O carro elétrico encanta, mas ainda depende de infraestrutura

É difícil não encantar-se com o carro elétrico quando se está a bordo de um, seja ao volante ou no banco do passageiro. Transitar num veículo que não faz barulho nenhum tende a se transformar em algo corriqueiro no futuro. Mas, por enquanto, a novidade surpreende. O conforto de um carro que desliza pelo asfalto com suavidade, sem os sobressaltos das marchas, é inquestionável. Mas a recarga das baterias no Brasil ainda é um problema. Além da falta de infraestrutura nas ruas nem sempre a tomada certa está ao seu alcance.
Se você comprar um automóvel movido a eletricidade certamente encontrará alguns inimigos pelo caminho. Como Marcelo, dono de oficina em um bairro em São Caetano do Sul (SP). O mecânico analisou o BMW i3 com muita desconfiança. “Quem usa marcapasso não pode andar nisso aí, não”, diz. O risco de choque, acredita ele, é elevado, como mostrou matéria do Valor, assinada por Marli Olmos, publicada em 19/04
Não é à toa que o mecânico fala mal da novidade. No mundo dos elétricos não há pistões, bronzinas, óleo de motor… Não há graxa, enfim. Por isso, o mecânico de São Caetano fatalmente será uma das vítimas a perder emprego no dia em que carros movidos a motor de combustão fizerem parte do passado. O espaço sob o capô do elétrico serve simplesmente como porta-treco. As baterias do i3 ficam abaixo do porta-malas, na parte traseira.
Recarregar as baterias hoje, no Brasil, não é tão simples. O motorista pode frustrar-se ao chegar em casa com a pretensão de deixar o carro na tomada a noite toda, como se faz com o celular, até o dia seguinte. Primeiro, a quem mora em prédios, vale lembrar que nem sempre a tomada da garagem fica perto da sua vaga.
Em casos excepcionais, como nesse teste, vale até pedir ao vizinho da vaga da tomada emprestar seu espaço por uma noite. Mas de nada vai adiantar o esforço se a tomada não for aterrada. “Infelizmente esse é um problema; nem sempre há o costume de aterrar”, diz o gerente de projetos de marketing e mobilidade da BMW, Henrique Miranda.
Por questões de segurança se a tomada não for aterrada, o carro “não aceita” e não executa o carregamento. Pelo mesmo motivo o sistema também recusa determinados adaptadores. Mas se tudo der certo, numa tomada de 220v a bateria pode ser totalmente carregada em oito horas, o que dá, no i3, autonomia de 160 quilômetros.
Mas a boa notícia é que o carro tem um reservatório de gasolina para um pequeno motor que serve exclusivamente para carregar as baterias. Com mais esse dispositivo é possível rodar até 300 quilômetros, segundo o fabricante.
Para driblar o problema com tomadas, a BMW criou um equipamento específico para carregar baterias, chamado “wallbox”. Quem comprar o carro, que custa R$ 159,9 mil na versão de entrada, pode levar o “wallbox” por mais R$ 8,6 mil. Na fase experimental no Brasil, a montadora alemã espalhou essas caixas de recarga em alguns shoppings, lojas do Pão de Açúcar e postos Ipiranga.
É uma opção interessante. Mas, quem não tem o próprio wallbox e resolve recorrer aos postos que oferecem o serviço gratuitamente, é bom lembrar que vai precisar de algum tempo mesmo para uma recarga rápida. Como no Pão de Açúcar o local do estacionamento, onde está o wallbox, só é gratuito mediante compras, você vai precisar gastar tempo e dinheiro enquanto espera pelo carregamento.
Ao chegar no trabalho, um prédio mais novo, um alívio: foi fácil encontrar uma tomada 220 aterrada. Estava no espaço do serviço de lavagem a seco de carros. Ali o carro ficou durante o expediente por cortesia dos lavadores, que emprestaram a tomada que habitualmente usam para ligar o aspirador de pó. Fomo salvos pela novidade.
Apesar de lançado no Brasil há mais de dois anos, apenas 171 BMW i3 rodam no país. Ávidos por conhecer o carro, os rapazes do lava-rápido oferecem a tomada com alegria. Certamente a cordialidade não seria a mesma se todos os condôminos tivessem carros elétricos. Como será, no futuro, a partilha da conta de energia?

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