Recuperar meio ambiente exigiria 2% do PIB global

Se continuar a trilhar o caminho atual, o futuro da humanidade até o meio do século é sombrio. Bastariam, contudo, investimentos da ordem de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) global em decisões ambientalmente sustentáveis para enfrentar os danos das mudanças climáticas, da escassez hídrica e da perda de biodiversidade.
Estes dados são do GEO 6 (sixth Global Environment Outlook), a fotografia mais acurada e abrangente do estado do meio ambiente global feito pela ONU Meio Ambiente.
Para lidar com um mundo em trajetória sem precedentes de danos ambientais – e os riscos relacionados à saúde pública global – as políticas públicas deveriam ser integradas, defende uma das autoras do estudo, Joyeeta Gupta, professora de Ambiente e Desenvolvimento no Sul Global da Universidade de Amsterdã.
Um planeta ambientalmente pouco saudável provocará 25% das mortes e doenças nas próximas décadas. A poluição do ar causa pelo menos 7 milhões de mortes anuais, número que pode estar subestimado.
A poluição da água pode ser a principal causa de mortes em 2050. Os poluentes nos sistemas de água potável farão com que a resistência das bactérias aos antibióticos existentes se torne na maior causa de morte até a metade do século.
A perda dos estoques pesqueiros nos oceanos pode afetar a segurança protéica de um bilhão de pessoas e tirar o emprego de milhões. A degradação da terra afeta a vida de 3,2 bilhões.
“As estatísticas são alarmantes, mas não deveriam ser fontes de desespero”, diz o economista Paul Ekins, copresidente do processo de produção do GEO 6. “Nós sabemos o que temos que fazer”.
O relatório é um trabalho desenvolvido nos últimos cinco anos por 250 pesquisadores de mais de 70 países. As mais de 700 páginas atualizam o anterior, de 2012. Mostra que os danos ambientais globais são de tal nível que afetam e colocarão em risco milhões de vidas nas próximas décadas.
Existem 100 mil produtos químicos em uso, e menos da metade teve seus impactos testados. Perto de 2/5 das pessoas não têm acesso a aterros sanitários. As perdas de alimentos chegam a mais de 36% do que se produz, sendo 55% nos países ricos.
Até 2050, cidades e regiões na Ásia, Oriente Médio e na África poderão sofrer milhões de mortes prematuras. Mas o forte processo de urbanização pode ser uma oportunidade de investir em infraestruturas verdes.
Dietas com menor consumo de carne e a redução no desperdício de comida poderia diminuir em 50% a necessidade de produção de alimentos para mais de 9 bilhões de pessoas em 2050.
Ekins acredita que a transição para a economia circular e verde produzirá efeitos positivos. “A economia circular irá gerar uma enorme demanda de trabalho”.
A boa notícia é que o mundo tem recursos financeiros, ciência e tecnologia para minimizar os danos, indica o estudo. A narrativa do desenvolvimento mais limpo e sustentável, contudo, não ecoa o suficiente no público e nas empresas. Não há liderança política.
O GEO 6 foi lançado na 4a sessão da Assembleia Ambiental da ONU (Unea), maior conferência do gênero, que reúne mais de 100 ministros de Meio Ambiente esta semana em Nairóbi, no Quênia.
“Estamos em uma encruzilhada. Vamos continuar neste caminho de perspectivas sinistras ou vamos mudar a rota para um cenário mais sustentável e seguro?”, disse Joyce Msuya, diretora interina da ONU Meio Ambiente
Há, porém, tendências animadoras. “Vemos como a China se volta para energia renovável”, diz Ekins. “Por causa deste esforço, a produção de placas solares tornou os preços muito acessíveis para os países da África, que podem se desenvolver sem usar tanto combustíveis fósseis”, diz ele.
O trabalho foi coordenado pelo Centro de Estudos de Sustentabilidade e Desenvolvimento (CSDS) da Universidade de Amsterdã.

https://www.valor.com.br/internacional/6159745/recuperar-meio-ambiente-exigiria-2-do-pib-global#

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