IBM leva Watson, de inteligência artificial, para ‘nuvem’ de rivais

“Quantos de vocês pegaram fila para entrar? Eu não sei se peço desculpas ou se agradeço a vocês”, disse Virgina Rometty, presidente mundial da IBM, à plateia que lotava o centro de convenções Moscone, em San Francisco. “Passei aqui em frente e vi que a fila se estendia por vários quarteirões. Pensei ‘isso é o mais próximo que vou chegar do que deve ser o lançamento de um iPhone'”, brincou Ginni, como a executiva é mais conhecida, ontem, durante palestra no evento anual da companhia, que vai até o fim da semana.
É a primeira vez que o encontro, para o qual são esperadas mais de 25 mil
pessoas, ocorre em San Francisco. A decisão de transferir o evento de Las
Vegas para a Califórnia tem um peso simbólico para a “Big Blue”. A IBM vem
tentando ser vista como uma empresa tão rápida e cheia de novidades quanto as companhias nascidas no Vale do Silício, o maior polo de inovação dos Estados Unidos.
Ontem, a IBM anunciou que seu sistema de inteligência artificial, o Watson – um de seus maiores focos de investimento nos últimos anos – poderá ser usado a partir dos serviços de nuvem de qualquer um de seus principais competidores, como Amazon, Microsoft e Google. “Será a inteligência artificial para negócios mais aberta e escalável do mundo”, disse Ginni.
Ter suas tecnologias funcionando dentro dos concorrentes é uma estratégia que vem sendo adotada pela executiva desde que a empresa decidiu reforçar os esforços para entrar no mundo da computação, há cerca de cinco anos.
Em um mercado dominado pela AWS, braço de serviços de tecnologia da Amazon, a IBM decidiu explorar o conceito de atuação com múltiplos fornecedores, em vez de tentar convencer o cliente a comprar tudo apenas dela.
Segundo Ginni, as empresas usam, atualmente, de 5 a 15 nuvens de fornecedores diferentes. “O destino é ser híbrido”, disse. Entre os anúncios feitos ontem, a IBM apresentou diversas ferramentas que podem ser contratadas pelas empresas para gerenciar, a partir de um único local, todos esses sistemas.
Para reforçar esse posicionamento, a IBM anunciou, no fim do ano passado, a compra da Red Hat, um dos principais nomes no mundo do código aberto, como são conhecidos os sistemas que podem ser modificados por qualquer programador e usados sem o pagamento de licenças de uso.
O conceito, que ganhou força nos anos 90, consolidou-se mais recentemente como uma das principais molas de crescimento das empresas de internet por reduzir custos e tornar mais ágil a criação de produtos e serviços. Como boa parte dos códigos já estão criados e foram compartilhados, o trabalho passa a ser “colar” as diferentes partes, em vez de desenvolver tudo do zero.
A operação de US$ 34 bilhões aguarda aprovação de órgãos reguladores em diversas partes do mundo. A expectativa é que a aquisição seja concluída no segundo semestre.
No evento deste ano, a Red Hat ocupa um papel de destaque. O logotipo da empresa está espalhado por todo lado e o presidente mundial da companhia, Jim Whitehurst, subiu ao palco com Ginni. Desta vez, porém, ele não calçava os sapatos vermelhos no tom da Red Hat tradicionalmente usados em aparições públicas.
Ginni reforçou diversas vezes a ideia de que tudo que ocorreu até agora no mundo da computação em nuvem foi só o primeiro capítulo da história. Disse que apenas 20% dos sistemas das companhias foram migrados para a nuvem, principalmente os sistemas periféricos e de atendimento a clientes. O grande desafio vem agora, afirmou a executiva, quando as empresas terão de
levar os 80% restantes para modelo de nuvem, incluindo seus sistemas vitais.
Desde que Ginni assumiu o comando, sete anos atrás, a IBM tem investido para se posicionar bem em um tabuleiro marcado por inovações como computação em nuvem, inteligência artificial, blockchain, análise de dados e sistemas avançados de segurança. Agora, os resultados desse direcionamento começam a aparecer, marcando uma fase mais madura.
Em 2018, a companhia apresentou crescimento anual de receita e lucro. Foram US$ 79,59 bilhões em vendas, um avanço de 0,57%, que pôs fim a uma sequência de seis anos de recuo. O lucro cresceu 51,49% e atingiu US$ 8,72 bilhões, depois de três anos consecutivos de queda.
O desempenho melhorou um pouco a percepção dos investidores em relação às perspectivas de crescimento futuro da “Big Blue”. Neste ano, as ações da companhia acumulam alta de 18%, cotados na faixa de US$ 130, e caminham para a máxima das últimas 52 semanas, de US$ 162,11.
Apesar disso, a confiança na capacidade da companhia de manter a tendência e acelerar o crescimento não é unanimidade entre analistas. A IBM já confirmou a edição do evento de 2020 em San Francisco e negocia outras edições. Cabe a Ginni a tarefa de guiar a companhia sob uma rota que continue a provocar filas na porta do auditório.

https://www.valor.com.br/empresas/6117861/ibm-leva-watson-de-inteligencia-artificial-para-nuvem-de-rivais#

Comentários estão desabilitados para essa publicação