EUA mudam tom e acenam à China com negociação

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, adotou um tom conciliatório no último dia da cúpula do G-7, onde foi pressionado pelo presidente francês, Emmanuel Macron, a reduzir a escalada na guerra comercial com a China e aliviar as tensões com o Irã.
Ao lado de Macron, Trump soou otimista ontem sobre as negociações comerciais com a China, um dia depois de ter reforçado sua política de sobretaxas.
“Eu acho que eles querem fazer um acordo”, disse Trump. Mais cedo, ao ser indagado se consideraria adiar ou cancelar tarifas planejadas contra a China, ele respondeu: “Tudo é possível.”
A retórica mais leve sobre a China ajudou a acalmar investidores preocupados com uma nova escalada nas tensões comerciais entre os EUA e a China. Ontem, em Nova York, o índice Dow Jones subiu 1%, enquanto o S&P 500 avançou 1,1%.
As propostas suavizaram o encerramento da cúpula no balneário francês, que ficou marcada por três dias turbulentos. Ao longo do encontro, Macron conseguiu manter Trump sob controle.
A cúpula começou com o presidente francês pressionando Trump para discutir o Irã e a China sem a presença de assessores da Casa Branca – e seguiu com a imprevista chegada do ministro das Relações Exteriores iraniano, Javad Zarif, nos bastidores do encontro. No fim, Trump parecia apreciar a atmosfera improvisada da cúpula.
“Estávamos nos entendendo muito bem, ninguém queria ir embora”, disse Trump. Ele chamou o presidente chinês, Xi Jinping, de um “homem brilhante”; e descreveu como “muito positiva” a reunião que Macron teve do outro lado da rua, onde ocorreu a cúpula com Zarif – que recentemente foi alvo de sanções americanas. Trump elogiou o governante francês, acrescentando que Macron o manteve informado sobre os movimentos do diplomata iraniano.
Em alguns momentos, o otimismo renovado de Trump provocou confusão. Ele contou a jornalistas ontem que a China tinha entrado em contato com funcionários americanos na noite anterior e dito “vamos voltar à mesa de negociações”. O porta-voz do Ministério de Assuntos Exteriores chinês, Geng Shuang, disse que “não tinha conhecimento” de tal telefonema da China para os EUA.
Um porta-voz do Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR) não respondeu a perguntas sobre quando o telefonema havia sido feito ou quem foram os interlocutores.
Quando lhe pediram, mais tarde, para esclarecer quem eram as pessoas que tinham participado das ligações, Trump disse: “Não quero falar sobre telefonemas. Nós recebemos chamadas. Tivemos telefonemas nos níveis mais altos.”
O secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, procurou acabar com a discussão. “Houve discussões que foram e voltaram, vamos deixar por isso”, disse ele. “Ontem à noite”, interveio Trump.
Ainda assim, os comentários foram uma mudança com relação à escalada de sexta-feira, quando Pequim impôs novas tarifas sobre bens americanos e Trump respondeu com o aumento nas tarifas sobre produtos chineses. O presidente também instruiu as empresas americanas que fazem negócios com a China a explorar sua realocação, uma ordem que ele não tem autoridade para dar.
Trump tem dito que pode se valer da Lei dos Poderes Econômicos de Emergência de 1977, que permite ao presidente americano bloquear as atividades de empresas individuais, mas apenas se ele declarar emergência nacional primeiro.
Um encontro entre os governantes dos EUA e do Irã é algo sem precedentes desde a revolução iraniana de 1979 e qualquer assistência enfrenta forte oposição dos conservadores em Teerã, assim como dos linha-dura da política externa em Washington. Os EUA aumentaram as sanções contra o Irã nos últimos meses. Ainda assim, Trump indicou que ele estaria aberto a possibilidade de se reunir com o presidente iraniano, Hassan Rouhani. (Leia mais abaixo).
Em discurso televisionado mais cedo ontem, Rouhani disse que seu governo “não vai rejeitar nenhum caminho para resolver problemas”, afastando-se de sua recusa de muitos meses sobre qualquer possibilidade de negociação com o governo Trump.
“Se eu sei que uma reunião com alguém fará meu país florescer e resolverá os problemas do povo, não vou evitá-la”, disse Rouhani.
A França tem pressionado os EUA a permitir que o Irã receba empréstimos, que teriam o petróleo iraniano como garantia, como uma medida para criar confiança para possíveis negociações. Ontem, Trump disse estar aberto à ideia.
“Estamos falando de uma carta de crédito”, afirmou ele.
Mais cedo, Trump parecia desejoso de se dar bem com seus colegas governantes, incluindo a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, com quem tem relações glaciais. Ele a chamou de “mulher brilhante” e prometeu fazer sua primeira visita à Alemanha em breve.
“Eu tenho alemão no meu sangue”, disse Trump, provocando uma gargalhada de Merkel.
Autoridades americanas e francesas também fizeram progressos na direção de um acordo para reduzir as tensões decorrentes do novo imposto digital da França. No fim do segundo trimestre, o imposto provocou a ira de Trump, que prometeu retaliar com tarifas sobre o vinho francês.
Macron afirmou que os dois países tinham concordado com uma proposta que estipula que a França reembolsará empresas de tecnologia americanas que terminem por pagar mais impostos sob a nova lei francesa do que pagariam sob as regras tributárias que a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) está negociando atualmente.
“Posso confirmar que a primeira-dama adora vinhos franceses”, brincou Trump, ao ser questionado sobre o imposto digital.
Ainda assim, a abordagem de fazer tudo sozinho do presidente ficou evidente na manhã de ontem, quando os jornalistas foram conduzidos a uma sessão de trabalho sobre mudanças climáticas, biodiversidade e oceanos. Seis dos sete líderes do G-7 estavam presentes na sessão, enquanto a cadeira de Trump estava vazia. Funcionários americanos tinham criticado Macron por incluir questões de “nicho”, tais como as mudanças climáticas, na agenda da cúpula.
Os líderes do G-7 acertaram um pacote de US$ 20 milhões para ajudar os países da bacia amazônica a combater os incêndios devastadores e realizar um esforço de longo prazo para restaurar as florestas tropicais, uma soma irrisória dada a escala de destruição dos incêndios.
Indagado na entrevista coletiva se considera as mudanças climáticas uma prioridade depois de ter ignorado uma sessão sobre o assunto mais cedo, Trump disse que os EUA reviveram uma “tremenda riqueza” sob seu governo. “Eu não vou perder essa riqueza em sonhos, em moinhos de vento”, concluiu, aparentemente se referindo a combustíveis fósseis.

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