Google reorganiza produtos de publicidade

De fala pausada e ar sereno, o indiano Sridhar Ramaswamy tem um perfil totalmente diferente do que se espera de um alto executivo de uma empresa de tecnologia do Vale do Silício. Mas por trás dos óculos de armação fina está um dos homens mais importantes do Google – e do mercado mundial de publicidade. Na companhia há 15 anos, ele é, há três, o responsável por todo desenvolvimento das tecnologias de publicidade digital da companhia, um negócio que movimenta mais de US$ 100 bilhões.
“O melhor elogio que eu já recebi no trabalho foi de um colega que estava mudando de área, dizendo que tinha orgulho de ter trabalhado em uma equipe na qual a voz mais importante era a mais baixa, não a mais alta”, disse Ramaswamy ao Valor em uma das raras ocasiões em que fez apresentações fora do Google e conversou com a imprensa.
O encontro ocorreu no escritório da companhia em um prédio no bairro de Chelsea, zona Sul de Manhattan. É neste local que está instalado um centro de demonstração de tecnologias para marcas e agências de publicidade batizado de BrandsLab pelo Google.
O motivo do encontro foi igualmente raro. Pela primeira vez em 18 anos, a companhia anunciou a mudança de nomes de seus principais produtos de publicidade. As seis marcas que existem atualmente serão unidas sob três grandes grupos, Google Ads (para criação de campanhas para os produtos do Google e de parceiros), Google Marketing Platform (que junta as tecnologias de marketing e análise de dados) e Google Ad manager (para que empresas de mídia gerenciem campanhas de publicidades), com a adição de alguns recursos novos, como o Campaign Manager, voltado a pequenas empresas que queiram anunciar no Google. O AdSense e o AdMob ficaram de fora das mudança, por enquanto.
O passo ocorre no momento em que anunciantes e agências “discutem a relação” com o Google e o Facebook, que respondem por cerca de 60% da publicidade digital global. O mercado cobra uma atuação mais decisiva para evitar a ligação de marcas com conteúdos ofensivos e, principalmente, mais transparência dos gigantes de tecnologia.
De acordo com Ramaswamy, as mudanças não estão relacionadas a eventos específicos e vêm sendo trabalhadas há cerca de três anos – justamente o período no qual ele está à frente da engenharia dos produtos. A decisão foi tomada para responder a uma demanda do mercado por mais simplicidade no uso das ferramentas oferecidas pela companhia.
Para Ramaswamy, a vida do Google não está tão ‘resolvida’ quanto parece, por isso a companhia precisa continuar se mexendo. “É um mercado competitivo; veja o que um certo varejista que fica ao norte [da Califórnia] está fazendo e as grandes aquisições recentes na área de tecnologia”, disse o executivo, referindo-se às ambições da Amazon no mundo da publicidade digital e à compra da AppNexus, de publicidade on-line, pela operadora AT&T por um valor estimado de US$ 1,6 bilhão.
Segundo Dan Taylor, diretor-geral de publicidade em anúncios como banners (os display ads) e programático do Google, a mudança nos nomes dos produtos não foi feita com objetivos financeiros específicos em mente. “Não temos uma projeção de novas receitas que queremos atingir, mas sabemos que se você aumenta a eficiência e as pessoa se sentem mais confortáveis, a tendência é que elas gastem mais”, disse o executivo ao Valor. De acordo com ele, os publicitários não terão que fazer nenhum tipo de treinamento específico para entender as mudanças feitas nos produtos, nem vão perder nenhum tipo de recurso. “Os fundamentos estão mantidos”, disse.
De acordo com a empresa de pesquisa Magna, que pertence ao grupo Interpublic, o meio digital vai representar 45% do mercado total de publicidade no mundo, com receita de US$ 250 bilhões em 2018, um crescimento de 15,6% na comparação com 2017. Os anúncios em dispositivos móveis, que há um ano representaram metade do mercado digital, passarão a responder por quase dois terços em 2018. A estimativa é que em 2020, a publicidade digital seja metade do mercado global de publicidade.

https://www.valor.com.br/empresas/5621721/google-reorganiza-produtos-de-publicidade#

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