Japão semeia ‘startups’ agrícolas

Há alguns anos, o produtor de arroz Senichi Makino teve uma ideia para fortalecer seus negócios. Ele queria usar arroz integral para preparar uma mistura que imitasse o sabor e a textura da carne.

O problema era persuadir os bancos locais a liberar financiamento para que ele pudesse construir a fábrica. No Japão, os bancos ainda preferem fazer empréstimos para ativos reais, como terra, em vez de financiar apenas uma ideia brilhante. E em um lugar como Sabae – uma pequena cidade de interior na região central do Japão – é difícil achar um investidor de capital de risco, como mostrou matéria do The Wall Street Journal, assinada por Kosaku Narioka, publicada no Valor de 18/05.

Makino encontrou seu salvador em um fundo liderado pelo governo japonês e um banco nacional de agricultura. Ele colocou dinheiro suficiente no negócio para transmitir aos bancos confiança, e eles concordaram em emprestar cerca de US$ 4 milhões à nova empresa. “Eu pude começar esse negócio somente porque encontrei outros que estavam dispostos a compartilhar os riscos comigo”, diz Makino.

Por trás do fundo que o apoiou está um esforço do Japão em conter desafios sem precedentes no setor agrícola. O acordo da Parceria Transpacífico entre o Japão, os Estados Unidos e outros dez países pode abrir as portas para produtos estrangeiros mais baratos. Pressões no orçamento estão limitando a capacidade do governo de dar continuidade a antigos e generosos subsídios aos agricultores. E o envelhecimento das comunidades agrícolas requer novas ideias para impedir que os jovens continuem migrando para as cidades.

O fundo ajudou Makino a criar uma “startup” chamada Maisen Fine Food Co. Em fevereiro, sua fábrica entrou em operação e as vendas começaram no mês seguinte. As empresas de Makino atualmente empregam cerca de 30 pessoas no total e controlam a maior parte da cadeia de suprimentos, desde a plantação e a colheita do arroz em Sabae até os esforços de marketing para promover o produto em Tóquio.

Tradicionalmente, a ajuda do governo para a agricultura têm consistido principalmente em subsídios e apoio aos preços. Juntos, eles representam aproximadamente metade da receita dos agricultores, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. A OCDE, entidade com sede em Paris que reúne países desenvolvidos, afirma que o Japão está entre os integrantes do grupo que mais apoiam práticas agrícolas anticompetitivas.

O novo programa ainda envolve apoio do governo. Mas Yasufumi Miwa, do Instituto de Pesquisa do Japão, um centro de estudos, diz que há uma mudança na forma de pensar, porque o dinheiro dos contribuintes vai para projetos selecionados nos moldes do capital de risco, e não é concedido para todo mundo.

O outro grande investidor do fundo por trás da Maisen Fine Food é o Norinchukin Bank, instituição com sede em Tóquio com 64 trilhões de ienes (US$ 590 bilhões) em carteira, recursos esses que têm origem nas cooperativas agrícolas do país.

O banco Norinchukin normalmente investe seus ativos em títulos de dívida com classificação de risco segura. Mas ele tem ampliado os investimentos em participações de empresas para ajudar os agricultores a encontrar novas fontes de renda.

Isso é parte de uma tendência mais ampla entre os gigantes do setor financeiro japonês, que estão lidando com rendimentos negativos na maioria dos títulos do governo devido à política de juros abaixo de zero do Banco do Japão, o banco central do país.

Até agora, os investimentos têm sido relativamente pequenos. O fundo que ajudou Makino pode investir até 10 bilhões de ienes (US$ 917 milhões) e colocou dinheiro em 11 empreendimentos. Ele investiu 30 milhões de ienes em uma empresa criada conjuntamente por um produtor de cebolinha de Kyoto e a fabricante de máquinas Iwatani Corp. para construir uma fábrica mais eficiente para o congelamento de vegetais.

Tudo somado, os fundos que contam com o apoio do governo nas áreas de agricultura, silvicultura e pesca já investiram em cerca de 90 empreendimentos desde que o programa teve início, há três anos.

Os bancos comerciais afirmam que também reconhecem a necessidade de estimular as startups do Japão. Koichi Miyata, diretor-presidente do Sumitomo Mitsui Financial Group Inc., diz que os bancos devem avaliar as startups com base em suas perspectivas de negócios, não apenas pelo montante de garantias colaterais que elas podem oferecer. “Precisamos mudar nossa mentalidade.”

Algumas startups do setor agrícola estão tentando se beneficiar da crescente popularidade dos alimentos japoneses no exterior. “Os alimentos são [características] únicas dos lugares [] Com a estratégia de marketing correta, podemos criar produtos pelos quais os consumidores estejam dispostos a pagar”, diz Shigeaki Koga, diretor de investimento da A-Five, a entidade governamental por trás dos investimentos agrícolas.

Makino, o produto de arroz que fundou a startup que desenvolveu um produto que imita a carne, diz que os investimentos de capital de risco de 50 milhões de ienes que a Maisen Fine Food recebeu – equivalente a metade do seu capital próprio – deu a ela a credibilidade de que precisava para conseguir um empréstimo de 400 milhões de ienes junto aos bancos com taxas de juros mais baixas do que as que a Maisen geralmente conseguia, de 1,5%.

A empresa tem poucos produtos, mas ela espera vendê-los a consumidores e restaurantes. Alguns parecem carne moída e finas fatias de carne. O objetivo é que eles sejam usados como ingredientes em pratos que costumam utilizar carne, como sopas e receitas a base de curry. Um restaurante próximo à fábrica de Makino usa o ingrediente para uma versão vegetariana de pato à Pequim. O movimento global em direção a alimentos sem glúten e vegetarianos pode estimular a demanda, diz ele.

A mulher do empreendedor e seus dois filhos também trabalham na Maisen. Ele diz que tinha uma missão e precisava assumir riscos. “E já que você tem que assumir riscos, é preferível assumir grandes riscos para alcançar grandes resultados.”

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