Queda do PIB alemão e piora na China elevam risco de recessão

Cresceram os temores de uma maior desaceleração econômica na Europa e na Ásia após a Alemanha ter informado que sua economia encolheu no segundo trimestre e a China ter divulgado um grande volume de dados fracos.
As más notícias vindas de duas grandes potências industriais que estão estreitamente interligadas pelo comércio exterior e por investimentos reforçaram o temor do mercado com a situação da economia mundial, o que desencadeou uma fuga na direção de ativos seguros. As ações e os rendimentos dos bônus dos EUA caíram ontem.
A União Europeia (UE), liderada por uma Alemanha em processo de enfraquecimento e com a perspectiva cada vez maior de uma saída abrupta do Reino Unido, parece especialmente frágil. Dados recentes da zona do euro mostraram que o crescimento nos países da zona do euro praticamente parou.
Na Alemanha, o Produto Interno Bruto (PIB) sofreu retração de 0,1% no segundo trimestre. Economistas e autoridades atribuíram boa parte da contração às incertezas causadas pela guerra comercial entre EUA e a China e à perspectiva de um Brexit sem acordo.
Na China, a taxa de desemprego urbana voltou a subir em julho, para seu maior nível desde o início da série histórica, e os dados de produção industrial, consumo, investimentos em imóveis e outros indicadores fundamentais ficaram abaixo do esperado.
Economistas e autoridades disseram que o conflito da China com os EUA reduziu a confiança da indústria, apesar do salto inesperado das exportações em julho. Cresce a pressão para que a China adote novas medidas de incentivos para manter a economia crescendo dentro da sua meta de 6% a 6,5%.
Os dados chineses podem indicar mais problemas para a Alemanha, cujas montadoras e fabricantes de máquinas estão entre as empresas ocidentais mais bem-sucedidas no país asiático. A China foi o terceiro maior mercado de
exportações da Alemanha no ano passado, depois de EUA e França.
A persistente fragilidade da economia chinesa sugere que a Alemanha deverá permanecerá estagnada até o fim do ano que vem, disse Jörg Krämer, economista-chefe do Commerzbank, de Frankfurt, que prevê que o PIB alemão crescerá somente 0,8% em 2020.
As exportações da zona do euro para a China subiram 14% em 2017, mas o ritmo desacelerou para 1,5% nos primeiros cinco meses deste ano, diz o Commerzbank.
Os dados mais recentes da Alemanha elevam a pressão para que o governo em Berlim adotem suas próprias medidas de incentivo.
“Os dados são um alerta e uma advertência”, disse o ministro da Economia alemão, Peter Altmaier, em nota. “Estamos em fase de crescimento fraca, mas ainda não em uma recessão, que poderemos evitar se tomarmos as medidas necessárias. Os políticos e as empresas precisam agora agir juntos.”
Berlim enfrenta pressão para relaxar sua rígida política fiscal, a fim de ajudar a aquecer a demanda do consumidor e os investimentos internos, o que ajudaria neutralizar os efeitos da queda das exportações. O governo alemão resistiu até agora, embora planeje sancionar cortes de impostos moderados e instaurar uma nova política ambiental, a ser divulgada no último trimestre do ano. Altmaier disse ontem que os impostos de pessoa jurídica deveriam ser reduzidos e que os investimentos em digitalização e tecnologias futuras deveria ser acelerado – um tópico de discussão controvertido no governo.
Os bancos centrais na Ásia já começaram a reduzir as taxas de juros. Índia e Nova Zelândia estiveram entre os primeiros, antes do corte feito pelo Fed (o BC dos EUA) no fim de julho, e voltaram a reduzir os juros na semana passada, junto com Tailândia e Filipinas.
Os novos dados alemães deverão gerar pressão adicional sobre o Banco Central Europeu (BCE) para que lance um novo pacote de incentivos em sua próxima reunião de política monetária, marcada para 12 de setembro, a fim de restabelecer o grau de confiança. O presidente do BCE, Mario Draghi, prometeu novas medidas, que poderão incluir cortes de juros e o gasto de centenas de bilhões de euros em compras de bônus.
“Os conflitos comerciais, a incerteza mundial e as dificuldades enfrentadas pelo setor automobilístico acabaram por levar a economia alemã a uma situação de grande fragilidade. O aumento da incerteza, mais do que efeitos diretos decorrentes dos conflitos comerciais, deprimiram a confiança e, portanto, a atividade econômica”, disse o economista-chefe da ING para a Alemanha, Carsten Brzeski.
Os dados de indicadores antecedentes e de confiança dos agentes econômicos apontam para novo resultado fraco no terceiro trimestre. Isso indica uma recessão, definida como dois trimestres consecutivos de declínio da produção.
As atenções se concentram agora em até onde irá a guerra comercial entre Washington e Pequim.
Uma autoridade americana disse que uma nova rodada de negociações em Washington, no mês que vem, pouco tendem a avançar caso Pequim continue a resistir em adotar mudanças estruturais que permitam que empresas americanas concorram no que definem como uma situação de igualdade.
O clima ficou mais pessimista na Alemanha e em boa parte da Europa. A produção da indústria alemã encolheu neste ano, apesar da pequena alta do PIB no primeiro trimestre. Várias grandes empresas alemãs atribuíram os resultados ruins às tensões comerciais entre EUA e China. A produção industrial caiu 1,6% em junho (ante maio) na zona do euro, e 1,5% na UE como um todo, informou a Eurostat, agência de estatística da UE.
O PIB sazonalmente corrigido cresceu 0,2% na zona do euro e na UE no segundo trimestre de 2019, ante o trimestre anterior, segundo estimativa do Eurostat, após alta de 0,4% na zona do euro e 0,5% na UE no primeiro trimestre. A Alemanha foi o único país da zona do euro cuja economia encolheu. Fora da região, Reino Unido e Suécia também registraram contrações.
Alguns exportadores da UE podem se beneficiar, em última instância, se as empresas chinesas resolverem trocar produtos americanos por produtos europeus, dizem alguns analistas. Mas a incerteza que cerca o conflito comercial entre as duas maiores economias do mundo parece tender a continuar, o que ofuscará o que quer que possa ocorrer na Europa, na Ásia e em outras partes da economia global.
As empresas, em especial, terão dificuldades para planejar e para investir sem saber como as tensões comerciais vão terminar.
“Isso é particularmente difícil em uma economia voltada para as exportações, como a da Alemanha”, disse Clemens Fuest, presidente do Instituto Ifo, um centro de análise e pesquisa econômicas.
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