Por que os smartphones da China dão inveja

Nós não estamos usando todo o potencial de nossos celulares. Foi o que aprendemos este mês na Converge, a conferência asiática de tecnologia promovida pelo The Wall Street Journal em Hong Kong, onde encontramos empreendedores chineses, jornalistas e amigos – e, obviamente, imediatamente pedimos para brincar com os smartphones.

Certamente, os ocidentais conseguem os melhores novos dispositivos da Apple em primeira mão. Mas, na China, sempre há formas de viver a vida através dos smartphones que nos deixam com ciúmes. A China até elaborou um modelo de negócios legítimo para que a temporada mais recente de “Game of Thrones” possa ser vista pelo telefone, de graça, como mostrou material do The Wall Street Journal, assinada por Geoffrey A. Fowler e Joanna Stern, publicada no Valor de 20/08, pg B9.

Qual a estratégia dos chineses? Muitas vezes, a tecnologia é simplesmente mais barata, permitindo trocas mais frequentes de telefones. Depois, há a maior população conectada na internet do mundo – cerca de 649 milhões de pessoas, das quais 86% usam a internet via telefone – o que pode ser uma incrível base de testes para novas ideias. Muitos jovens já optaram diretamente pelo smartphone como seu principal dispositivo de computação – ignorando os laptops -, então os telefones foram aprimorados para fazer mais coisas.

Concorrentes gigantes do mercado local, como a Tencent e o Alibaba, competem por lealdade em todo tipo de serviços de telefonia móvel, incluindo mensagens de texto, compras, vídeo e até entrega de comida.
Claro que não podemos ignorar os problemas da China com as liberdades civis na internet. Há muito pouco acesso a serviços internacionais, como Facebook e Google. O governo coloca unidades de polícia cibernética em empresas de internet ostensivamente para evitar crimes, mas também para manter o controle sobre os cidadãos.

Mas, assim como várias outras contradições na China, há muita coisa boa no meio das ruins. Aqui estão cinco lições sobre smartphones que os chineses podem ensinar aos ocidentais:

App para administrar a vida
Na China, um aplicativo de mensagens é muito mais do que uma forma de avisar alguém que você está atrasado. É uma rede social para se conectar com amigos e celebridades.

Mas não é apenas social. Ele acessa o GPS, o microfone e a câmera de seu telefone para permitir que você brinque com jogos, realize o check-in de voos, identifique uma canção, agende um compromisso, chame um táxi, pague contas e muito mais.

Serviços de mensagens como o WeChat vão muito além. Eles são um tipo de sistema operacional da sua vida, como observou recentemente Connie Chan, da empresa de capital de risco Andreessen-Horowitz. O WeChat hospeda milhões (sim, milhões) de outros aplicativos dentro de sua plataforma, para que você possa realmente viver a vida toda dentro do WeChat.

É conveniente ter tanta coisa em um único aplicativo, e a verificação de identidade que o WeChat fornece facilita o uso de serviços de pagamento.

A melhor parte? Todo mundo que importa em sua vida está na mesma plataforma de mensagens, algo que o Facebook poderia conseguir em outras regiões do mundo.

Os telefones são carteiras
Na China, é muito mais provável que a elite tecnológica pague por produtos e serviços com seus telefones porque o sistema é amplamente aceito e não requer que os comerciantes atualizem seus terminais antigos com uma tecnologia especial como o Apple Pay, da Apple Inc.

Aplicativos como o WeChat permitem que você use uma carteira móvel (vinculada a uma conta bancária ou a um cartão de crédito) para fazer pagamentos, sem a necessidade de passar seu telefone sobre um dispositivo. Apenas abra a conta do comerciante ou prestador de serviços que você quer pagar, milhões dos quais também estão dentro do WeChat. O equivalente a isso nos EUA seria pagar o jantar com o Messenger do Facebook (um serviço que é bem provável que esteja nos planos do Facebook, já que ele contratou no ano passado um executivo do PayPal para tocar a divisão).

Um telefone novo todo ano
Na China, você não precisa esperar seu contrato terminar ou seu celular quebrar para trocá-lo. Amantes da tecnologia compram um telefone novo todo ano. Os dispositivos Android mais baratos da Xiaomi, Huawei e LeTV (frequentemente vendidos online e sem os orçamentos caros de marketing dos EUA), somados a serviços de telefonia móvel sem contrato, permitem que as pessoas sempre tenham a tecnologia mais recente – melhores telas, processadores e câmeras.

Sistema operacional melhor
Na China, você também não precisa esperar pelo software mais recente.

No Ocidente, atualizações de telefones Android, como o Samsung Galaxy, costumam ser complicadas porque o fabricante tem que oferecê-las primeiro para as operadoras. Na China, a Xiaomi, uma potente rival da Samsung, salta a operadora e oferece atualizações gratuitas aos usuários de seu modelo MIUI Android até uma vez por semana. Fãs ávidos se inscrevem para ter acesso a essas atualizações frequentes de software beta que eles alegremente testam para a Xiaomi.

O sistema da Xiaomi permite que superfãs colaborem dando ideias para melhorias. Dá para imaginar a Apple consultando seus consumidores sobre formas de melhorar o iPhone?

Os telefones são TVs
Na China, os telefones não são cidadãos de segunda classe quando se trata de assistir a programas de TV e filmes.

Na maior parte das vezes, os melhores programas estão disponíveis para streaming on-line. Os desafios históricos da China em relação à proteção da propriedade intelectual ajudaram o mercado a inventar novos modelos de negócios para a mídia. Serviços como Youku Tudou, iQiyi e Tencent Video convenceram muitos donos de conteúdo que são vítimas de pirataria a se unir, em vez de lutar contra, à demanda por vídeos on-line, tornando esses vídeos legítimos e recebendo dinheiro por isso através de anúncios ligados ao vídeo. Há a opção de pagar para assistir sem os anúncios publicitários.

Os chineses podem legalmente assistir aos mais recentes episódios de “Game of Thrones”de graça num site de vídeos da Tencent, embora os censores tornem o conteúdo muito menos emocionante que o visto na HBO pelo resto do mundo.

Lá, os serviços de vídeo on-line já estão até produzindo programas de realidade virtual de 360 graus especialmente para dispositivos móveis. Deste lado do mundo, não há nenhuma expectativa de que o Netflix produza uma versão de realidade virtual de “House of Cards” em breve.

Comentários estão desabilitados para essa publicação