Tarifa eleva custos e empresas dos EUA já aumentam preços

As empresas americanas do setor industrial deixaram os investidores nervosos ontem. Relatos de alta dos preços e dos custos de produção, em produtos que vão de escavadeiras a etiquetas adesivas, aumentaram o temor de que as tarifas comerciais estejam contribuindo para elevar a inflação global.
Abalados por uma forte queda das ações chinesas, os mercados de ações globais já vinham caindo antes da divulgação dos balanços trimestrais das companhias americanas. Em Nova York, o índice S&P 500 chegou a cair 2,3% antes de fechar com uma queda de 0,6%, como mostrou maréria do Financial Times, assinada por Ed Crooks.
Empresas americanas – incluindo 3M, Caterpillar e United Technologies (UTC) – destacaram em seus balanços do terceiro trimestre que pretendem aumentar seus preços para compensar a alta dos custos decorrente da falta de mão de obra e da onda de elevação das tarifas comerciais liderada pelos EUA e seguida por outros países.
Gregory Hayes, executivo-chefe do grupo industrial UTC, afirmou: “No fim das contas, essas tarifas são todas repassadas para o consumidor de uma forma ou de outra. É simplesmente imposto para o consumidor”.
Além disso, sinais de demanda mais fraca em alguns mercados também reforçaram os temores dos investidores com relação a um possível redução dos lucros, caso as empresas não consigam repassar o aumento dos custos.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) disse neste mês acreditar que a firme expansão da economia mundial continuará em 2019, mas alertou que o crescimento pode já ter atingido o pico em algumas grandes economias.
A Caterpillar, fabricante de escavadeiras e equipamentos pesados, disse que vai aumentar globalmente os preços de suas máquinas e motores em algo entre 1% a 4% no começo do ano que vem, refletindo encomendas de compras mais firmes e a alta das matérias-primas e do frete.
O grupo industrial e de produtos de consumo 3M reduziu as suas projeções de lucros para 2018 em cerca de 4%. A companhia disse que os volumes de vendas trimestrais caíram em todas as regiões, com exceção da Ásia-Pacífico, mas que essas quedas foram compensadas pelo aumento nos preços.
As duas empresas alertaram para o impacto das tarifas comerciais, que a Caterpillar estima que vão lhe custar cerca de US$ 100 milhões neste ano. A 3M disse que espera impacto de US$ 100 milhões para o ano que vem, mas alertou que: “Nossos preços vão mais do que compensar isso [as tarifas] e o aumento dos preços das matérias-primas”.
As ações da Caterpillar fecharam em baixa de 7,6% ontem, enquanto que as ações da 3M recuaram 4,4% em Nova York.
Outras empresas do setor industrial disseram que deverão aumentar seus preços no futuro. Hayes disse a analistas em uma conferência telefônica que a Otis, unidade de elevadores da UTC, que está sofrendo com a queda dos lucros por causa do aumento dos custos neste ano, “começará a registrar alguma recuperação no ano que vem e mais ainda no ano seguinte”.
Fabricantes de bens de consumo também alertaram para a alta dos custos dos insumos nos últimos dias e estão tentando elevar os preços em resposta.
Nesta semana, a Kimberly-Clark, fabricante dos lenços de papel Kleenex, afirmou que “uma inflação significativa das commodities” afetou as margens e o lucro operacional. A empresa acredita que os custos adicionais da celulose, matérias- primas e outras commodities ficarão mais próximos do teto de sua estimativa anterior de US$ 675 milhões a US$ 775 milhões no ano.
As preocupações maiores com as tarifas comerciais, com o crescimento global e com o potencial pico dos lucros corporativos afetaram os mercados de ações em todas as partes do mundo ontem.
Os setores sensíveis ao crescimento econômico, incluindo os de energia, matérias-primas e manufatureira, foram os mais atingidos. As ações das empresas manufatureiras acumulam queda de quase 10% no mês, e as empresas de matérias- primas acumulam uma desvalorização de mais de 20% desde o pico alcançado em janeiro.
Nicolas Colas, cofundador da DataTrek, disse que, além das preocupações com as tarifas, “há o temor com relação a uma desaceleração do crescimento mundial, e os investidores estão levando isso em conta. Existe a percepção de que isso é o melhor que se pode ter nos EUA e o resto do mundo já está se conformando”.

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