deverão aumentar 2,6% neste ano, em razão da maior produção de cimento e aço. Tanto as emissões nos EUA e na UE deverão cair 1,7% neste ano, embora no caso americano um inverno particularmente frio tenha elevado o uso de energia.
Políticas climáticas e energéticas têm contribuído para desacelerar o ritmo de crescimento das emissões desde 2010, em comparação com os anos 2000, segundo os pesquisadores.
Mesmo assim, continuam insuficientes para reverter a tendência de alta: tecnologias de baixas emissões de carbono – como a solar e a eólica – têm elevado a demanda em vez de substituir as fontes das emissões, particularmente em países onde o uso de energia está aumentando, acrescentaram.
“Precisamos de políticas mais fortes que tenham como objetivo o abandono gradual do uso de combustíveis fósseis”, disse Corinne Le Quéré, da University of East Anglia. “Há muita demanda por medidas contra as mudanças climáticas, mas claramente um atraso na percepção de urgência.”
Também ontem, a Agência Ambiental Europeia alertou os governos da UE para intensificarem radicalmente suas medidas sobre clima para não fracassarem no objetivo de se tornarem o primeiro continente neutro em carbono até 2050.
Na próxima semana, a nova Comissão Europeia vai apresentar sua proposta ambiental para a Europa, incluindo a meta de um corte maior, de até 55%, nas emissões até 2030 e a transformação em lei da meta de neutralidade climática da UE até 2050. O diretor executivo da agência, Hans Bruyninckx, disse que a UE sofre de um “hiato na implementação” e que as medidas governamentais não estão sendo suficientes para cumprir as metas climáticas prometidas.
Ele fez um chamado aos governos para direcionarem os investimentos no desenvolvimento de tecnologias mais limpas, em vez de usinas termelétricas a carvão e infraestrutura de gás. “O maior risco em nossa opinião é que façamos os investimentos equivocados. Podemos atingir nossos objetivos em 2030 injetando bilhões para conquistar ganhos ínfimos de eficiência, mas eles nunca vão nos levar a 2050. Trata-se de um beco sem saída”, disse Bruyninckx.

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2019/12/05/uso-de-carvao-cai-mas-emissoes-de-carbono-sobem.ghtml

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