Partido aliado de Merkel tem vitória com aparência de derrota

Poucas vezes uma vitória eleitoral teve a aparência de uma derrota humilhante. A União Social Cristã (CSU), partido conservador aliado da União Democrata-Cristã (CDU) da premiê Angela Merkel, venceu as eleições ontem no Estado da Baviera, sul da Alemanha. No entanto, com 37% dos votos (segundo boca de urna), a CSU obteve seu pior resultado desde 1950.
O resultado da eleição na Baviera pode reverberar em toda a política alemã e europeia, não só por causa da grande perda de apoio à CSU. Tão impressionante quanto isso é o aumento do apoio ao Partido Verde, que conquistou 18%, e ao populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que teve 10%. Eleitores abandonaram os social-democratas (SPD), tradicional partido de centro-esquerda, como mostrou artigo do Financial Times, assinado por Tony Barber.
A eleição mostra como o cenário político da Alemanha passa pelo realinhamento mais importante desde o restabelecimento da democracia pós-Segunda Guerra. Esse realinhamento está fragmentando o cenário de tal maneira que a formação de coligações no âmbito nacional será uma tarefa árdua.
Processos parecidos são visíveis na Holanda, Espanha, Suécia e outras democracias. Essas mudanças ameaçam tornar ainda mais difícil buscar projetos comuns para a reforma da União Europeia (UE) e a integração da zona do euro.
Na Alemanha, CDU/CSU e SPD, partidos dominantes nos últimos 70 anos, estão perdendo apoio. Em Berlim, eles regem uma “grande coalizão” nacional. Mas nas eleições de setembro de 2017 para o Parlamento, cada partido obteve o pior resultado desde a criação da República Federal em 1949.
Um ano atrás, esses partidos conquistaram 53,4% dos votos. Na semana passada, segundo pesquisa da ARD- DeutschlandTrend, esse número caiu para 41% – 26% para o CDU/CSU e 15% para o SPD.
Ao longo do último ano, as forças mais dinâmicas do cenário político alemão têm sido o Partido Verde e a AfD. Dificilmente eles poderiam ser mais diferentes um do outro: os Verdes defendem a integração europeia, as fronteiras abertas e o liberalismo tolerante. A AfD critica a União Europeia e é hostil à integração e ao Islã.
Mesmo assim, os dois partidos se beneficiam da percepção de milhões de eleitores alemães de que a CDU/CSU e o SPD, que formaram três dos quatro últimos governos, são cada vez mais parecidos uns com os outros. A AfD é hoje o segundo partido mais forte nos cinco Estados que faziam parte da ex-Alemanha Oriental. Em dois deles, Brandenburgo e Saxônia, a AfD pode vencer as eleições locais marcadas para setembro de 2019.
Ao mesmo tempo, os Verdes desafiam a SPD como o partido mais forte do lado centro-esquerda progressista do espectro. Os Verdes já são a parte dominante do governo de coalizão que governa Baden-Württemberg, que assim como a Baviera é um Estado próspero e economicamente vigoroso.
O resultado de ontem poderá fortalecer Merkel no curto prazo ao fazer da CSU um parceiro menos indisciplinado em
Berlim do que foi sob Horst Seehofer, ministro do Interior e (por enquanto) líder da CSU. Mas a impaciência da CSU com
Merkel, especialmente em relação às políticas para refugiados, vai além de Seehofer.
Além disso, a CDU parece prestes a sofrer um revés quando o Estado de Hesse for para as urnas em 28 de outubro. Merkel não deve deixar o cargo de premiê no curto prazo. Mas sua autoridade vem sendo drenada sob o impacto do realinhamento político que parece irreversível.
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