Fabricante dos iPhones vira ‘banco’

A dependência assustou. A Foxconn Technology Group não quer apenas fabricar iPhones. Ela também quer ser o banco das cadeias de suprimentos de eletrônicos no mundo.

Nos últimos 12 meses, a maior fabricante terceirizada de eletrônicos da Apple montou discretamente seis empresas de serviços financeiros na China que passaram a oferecer empréstimos e outros financiamentos a fornecedores de componentes eletrônicos, como mostrou matéria do The Wall Street Journal, asinada por Eva Dou e Gillian Wong, publicada pelo Valor, edição de 20/11, pg B9

A Foxconn, empresa de Taiwan cujo nome oficial é Hon Hai Precision Industry Co., pretende, dentro de dois anos, começar a juntar esses empréstimos em produtos financeiros e vendê-los diretamente a investidores, diz Jack Lee, diretor administrativo da unidade de negócios, a Foxconn Financial Service Platform, que tem escritórios em Pequim e Xangai.

“Esse é um nicho em que temos uma vantagem”, disse Lee em entrevista ao The Wall Street Journal. “Conhecemos melhor do que ninguém a situação dos negócios dos fornecedores porque somos clientes deles.”

O financiamento de fornecedores faz parte das iniciativas da Foxconn para deixar de ser apenas um fabricante de aparelhos da Apple.

A fabricação por contrato é um negócio com margens de lucro brutalmente baixas. As tarifas de montagem representam menos de 1% do preço final de um iPhone ao consumidor, que na China custa mais de US$ 800, segundo analistas. Metade da receita da Foxconn vem da Apple, mas a fabricante vem tentando diversificar-se para negócios de margem mais alta, incluindo fabricação de componentes, comércio eletrônico, robótica e serviços financeiros.

Com as novas iniciativas, a Foxconn se junta a uma série de empresas de tecnologia que apostam que podem fazer um trabalho melhor do que as instituições financeiras estatais nos serviços às empresas e consumidores da China.

As gigantes chinesas da internet estão numa corrida para oferecer serviços financeiros on-line como fundos do mercado monetário, crédito ao consumidor e pequenos empréstimos, num esforço para atrair mais usuários. Essas empresas de internet afirmam que os dados que coletam de centenas de milhões de dispositivos móveis – incluindo localização, uso de serviços locais e transações de comércio eletrônico – podem ajudá-las a avaliar a qualidade de crédito dos tomadores de empréstimo.

O Alibaba Group Holding Ltd., titã do comércio eletrônico da China, já oferece serviços financeiros e bancários na internet através da sua filial financeira. A empresa de redes sociais e jogos Tencent Holdings Ltd., por sua vez, já fez incursões nos setor de serviços financeiros e bancários on-line. Mas seus bancos exclusivamente on-line têm sido, de certa forma, reprimidos por regras que proíbem usuários de abrir contas bancárias à distância. Isso limita a capacidade desses bancos de coletar depósitos e realizar outros serviços.

O Baidu Inc., empresa de buscas na internet, planeja fazer uma aliança com o banco estatal China Citic Bank Corp. para criar um banco direto (sem agências) que ofereceria empréstimos e produtos de investimento on-line, diz uma pessoa a par das negociações. As empresas ainda têm de apresentar uma solicitação ao regulador bancário da China para obter a licença necessária à criação do tal banco, acrescenta a fonte.

Para a Foxconn, que mantém a maioria de suas operações de manufatura na China, ter como alvo o nicho de fornecedores de eletrônicos, em vez do mercado consumidor mais amplo cobiçado pelas empresas de internet, faz mais sentido. Como maior fabricante terceirizada de eletrônicos do mundo e maior exportador da China, a Foxconn tem vínculos com a maior parte da cadeia global de suprimentos para o setor de aparelhos eletrônicos.

Lee disse que a unidade de serviços financeiros da Foxconn já fez mais de um bilhão de yuans (US$ 157 milhões) em transações desde que foi criada, cerca de um ano atrás, e tem em torno de meio bilhão de yuans em financiamentos vigentes. Segundo ele, a empresa já concedeu financiamentos para mais de 100 fornecedores de componentes até agora.

Os empréstimos da unidade hoje são inteiramente financiados pela Foxconn, mas Lee disse que espera trazer outros investidores estratégicos para o negócio nos próximos anos, por meio de uma oferta pública inicial de ações dentro de cinco anos. A Foxconn obteve licenças comerciais de governos locais na China para fornecer empréstimos, desconto de recebíveis, garantias financeiras e locação de equipamentos.

“Estamos começando com o financiamento de nossos próprios fornecedores, mas nosso objetivo é expandir para outras partes da cadeia de suprimento”, disse Lee.

Lee disse esperar que, dentro de dois anos, a unidade seja capaz de oferecer produtos financeiros diretamente para os consumidores.

Além disso, Foxconn está criando um fundo de private equity de 300 milhões de yuans para investir em “startups” chinesas, disse ele.

Tzyy Loon Ng, analista da provedora de dados financeiros S&P Capital IQ, diz que a Foxconn está se expandindo em áreas como o financiamento da cadeia de suprimentos para reduzir o seu risco de ser excessivamente dependente da Apple.

“Eles precisam se preparar para o dia em que as vendas da Apple diminuírem”, diz ele. “É melhor que eles comecem a se preparar cedo.”

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