Financial Times: Economia global mostra sinais de reação

Os mercados financeiros vêm subindo de forma consistente neste mês, sinalizando um crescente otimismo com relação à economia mundial, mesmo depois de o Fundo Monetário Internacional (FMI) tê-la descrito como “precária” há apenas algumas semanas.
Embora 2019 continue no rumo para ter o pior desempenho econômico mundial em dez anos – reflexo do aumento das tensões comerciais entre EUA e China e de seu impacto negativo sobre as exportações e a produção industrial -, os investidores acham que podem estar vendo os possíveis primeiros sinais indicando recuperação em 2020. E eles não querem perder a oportunidade dos potenciais ganhos nos mercados.
Parte disso não é surpresa. O FMI e outros especialistas preveem um 2020 melhor do que 2019. Os movimentos dos mercados nas últimas semanas, no entanto, levantam a questão se esse cenário, na verdade, não teria melhorado muito mais.
O entusiasmo dos investidores pode ser exagerado. Até agora, evidências sugerem que a desaceleração da economia mundial está de fato chegando ao fim, mas o
ritmo de recuperação provavelmente será bem lento.
Embora muitos mercados acionários estejam próximos a patamares recorde, investidores acreditam que as perspectivas para os lucros das empresas melhoraram significativamente desde o início do quarto trimestre. O rendimento dos títulos de dívida dos países ricos, um bom indicador do otimismo quanto à economia, sugere que os bancos centrais não vão precisar trabalhar muito para estimular o crescimento econômico e a inflação.
“À medida que 2019 se aproxima do fim, o mercado está levando em conta no preço [dos ativos] uma recuperação econômica, com as ações nos EUA atingindo novas máximas e os rendimentos [dos títulos] de longo prazo [subindo] bem acima das mínimas recentes”, disse Ric Deverell, economista do banco de investimento Macquarie.
Comércio global mostra sinais de estabilização – Grande parte dos temores em relação à economia global em outubro derivavam da possibilidade real de intensificação das guerras comerciais pelo mundo. No entanto, nos últimos 30 dias, as notícias têm sido mais do lado positivo.
A chance de um Brexit desordenado enquanto o Reino Unido se prepara para sair da União Europeia (UE) diminuiu bastante, depois de o premiê britânico, Boris Johnson, ter retirado suas objeções a uma fronteira alfandegária no Mar da Irlanda. As tensões entre EUA e China também se abrandaram e o presidente americano, Donald Trump, até agora não impôs tarifas sobre as importações de carros da Europa. Na semana passada esgotou-se o prazo estipulado por Trump para anunciar uma decisão sobre as tarifas automotivas.
Essas tendências se tornaram visíveis nos números do comércio global. O volume de bens comercializados no mundo cresceu em julho e agosto, meses mais recentes com dados disponíveis. Um dos componentes do índice mundial de atividade dos gerentes de compra do JP Morgan relativo a outubro – o componente de encomendas de exportação, que mostra os pedidos para serviços e bens – teve o maior aumento em quatro anos, ainda que a partir de uma base bem baixa, segundo números divulgados neste mês.
Previsões para o PIB de 2020 deixaram de cair – Embora a melhora na perspectiva para o comércio global tenha impulsionado os mercados financeiros, isso ainda não aparece nas projeções econômicas. As perspectivas de crescimento para 2020 deixaram de piorar, mas as revisões para cima continuam insignificantes, de acordo com dados da Consensus Economics, que faz uma média das projeções de importantes economistas independentes.
Depois de observar a “desaceleração da economia global” nos últimos 18 meses, Peter Hooper, chefe global de análises econômicas do Deutsche Bank, destacou que nas últimas semanas houve “sinais tímidos de descompressão” das tendências negativas.
Embora os sinais ainda sejam incipientes, alguns celebram o fim das previsões que eram cada vez piores. “Há sinais definitivos entre os indicadores de atividade mundial de que o pior da desaceleração ficou para trás”, disse Innes McFee, diretor- gerente de serviços para investidores e macroeconomia da consultoria Oxford Economics.
Produção industrial europeia supera expectativas – Embora muitos indicadores ainda continuem a apontar uma deterioração, incluindo o índice de confiança econômica futura da Comissão Europeia, agora há outras trazendo sinais mais positivos.
Índices de atividade industrial dos gerentes de compra (PMI) relativos a outubro, divulgados neste mês, melhoraram na maioria dos países do mundo, incluindo potências industriais, como Alemanha, EUA e Coreia do Sul.
Na Europa, os dados da produção industrial melhoraram nos últimos dois meses, interrompendo um período de forte contração. Até a Alemanha – país que vem sofrendo mais na região com a desaceleração do setor industrial – registrou crescimento acima do esperado nas exportações e nas encomendas de bens industriais em setembro.
A melhora no principal motor da zona do euro tem grande importância. “Os indicadores alemães têm alta correlação com a dinâmica do comércio global”, disse Katharina Utermöhl, economista sênior da seguradora Allianz.
Apesar dessas melhoras, a perspectiva ainda se mostra tímida. Em termos anuais, a produção industrial da zona do euro ainda está em contração. Em setembro, a produção industrial alemã caiu 5% em relação ao mesmo mês de 2018.
Cenário para o fim de ano ainda é incerto – A modesta melhora nos indicadores ainda não é evidência convincente de uma recuperação mundial generalizada. Os dados mensais continuam voláteis e muitos dos indicadores industriais mais positivos representam apenas pequenas partes da economia global.
Quando economistas inserem os dados para avaliação em um algoritmo de computador, por exemplo, o panorama parece não mudar muito. Segundo análise da Now-casting.com, uma firma de monitoramento macroeconômico, os dados recentes de diversas partes do mundo são inconclusivos e não indicam claramente uma melhora para o cenário do quarto trimestre deste ano. As melhoras na zona do euro são anuladas por dados mais fracos nos EUA, Canadá e Japão.
“Prevemos que o crescimento global se fortalecerá no decorrer de 2020, mas o ritmo de recuperação será fraco pelos padrões históricos”, disse Neil Shearing, economista-chefe da firma de consultoria Capital Economics. “A política [monetária] terá de continuar sendo acomodatícia”.
Ainda será preciso uma boa melhora nos dados para que os economistas se juntem aos mercados financeiros na crença de que o pior da desaceleração econômica global já acabou.
https://valor.globo.com/mundo/noticia/2019/11/21/economia-global-mostra-sinais-de-reacao.ghtml

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