Grandes empresários abandonam Trump

Antes de sofrer uma humilhação maior, Donald Trump decidiu interromper a sangria de grandes empresários que abandonaram os órgãos consultivos que criou. O presidente norte-americano dissolveu dois conselhos que estavam à beira do colapso com a debandada de empresários em protesto contra a tímida resposta do republicano aos distúrbios racistas do fim de semana em Charlottesville (Virginia). Trump, que prometeu levar à Casa Branca seu talento nos negócios, já estava isolado politicamente e agora o está também empresarialmente.
Os conselhos econômicos têm principalmente uma função cerimonial que permite que os executivos tenham uma interlocução com a Casa Branca. Com suas reuniões com altos executivos, Trump tentou projetar a imagem do presidente empresário que traz empregos para os Estados Unidos. A economia é o principal trunfo do republicano nas pesquisas e ele se atribui o bom comportamento dos mercados de trabalho e de ações. Mas os conselhos consultivos acabaram naufragando pela premente polarização despertada pelo magnata do setor imobiliário. Sua reação inicial às deserções foi fazer frente aos empresários e humilhá-los publicamente, como mostrou matéria do El Pais Edição Brasil, de Sandro Pozzi, de 16/08.
“Em vez de pressionar os empresários do conselho industrial e o fórum de estratégia e política, estou acabando com ambos. Obrigado a todos”, anunciou Trump no Twitter.
A mensagem do presidente dava a entender que a iniciativa fora sua. Mas os membros do fórum explicaram em um comunicado posterior que o debate dos últimos dias sobre sua participação nesses grupos estava se tornando uma “distração” nas discussões que têm com a Casa Branca para estimular a economia e o emprego. Para eles, tornou-se impossível defender diante de seus empregados e clientes a retórica de confronto do presidente. Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase; Mary Barra, da General Motors, e Jeff Immelt, presidente da General Electric, consideram que a tarefa do presidente é “unir as pessoas”.
Pelo menos oito dos 28 executivos que compõem o conselho industrial tinham anunciado sua renúncia em protesto contra a reação frouxa de Trump à violência em Charlottesville, onde um neonazista matou uma manifestante antifascista em um atropelamento. E pouco antes do anúncio da dissolução de Trump, o segundo conselho, de assuntos estratégicos, estava prestes a sofrer a renúncia maciça de seus 19 membros.
As constantes incivilidades do presidente colocaram os empresários que o assessoravam diante de um grande dilema: o que é mais importante, ter proximidade com o homem mais poderoso do planeta e poder influenciar suas decisões ou ficar manchados por sua retórica? Como dizem em Wall Street, é um dos momentos mais difíceis para a “consciência” dos conselhos de administração na hora de proteger a imagem de suas marcas e evitar entrar na luta política.
Entre as empresas que assessoravam Trump estavam algumas das mais importantes do mundo, como Walmart, Boeing, Ford e Blackrock. Em uma mostra de crescente impaciência, o CEO do Walmart, a maior cadeia varejista do mundo e o maior empregador privado dos EUA, lamentou na terça-feira que o presidente tenha perdido “uma oportunidade crítica” para unificar o país. Em uma carta ao seu 1,5 milhão de empregados, Douglas McMillon pediu a Trump “clareza e coerência”.

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