Facebook limita dados e mercado reage

O fato chamou a atenção. 
Meses atrás, o psicólogo social Benjamin Crosier estava construindo um aplicativo para procurar associações entre atividades nas redes sociais e doenças como a dependência de drogas.

Mas sua pesquisa teve que ser interrompida depois que o Facebook limitou, a terceiros, o acesso a informações de seus 1,5 bilhão de usuários. Crosier, um pós-doutorando da universidade Dartmouth, está solicitando à empresa para que volte a liberar os dados.

A experiência do acadêmico mostra como as restrições do Facebook sobre dados dos usuários, anunciadas no ano passado e em vigor desde maio, estão tendo efeitos em universidades, empresas e até na campanha presidencial dos Estados Unidos, como mostrou material do The Wall Street Journal, assinada por Deepa Seetharaman e Elizabeth Dwoskin, publicada no Valor de 23/09, pg B6

Dezenas de startups que usavam dados do Facebook fecharam as portas, foram compradas ou mudaram seus negócios. Consultores políticos correm para achar novas formas de acessar as conexões sociais dos eleitores antes da eleição presidencial de 2016.

“O Facebook dá e o Facebook tira”, diz Nick Soman, que coletava as localizações de amigos dos usuários do Facebook para melhorar seu aplicativo (app) de conversas anônimas Reveal. Ele vendeu o app ao serviço de música Rhapsody International. Soman diz que admira o Facebook, mas aprendeu a lição sobre confiar em uma outra empresa para obter um componente essencial de seu produto.

As novas regras refletem a mudança de atitude do Facebook sobre o uso de seus dados, considerados uma das fontes mais ricas de informação sobre as relações humanas. Em 2007, com grande animação, o fundador e presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, convidou pessoas de fora da rede a acessar o “gráfico social” do Facebook: listas de amigos, interesses e “curtidas” que uniam os usuários.

O Facebook mudou de curso depois que os usuários expressaram preocupação com o compartilhamento de seus dados com estranhos sem seu conhecimento.

As novas regras não “dificultam a construção de experiências sociais por desenvolvedores”, diz uma porta-voz do Facebook. As regras “simplesmente exigem que eles façam isso de forma a proteger mais a privacidade”.

Outras redes sociais, como o Linkedln e o Twitter, também passaram a restringir o acesso a seus dados nos últimos anos. Mas as mudanças no Facebook têm gerado mais controvérsias.

Sem uma janela para a rede de amigos, desenvolvedores de aplicativos e outras empresas perdem um canal essencial para o crescimento. Os usuários, por sua vez, podem achar que suas redes ficaram menos úteis para encontrar um emprego ou um namorado.

Para alguns, as restrições aos dados refletem o crescimento do Facebook como a maior rede social do mundo. Em 2007, o ano em que Zuckerberg liberou os dados da empresa, o Facebook tinha 58 milhões de usuários e gerava receita de US$ 153 milhões. Este ano, o Facebook deve gerar uma receita de US$ 17,2 bilhões; em agosto, a empresa informou que um bilhão de pessoas haviam usado a rede em um único dia.

“As empresas ficam abertas até conseguirem liquidez e usuários. Então, elas começam a controlar”, diz Chris Moore, sócio da Redpoint Ventures, uma firma de capital de risco que dá suporte para as empresas afetadas pelas mudanças de regras do Facebook e do Linkedln. “Eu estou ficando cada vez mais cético de que seja possível criar um negócio duradouro com base no acesso ao gráfico social produzido por outra empresa.”

Uma porta-voz do Facebook diz que as mudanças não foram motivadas por dinheiro, mas para dar mais controle aos usuários.

Os gerentes do aplicativo popular de namoro Tinder abordaram o Facebook sobre as mudanças logo depois de serem anunciadas, no ano passado, porque as restrições aos dados de amigos mútuos podem prejudicar os negócios do aplicativo. Em negociação que durou meses, as duas empresas chegaram a um acordo que permite que o Tinder acesse fotos e nomes de amigos em comum, nada mais.

As mudanças do Facebook selaram o destino do College Connect, um aplicativo (app) destinado a ajudar potenciais estudantes universitários a encontrar amigos que frequentam escolas ou tenham empregos que eles estejam considerando. O app não funciona sem um acesso amplo aos dados do Facebook, diz Nicole Ellison, professora da Universidade de Michigan e uma das criadoras do app.

O app de recrutamento Jobs with Friends também fechou. O fundador Chris Russel criou o aplicativo para conectar usuários com amigos, e amigos de amigos, que tenham interesses profissionais similares. O app ficou disponível por um ano antes da mudança das regras do Facebook.

Crosier, o pesquisador de Dartmouth que estuda dependência química, espera recuperar seu projeto pedindo ao Facebook oito tipos de dados, incluindo fotos dos usuários. Ele espera reconstruir a rede de amigos de um usuário vendo com quem ele se socializa através de suas fotos. Crosier diz que ele não será capaz de ver as imagens, mas apenas que um usuário foi “marcado” na rede e por quem.

A mudança de regras também barra uma ferramenta usada na campanha de reeleição do presidente Barack Obama em 2012. O app identificava potenciais eleitores de Obama entre os amigos de um usuário do Facebook. Ao usuário simpatizante era pedido, então, que incentivasse o amigo a votar, possivelmente enviando-lhe uma mensagem ou um vídeo sobre o recenseamento eleitoral. Os eleitores que eram alvos do app foram cinco vezes mais propensos a clicar em material que veio de um amigo próximo que em uma conexão do Facebook enviada aleatoriamente.

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