Expansão global é a menor em uma década, diz a OCDE

A economia mundial deverá ter este ano o menor crescimento desde a crise financeira, com os investimentos das empresas e o comércio prejudicados por uma escalada na disputa entre os EUA e a China, que poderá provocar mais danos nos próximos anos. A afirmação foi feita ontem pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Segundo relatório sobre perspectiva econômica da OCDE divulgado ontem, a produção mundial de bens e serviços aumentará 2,9% neste ano, o menor avanço desde 2009, quando a economia mundial entrou em recessão pelo quase colapso do sistema financeiro.
A OCDE prevê que o crescimento continuará baixo em 2020, e a estimativa é de piora, se o conflito comercial entre EUA e China contaminar outros aspectos das relações econômicas entre os dois países. A OCDE observou que as subsidiárias de empresas americanas que operam na China têm vendas que superam as exportações totais dos EUA para a China.
“Nossa maior preocupação é que a queda do crescimento está se acentuando”, disse Laurence Boone, economista-chefe da OCDE.
Outra preocupação de Boone é a possibilidade de proliferação das disputas comerciais – com Japão e Coreia do Sul já envolvidos num conflito, e o presidente dos EUA, Donald Trump, prestes a decidir em novembro se prosseguirá com sobretaxas a automóveis que afetariam a União Europeia (UE).
A OCDE reduziu suas previsões para os EUA e várias economias em desenvolvimento. Ela agora acredita que o PIB americano crescerá 2,4% neste ano e 2% no ano que vem, ante previsão de maio de crescimento de 2,8% e 2,3%. A organização fez cortes maiores nas projeções de crescimento para México, Argentina, Brasil, Índia, Rússia, Arábia Saudita e África do Sul.
A disputa entre os EUA e a China não é a única nuvem no horizonte da OCDE, mais é a maior e mais ameaçadora. A organização também alertou que se o Reino Unido deixar a UE sem um acordo, o crescimento britânico poderia ser 2% menor, e o da UE, 0,5% menos. Isso lançaria o Reino Unido numa recessão e deixaria a UE perto disso.
A desaceleração dos fluxos comerciais e investimentos das empresas são os sinais mais óbvios de que as disputas comerciais estão cobrando seu preço sobre o crescimento mundial. Segundo a OCDE, no grupo das 20 maiores economias do mundo, o G-20, os investimentos cresceram à taxa anualizada de 1% no primeiro semestre, comparado a 5% do mesmo período de 2018, quando os EUA começaram a aumentar suas tarifas.
Até agora, o mercado de trabalho vem se mantendo bem nas economias mais desenvolvidas, mas a OCDE alerta que esse suporte ao crescimento também pode estar ameaçado. “Você não pode ter esse tipo de desaceleração sem algum impacto sobre os empregos em algum momento”, disse Boone.
Nos últimos anos, mais eleitores de muitos países vêm rejeitando o caminho do livre comércio defendido pela OCDE, provocando uma retração na globalização.
Boone acredita que esses eleitores podem mudar de opinião à medida que os custos dessa reversão ficarem mais aparentes. “O apetite pela destruição parece estar crescendo. Mas o impacto ainda não é palpável para as pessoas. Quando elas começarem a ver empresas quebrando e empregos sendo eliminados, podem ser que questionem esse movimento.”

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2019/09/20/expansao-global-e-a-menor-em-uma-decada-diz-a-ocde.ghtml

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