Facebook terá espaço para startups no Brasil

Até o final do ano, o Facebook vai inaugurar em São Paulo o seu primeiro espaço dedicado a startups e à formação de empreendedores e desenvolvedores. Trata-se do primeiro centro do tipo mantido pela rede social, que hoje reúne mais de 2 bilhões de usuários, em todo o mundo. Chamado de Estação Hack, o espaço vai ocupar um andar de mil metros quadrados em um prédio na Avenida Paulista, junto ao espaço de trabalho compartilhado da WeWork, rede norte-americana de coworking, que chegou em julho ao Brasil.

O Facebook não revela quanto vai investir para criar e operar o espaço. Ele será operado quase que totalmente por parceiros — a lista de empresas inclui a WeWork, que vai cuidar da operação, e outras cinco instituições, que vão oferecer cursos no local. A obra foi iniciada nas últimas semanas e não foi possível estimar qual será o seu custo. Mas, segundo apurou o Estado, o Facebook deverá gastar pelo menos R$ 6,5 milhões para manter a estrutura por ano. O levantamento considera os gastos com o aluguel do andar, estações de trabalho, as 7,4 mil bolsas de estudo que serão oferecidas anualmente e um programa de aceleração de startups, como mostrou matéria do estado de 29/08.

“A missão do Facebook mudou recentemente e agora queremos ajudar a criar comunidades, inclusive na área de tecnologia”, afirmou o vice-presidente do Facebook para a América Latina, Diego Dzodan, em entrevista ao Estado. “A Estação Hack pode ter um impacto grande para jovens que se interessam por tecnologia, mas não têm recursos para pagar um treinamento. É também uma forma de devolver algo para o Brasil, que é um dos nossos mercados mais relevantes.” Hoje, o Brasil é um dos cinco maiores países na rede social, com 117 milhões de usuários ativos por mês.

A Estação Hack terá infraestrutura com três salas de aula, com 40 lugares cada. Entre os treinamentos disponíveis estarão cursos de desenvolvimento de aplicativos, em parceria com escolas de programação, como MadCode e Mastertech; workshops de planejamento de carreira e um acampamento de inovação para adolescentes, conduzidos pela Junior Achievement; cursos de administração de empresas, ministrados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP); e cursos presenciais do próprio Facebook sobre marketing digital.

Segundo o Facebook, cada parceiro será responsável por selecionar os candidatos para as vagas oferecidas em seus treinamentos. Eles vão priorizar a participação de adolescentes e jovens adultos com a faixa etária próxima ou pouco superior a 20 anos. Outro critério será a condição socioeconômica dos candidatos: os menos favorecidos terão prioridade.

“Eu vim de uma família de classe média baixa e o que mudou a minha vida foi o meu pai ter comprado um computador, quando eu tinha 17 anos”, conta Dzodan, que está à frente da operação do Facebook na América Latina desde junho de 2015. “O que eu aprendi com esse computador, me ajudou muito na minha carreira. Eu não estaria aqui se não fosse o que eu aprendi com ele.”

Aceleração. Apesar do foco maior em capacitação, o centro também incluirá uma área com 52 estações de trabalho, que serão ocupadas por equipes de startups selecionadas para participar de um programa de aceleração oferecido pela Artemisia, organização sem fins lucrativos dedicada a impulsionar negócios de impacto social. No programa de aceleração, além da infraestrutura para operar, os empreendedores terão orientação sobre como refinar o modelo de negócio da startup e conseguir investimento.

A Estação Hack representa mais um espaço para fomentar startups em São Paulo. Hoje, a capital paulista têm o principal ecossistema de inovação na América Latina, com pelo menos 1,6 mil empresas em estágio inicial, de acordo com o relatório Global Startup Ecosystem 2017, divulgado pela Startup Genome, uma rede colaborativa que gera análises e estudos periódicos sobre os principais centros de inovação no mundo.

A Estação Hack não é o primeiro espaço do tipo na cidade. Hoje, os empreendedores já contam com centros como o Cubo, criado em setembro de 2015 pelo Itaú, em parceria com o fundo de venture capital Redpoint eVentures. Na semana passada, as duas empresas anunciaram que o Cubo vai se mudar para um espaço quatro vezes maior, o que vai permitir que o espaço abrigue mais de 200 startups. Outros grandes bancos, como Bradesco e Banco do Brasil, também planejam espaços similares.

Em junho do ano passado o gigante das buscas Google também criou o seu próprio espaço, chamado de Google Campus, que acelera dez startups por semestre no local — em estratégia similar à que será adotada pelo Facebook na Estação Hack. O espaço também serve de ponto de encontro para a comunidade de empreendedores.

“Nosso foco em capacitação e em startups que trazem valor para a comunidade serão os principais diferenciais da Estação Hack em relação aos outros espaços”, afirma Dzodan. Segundo o executivo, o Facebook não tem a intenção de investir diretamente em startups selecionadas para o programa de aceleração da Estação Hack.

Criar um centro para startups e empreendedores não beneficia somente o ecossistema local, mas pode ajudar o próprio Facebook. “Eles dizem que são startups, mas já são uma grande corporação”, analisa Maria Rita Spina, diretora executiva da Anjos do Brasil, entidade que fomenta o investimento-anjo em startups. “Essa cooperação pode ser benéfica para essas grandes empresas manterem suas características de startup.”

Para o fundador da aceleradora de startups Startup Farm, Felipe Matos, o Facebook chega atrasado em relação a outras empresas que criaram espaços similares em São Paulo. “Com mais empresas se interessando em investir em espaços assim”, diz Matos, “será preciso pensar se esse modelo continuará fazendo sentido.” Por outro lado, o foco em capacitação diferencia a iniciativa do Facebook e pode ajudar o País. “A falta de engenheiros é histórica no Brasil e as startups estão demandando muita gente capacitada”, diz Matos.

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