Nova geração de baterias pode destravar venda de carro elétrico

O medo diminuiu. O temor de a bateria acabar não foi impedimento ao mercado de smartphones. Mas tem prejudicado os carros elétricos. Agora, porém, alguns fabricantes de automóveis estão cada vez mais confiantes que seus veículos elétricos estão perto de superar a odiada “limitação de autonomia”.

“As baterias estão avançando muito, muito rapidamente”, diz Vincent Carré, diretor de vendas e marketing de carros elétricos da Renault, cujos modelos elétricos incluem o Zoe, um veículo compacto com uma autonomia de cerca de 270 quilômetros.

“Tudo o que chamamos de ‘medo de ficar na estrada’ já é passado, porque sabemos que dentro de poucos anos vamos dobrar a autonomia de percurso dos carros, e depois disso, até 2020 acrescentaremos outros 30% ou 40% [a mais autonomia]”, afirmou o executivo.

Isso implica, para a Renault, uma autonomia de rodagem média superior a 420 quilômetros, limiar geralmente aceito em que os veículos elétricos passarão a ser um mercado de massa viável, como mostrou matéria do Financial Times, assinada por Andy Sharman, publicada no Valor de 17/06, pg B2.

Analistas dizem que toda essa conversa sobre superação da autonomia é prematura, e ressaltam que o custo elevado das baterias está mantendo os carros elétricos como produtos de nicho. Mas algumas montadoras estão otimistas.

“Nos bastidores, uma boa dose de progresso está sendo conseguida nessas tecnologias”, diz Dan Ammann, presidente da General Motors, que está trabalhando no desenvolvimento de um carro elétrico denominado Bolt, com autonomia de 420 quilômetros e que custará US$ 30 mil. Nesse valor estão computados benefícios como descontos ou incentivos tributários. O Bolt deverá ser lançado em 2017.

“Uma autonomia superior a 200 milhas por US$ 30 mil é algo realmente fácil de explicar às pessoas”, diz Ammann. “Toda essa preocupação com autonomia de percurso… de repente, agora, virou, bem… ‘isso é acessível e atende exatamente às minhas necessidades'”, completa.

Na Europa, pelo menos, as vendas de carros elétricos estão começando a avançar, embora paralelamente as tecnologias alternativas também anunciadas como não agressivas ao ambiente. Espera-se que veículos elétricos, híbridos e com células de combustível a hidrogênio, deverão registrar um aumento de 30%, para 360 mil unidades, em suas vendas na Europa em 2015, de acordo com a LMC Automotive, firma especializada em análise de tendências.

Na verdade, essa demanda está partindo de uma base baixa – 360 mil veículos equivalem a 2,5% de todas as vendas de automóveis europeus. E algumas serão devidas à crescente popularidade de modelos híbridos, dotados de motores elétricos suplementados por motores a gasolina [que geram eletricidade] para amenizar as preocupações com limitações de autonomia.

Os números para a Europa como um todo também mascararam amplas variações. Na Noruega, por exemplo, veículos elétricos e híbridos foram responsáveis por um terço do total das vendas de automóveis no primeiro trimestre de 2015, segundo a IHS Automotive. Isso se deve às elevadas tarifas de importação sobre veículos a gasolina.

Na Alemanha, em contraste, somente 25 mil veículos elétricos estão, até agora, rodando nas vias expressas, apesar da meta governamental de venda de um milhão de carros com baterias recarregáveis até 2020.
Assim como os consumidores têm relutado em adotar veículos elétricos, que ainda estão bem abaixo de 1% do total de vendas na maioria das economias desenvolvidas, algumas montadoras estão igualmente cautelosas.

A Toyota e a Hyundai estão focadas na tecnologia de células de combustível a hidrogênio, enquanto outras, como a Ford, estão tentando melhorar seus motores a gasolina e diesel.

Os carros elétricos e híbridos ajudam os fabricantes a compensar o impacto de veículos utilitários esportivos pesados, ao empenharem-se em cumprir as rigorosas metas de economia de combustível impostas pelas autoridades regulamentadoras – que são computadas com base em sua família inteira de modelos.

Mas, devido aos custos elevados das baterias, poucas empresas ganham dinheiro com carros elétricos. “Honestamente, nós estamos com alguma dificuldade quanto ao modelo de negócios”, diz Olivier François, principal executivo da marca Fiat, que tem uma versão elétrica de seu carro compacto 500, vendido apenas na Califórnia.

Sergio Marchionne, executivo-chefe da Fiat Chrysler Automobiles, chegou a exortar os clientes a não comprar o 500e (o modelo elétrico) porque o grupo perdeu US$ 14 mil em cada venda.

Os fabricantes guardam segredo sobre o preço exato de suas baterias. Para reduzir custos, a Tesla, montadora californiana de carros elétricos, está construindo uma fábrica de baterias em Nevada, como parte de planos para produzir um veículo destinado ao mercado de massa denominado Model 3.

Ao atingir sua capacidade de produção em 2020, a fábrica das Tesla produzirá mais baterias de íons de lítio do que a produção mundial total atual.

Cosmin Laslau, analista na Lux Research, afirma que as compras de baterias por muitas das montadoras de automóveis foram negociadas a preços bem acima do nível ele considera necessário para a adoção de carros elétricos pelo mercado de massa.

Laslau estima que em 2012 a Ford estava pagando até US$ 650 por quilowatt-hora de capacidade de suas baterias. Quanto maior a capacidade, maior a autonomia potencial do carro.

A BYD, uma montadora chinesa, tem como meta um custo de bateria à razão de US$ 211/kWh, mas só em 2025, diz Laslau. A montadora da Califórnia, até lá, já deverá estar no patamar de US$ 172/kWh, ou seja, muito à frente de qualquer um dos seus rivais no mercado de massa.

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