Nos EUA, Zuckerberg adota agenda de presidenciável

Visitas a uma clínica para dependentes de opiáceos em Ohio, a uma escola de Rhode Island, a uma montadora perto de Detroit, um tour em uma reserva indígena em Montana e um jantar com refugiados somalis em Minneapolis.
A agenda que já inclui passagens por mais de 20 Estados desde janeiro poderia ser a de um candidato em campanha pela Casa Branca, mas é, oficialmente, parte do desafio autoimposto pelo fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, neste ano. A intensa programação e as postagens em sua rede exaltando cada parada deram início a rumores de uma candidatura de Zuckerberg, 33, à Presidência em 2020.
As especulações ganharam corpo com a contratação do estrategista-chefe da campanha de Hillary Clinton, Joel Benenson, para trabalhar na Iniciativa Chan Zuckerberg, fundação social tocada por ele e a mulher, Priscilla Chan, como mostrou artigo de Isabel Fleck, publicado na Folha de S. Paulo de 13/08.
Também integra a organização, criada em dezembro de 2015, David Plouffe, o guru de Barack Obama na vitoriosa campanha de 2008.
A meta de Zuckerberg para o ano é percorrer 30 dos 50 Estados do país para “escutar” os americanos —nada poderia se parecer mais com uma caravana política.
“A tecnologia e a globalização criaram muitos benefícios, mas para muita gente também tornaram a vida mais desafiadora. Precisamos achar uma forma de mudar o jogo para que funcione para todo mundo”, escreveu Zuckerberg ao justificar a turnê.
Algumas pesquisas para 2020 já incluem seu nome, como uma feita em julho pelo Public Policy Polling, ligado aos democratas, com 836 eleitores e margem de erro de 3,4%. Segundo o levantamento, se a eleição fosse hoje, Zuckerberg empataria com Trump com 40% dos votos.
“Neste momento, não há razão para Zuckerberg não concorrer. Ele é uma importante figura nos negócios e nas mídias sociais, e representa uma voz nova no cenário politico”, diz Julian Zelizer, professor da Universidade Princeton especialista em histórica política americana.
Apesar de não ser filiado a nenhum partido, Zuckerberg ressalta posições como o apoio à comunidade LGBT, aos refugiados e imigrantes e à produção de energia limpa.
Mesmo não sendo crítico constante de Trump, posiciona-se contra medidas como o decreto que vetava temporariamente a entrada de refugiados e de cidadãos de sete países de maioria muçulmana e a proibição de transgêneros nas Forças Armadas.
“Todos deveriam poder servir seu país, não importa quem sejam”, escreveu em seu perfil na rede. A mensagem teve 652 mil curtidas e 25.500 compartilhamentos.

FACEBOOK COMO ARMA
Hans Noel, cientista político da Universidade de Georgetown, vê “várias explicações inocentes” para os movimentos recentes do criador do Facebook, como tentar entender melhor como sua ferramenta influencia eleições.
Ele, contudo, considera que Zuckerberg tem vantagens sobre outros “outsiders” numa eventual campanha. “Ele controla uma plataforma crucial para notícias e, mesmo que não a manipule em benefício próprio, sabe usá-la. E tem acesso a toneladas de dados úteis.”
Dinheiro também não será problema, pois Zuckerberg é hoje o quinto homem mais rico do mundo, com US$ 72,6 bilhões, segundo a “Forbes”. Tampouco pesará contra sua imagem, calculada para passar a percepção de desapego.
Em 2016, ao justificar por que sempre usava a mesma camiseta cinza e jeans, Zuckerberg disse que não queria “gastar tempo com coisas frívolas”. Cada camiseta, feita sob medida pela grife italiana Brunello Cucinelli, contudo, custa cerca de R$ 1.200.
Para Noel, os democratas devem preferir outro nome em 2020. “Mas eles podem estar tão divididos quanto os republicanos em 2016, dando abertura para um ‘outsider’.”
Zelizer diz crer que um governo ruim de Donald Trump não necessariamente atrapalhe a eleição de outro novato. “Pode haver um desejo de eleger alguém com experiência. Mas [Ronald] Reagan foi visto como outsider, e acabou derrotando Jimmy Carter.”

Comentários estão desabilitados para essa publicação