Rússia, China e Índia terão reunião separada no G-20

Os líderes de Índia, Rússia e China se encontrarão durante a cúpula do G-20 em Osaka, no Japão, no fim da semana, para discutir questões de segurança regional e medidas práticas para evitar o impacto financeiro da guerra comercial promovida pelos EUA contra os chineses. 
O encontro foi definido ontem, após reunião entre o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e o presidente russo, Vladimir Putin, à margem da reunião da Organização de Cooperação de Xangai (SCO). “Está previsto que haverá uma reunião trilateral de Rússia, Índia e China à margem da cúpula do G-20, para debater questões de cooperação regional”, disse o chanceler da Índia, Vijay Gokhale, à imprensa durante reunião entre Modi e Putin. 
Segundo especialistas, apesar de Índia, Rússia e China fazerem parte dos Brics, assim como Brasil e África do Sul, o encontro não é um sinal de divergências ou má vontade com o governo de Jair Bolsonaro, ou com Cyril Ramaphosa, presidente sul-africano. 
“Essa reunião será sobre questões políticas e cooperação regional deles, e não tem a ver com os Brics”, afirmou ao Estado o diplomata Rubens Barbosa, ex-embaixador brasileiro em Washington e presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior. “Tanto que, além desta reunião, líderes dos países dos Brics também se reunirão à margem do G-20 e, em novembro, o Brasil vai receber todos os líderes desses países para uma cúpula dos Brics aqui no Brasil.”
Segundo o Itamaraty, não há qualquer problema em que países do Brics tenham reuniões em qualquer outro formato, até mesmo com terceiros. A título de exemplo, Brasil, Índia e África do Sul, que formam o chamado IBAS, costumam se reunir todos os anos em eventos paralelos à Assembleia-Geral da ONU. 
A aproximação cada vez maior entre Rússia e Índia, e a tentativa dos indianos de formalizar uma parceria com a China são os principais fatores para a reunião. “O encontro tem menos a ver com Brics, e mais a ver com o RIC”, disse ao Estado Rachel Salzman, professora de Estudos da Eurasia na Universidade Johns Hopkins, referindo-se à sigla que tem sido usada para definir a cooperação regional e integração econômica entre Rússia, Índia e China nos últimos anos. 
“Desde que Modi assumiu o governo, a Índia tem se aproximado cada vez mais da China e, principalmente, da Rússia, com acordos bilaterais e parcerias para cooperação, como a construção de uma fábrica na Índia”, diz Salzman. “Diante da crescente insegurança regional provocada pela guerra comercial, essa reunião trilateral será para discutir as questões da região do Indo-Pacífico e em meio à convergência estratégica entre Japão e EUA.”
Embora a Índia tenha diversificado a fonte de suas compras militares nos últimos anos, Moscou continua a ser o mais importante fornecedor de peças de reposição e de equipamentos militares do país, uma vez que grande parte do armamento indiano é de origem russa. 
Analistas também apontaram que, embora a Índia tenha assinado pactos nucleares civis com muitos países, são as usinas nucleares russas, construídas em Kudankulam, no sul do país, que estão em operação e em vários estágios de construção. Ultimamente, a aproximação da Rússia com a China e o Paquistão tem preocupado a Índia, e Modi tem tentado reconstruir esses laços.
Em 3 de março, Modi lançou uma unidade de fabricação de fuzis AK-203 em Amethi como parte do lançamento da Indo-Russia Rifles Pvt Ltd – uma joint venture entre a fábrica Ordnance da Índia e a fabricante de armas russa.
Além disso, a China é um importante vizinho da Índia, com o qual Nova Délhi está estabilizando seus laços após uma série de rusgas e um impasse militar em 2017, por uma disputa fronteiriça.
“Esses diálogos Rússia-Índia-China e Japão-EUA-Índia são um esforço de Modi para mostrar que a Índia tem de ser uma potência líder e deve se envolver com todos os países”, disse o ex-chanceler Kanwal Sibal.
“O diálogo tem limitações, dado que Pequim não reconhece as ambições da Índia de desempenhar um papel importante no cenário mundial, mas com o avanço da guerra comercial e com a aproximação entre EUA e Japão, o diálogo se tornou uma chance de trocar pontos de vista.” 

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