Facebook enfrenta uma séria crise de credibilidade, com o impacto financeiro que levou à perda de US$ 36 bilhões no valor de mercado da empresa, com a queda das ações na Nasdaq. Os papéis fecharam o pregão, ontem, com preço de US$ 172,56, o equivalente a um recuo de 6,77% em relação a sexta-feira. Com o desempenho, o valor de mercado da empresa ficou em US$ 501,3 bilhões.
A crise foi deflagrada depois que um ex-funcionário da companhia britânica de pesquisa Cambridge Analytica (CA) disse aos jornais ” The New York Times ” e ” The Observer ” e ao canal de TV ” Channel 4 ” que dados de 50 milhões de perfis da rede social foram coletados sem que os usuários tivessem total conhecimento do que estava acontecendo, como mostrou matéria do Valor de 20/03.
A rede social ficou sob fogo cruzado depois que veio a público que a Cambridge Analytica, ligada à campanha de Donald Trump em 2016, manteve dados dos usuários do Facebook sem autorização. Por meio de um aplicativo, os usuários eram convidados a responder perguntas que traçariam o seu perfil digital. Ao aceitar participar, os usuários davam acesso não só aos seus dados pessoais, como também aos de seus amigos.
De acordo com o ex-funcionário da Cambridge, menos de 300 mil pessoas participaram da pesquisa, mas o efeito de rede fez o volume de dados coletados extrapolar e chegar a 50 milhões.
Autoridades da União Europeia (UE) afirmaram ontem que investigarão como o Facebook lida com dados de seus usuários. “Alegações sobre mau uso de dados de usuários do Facebook é uma violação inaceitável dos direitos de privacidade de nossos cidadãos. O Parlamento Europeu vai investigar profundamente, exigindo responsabilidade das plataformas digitais”, afirmou o presidente do Parlamento, Antonio Tajani, em sua conta no Twitter.
A comissária de Justiça da UE, Vera Jourová, afirmou que a notícia sobre o uso de dados pessoais para fins políticos é “apavorante, se confirmada” e disse esperar que “as empresas assumam mais responsabilidades quando estão lidando com dados pessoais”.
Nos EUA, o Facebook pode ter de enfrentar o escrutínio do Congresso sobre o suposto esquema de coleta de dados. Os líderes do Comitê de Comércio do Congresso estão “examinando este incidente de perto”, disse uma porta-voz. Alguns procuradores gerais do Estado também planejam investigar.
O brasileiro André Torretta, que no começo de 2017 fechou acordo com a Cambridge Analytica para trazer a empresa ao Brasil, encerrou esse acordo no fim de semana, conforme o Valor divulgou ontem. “Que outra opção eu tinha?”, disse Torretta ontem ao Valor. “Não dá para importar mais uma crise.”
O acordo entre as empresas era, segundo Torretta, apenas operacional, sem participação acionária da CA, possibilidade que poderia ser explorada no futuro. Torretta disse que recebeu da CA, na sexta-feira à noite, um e-mail pedindo que ele se preparasse para possíveis complicações nos dias seguintes, sem dar detalhes. No sábado, a notícia estava nos veículos de mídia. Procurado, o Facebook disse que a CA violou os termos de serviço da rede ao extrapolar os dados da pesquisa.
Torretta afirma que dados de brasileiros no Facebook não chegaram a ser coletados porque o acordo que tinha com a rede social não valia para o país. Ele disse que depois do acordo criou uma metodologia de segmentação voltada à realidade brasileira, com um volume de dados muito inferior ao dos EUA. Segundo ele, o produto é de propriedade de Torretta e de sua empresa, a Ponte, e continuará a ser usado em suas atividades.
