“Primavera Árabe”? O que isto quer dizer no Egito?

Confusão, medo e incerteza. Todas as forças políticas no Egito repetem estas palavras. O que acontece no país tem enorme importância em todo o poder no Cairo era o menos instável em relação à toda a instabilidade reinante no Oriente Médio. Era, não é mais. Hoje, o Egito está dividido em três grandes forças políticas que tentam um diálogo quase impossível.
A “Primavera Árabe”, o movimento iniciado em janeiro de 2011 que encerrou o longo período sem democracia do governo de Hosni Mubarak. Enquanto o objetivo era um só, derrubar a era Mubarak, os manifestantes da Praça Tahir preservaram sólida unidade. Eliminado o inimigo comum o quadro ficou muito confuso. País predominantemente islâmico, o partido da Irmandade Muçulmana, fundado em 1928, aparentemente dominaria as eleições.
Não foi o que aconteceu. A Irmandade, com a candidatura de Mohamed Morsi, obteve pouco mais de 30% dos votos, praticamente empatada com os votos alcançados pelo general aposentado Ahmed Shahfiq, que foi ministro de Mubarak. A oposição mais liberal, laica, que apenas parecia dominar os acontecimentos na Praça Tahir dilui-se em muitas divis~eos e ficou com menos de 15% dos votos. O fato mais complexo revelado pelas urnas é que os muçulmanos mais radicais, os salafistas atingiram mais de 20% dos votos.
O predomínio muçulmano apareceu na Assembléia Constituinte que redigiria a nova Carta democrática para o Egito. Morsi chegou a presidência do país sem ter a Constituição pronta.. Há duas semanas, o presidente tentou aumentar pro decreto os seus poderes, especialmente impedindo o Judiciário de apreciar as decisões do Executivo. A reação contrária foi enorme, com os manifestantes atacando o palácio presidencial no Cairo. Morsi recuou, cancelou o decreto que aumentava seus poderes, mas apressou o final da redação da Constituição.Nesse ponto a confusão aumentou muito.
A Constituição entregue consagra a lei islâmica, a sharia, como nunca foi feito no país. As autoridades religiosas ganham poderes inéditos, em especial quanto a costumes sociais. O texto retira a igualdade entre homens e mulheres, embora diga que “todos são iguais perante a lei”. Reconhece direito de minorias religiosas, cristãos e judeus, sem mencionar outras visões do islamismo. O Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos considerou o texto desta Constituição “desastroso”.
A tensão política subiu muito porque no sábado próximo, dia 15, o texto aprovado na Constituinte vai a referendo popular. A oposição liberal e laica está dividida entre comparecer e votar “não” ou boicotar o referendo.
O quadro político, apesar de toda tensão, ainda não está completo porque falta um ator político muito relevante: as Forças Armadas. Os militares preservam enorme poder, especialmente econômico, dominando empresas estatais e grandes negócios. Sem contar a questão externa, o enfrentamento com Israel e a proximidade dos militares egípcios com os EUA. No sábado passado, os militares mostraram ao presidente Morsi o seu poder, ao não reprimir o ataque da oposição ao palácio, o que obrigou a retirada provisória de Morsi do prédio. A situação no Egito não é bem a que parece. O poder militar no Egito é um fato político. E a Irmandade Muçulmana sabe disso.

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