Lançamento da Apple esquece iTunes

A decisão foi tomada sem comoções. Hoje a Apple lança um novo serviço de “streaming” de música na Worldwide Developers Conference. Assim, a companhia está, em larga medida, após 15 anos, deixando sua marca iTunes para trás.

O concorrente, criado pela Apple, que vai entrar em disputa com as pioneiras do “streaming” – como Spotify e o serviço de rádio Pandora – , será denominado simplesmente Apple Music. [Softwares de “streaming” permitem ouvir canções ou ver uma partida de futebol pela internet.]

Steve Jobs, o cofundador [da Apple], descreveu o iTunes como a mais precoce manifestação da “intersecção da tecnologia com as artes liberais”. Mas a partir de agora iTunes passará a ser apenas o nome da velha loja de downloads.

O lançamento de uma marca superabrangente no maior evento focado nos desenvolvedores promovido pela empresa indica a escala da ambição da Apple e a importância de seu mais recente empreendimento no setor de música.

À medida que declinam tanto os formatos físicos como os downloads típicos do iTunes, alguns artistas dizem-se preocupados com que os serviços de assinatura provedores de “tudo o que você conseguir digerir”, ao preço de US$ 10 por mês, não conseguirá compensar as perdas, como mostrou material do Financial Times, publciada pelo Valor em 8/06, g B6.

A existência de centenas de milhões de usuários de iPhones, cada um dos quais à distância de apenas um toque de seus dedos de assinar o novo serviço, torna a Apple possivelmente a melhor chance de a indústria fonográfica assegurar-se um crescimento sustentável. Acredita-se que o Apple Music virá pré-instalado quando os proprietários de iPhones atualizarem seu sistema operacional para passar a usar a versão mais recente. o Pandora

Mas os objetivos da empresa de tecnologia e suas parceiras não estão perfeitamente alinhados. Enquanto as gravadoras e os artistas estão buscando um salvador financeiro, a prioridade da Apple é usar conteúdo para vender hardware. “[A Apple] não precisa ganhar dinheiro com “streaming””, diz Mark Mulligan, analista na MIDia Research. Até mesmo um serviço de música espetacularmente bem-sucedido, faturando bilhões de dólares por ano, muito pouco representará em relação ao iPhone, que traz dezenas de bilhões a cada trimestre para a companhia.

Analistas da Piper Jaffray estimam que se a Apple igualar o número de assinantes do Spotify – um público de 15 milhões de pessoas -, isso adicionaria menos de 1% à previsão de receitas da empresa para 2016. Isso caracterizaria uma grande mudança, em comparação com os dias do iPod e do iTunes, quando tocadores de música portáteis galvanizaram uma recuperação na fabricante de computadores então em dificuldades.

A Apple vem trabalhando no serviço de “streaming” desde que adquiriu a Beats, no ano passado, por US$ 3 bilhões, e deverá conservar elementos do app da empresa fabricante de fones de ouvido, segundo fontes familiarizadas com seus planos. Um dos recursos que serão mantidos visa extrair o máximo de informações possível sobre os gostos musicais individuais dos usuários, ao pedir que eles selecionem seus gêneros e estilos musicais favoritos ao se inscreverem no serviço. A expectativa é de que essa personalização, e as recomendações de artistas ajudarão a superar a dificuldade de escolher o que ouvir numa biblioteca de milhões de faixas, algo que o Spotify tem tido dificuldades para conseguir.

A Apple desfrutará uma série de vantagens “inatas” em relação a outros participantes no mercado de “streaming”, diz Mulligan. “Podemos até mesmo caracterizá-las como vantagens injustas”, diz ele. “[A Apple] é dona do sistema de plataforma e de “streaming”… ela tem condições de investir muitas vezes mais do que o Spotify tem gasto [para licenciamento de música] sem impactar seu caixa”.

O Spotify não ficou indiferente. Apresentou versão renovada de seu app em maio, que passou a incorporar videoclipes e novas maneiras de descobrir músicas.

Competir nos terrenos de tecnologia e recursos será importante, porque tanto a Apple como o Spotify terão o mesmo preço: US$ 10 dólares mensais. A Apple chegou a considerar tarifa de US$ 8, mas ao menos um dos grandes selos fonográficos opuseram-se a um preço mais baixo, temendo que isso pudesse resultar em cortes de preços em toda a nascente indústria e minar o valor das músicas.

Diferentemente do Spotify, o novo serviço de “streaming” da Apple não terá uma opção de gratuidade. Iovine, ex- CEO da Beats que está no comando da Apple Music, é contra música gratuita. Mas a Apple oferecerá aos usuários três meses de acesso gratuito no momento em que eles contratarem o serviço. Apresentará também uma série de novos recursos para seu serviço de rádio iTunes, que está sendo reformulado por Ian Rogers, outro ex-executivo da Beats.

Esse novo serviço de rádio deverá competir com as transmissões tradicionais da BBC e com startups de mídia digital. O serviço terá maior ênfase na Europa, onde o Spotify e o Deezer estão mais bem estabelecidos, mas o Pandora não está disponível devido a restrições de licenciamento, segundo pessoas familiarizadas com os planos de marketing da Apple..

Os executivos de selos fonográficos também podem estar preocupados diante do lançamento da Apple Music, porque o sucesso dessa iniciativa poderá acelerar a extinção dos downloads, que geram margens mais elevadas do que o “streaming”.

Mulligan diz que no curto prazo o serviço de “streaming” poderá “canibalizar” ainda mais o faturamento dos downloads, que caiu cerca de 9% nos EUA em 2014, sob pressão de serviços como o Spotify, líder do mercado. “Dentro de um ano a 18 meses haverá um declínio perceptível nos downloads”. A Apple necessitará mais que duas vezes o número de assinantes que o Spotify acumulou em sete anos para gerar a mesma receita atual de downloads do iTunes, diz um especialista em música digital.

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