EUA e China mostram sinais de estabilização

Os setores industriais dos EUA e da China deram sinais de estabilização em março, enquanto o da Europa tropeçou, evidenciando uma perspectiva desigual e incerta para a economia mundial.
O Instituto para Gestão de Oferta (ISM) dos EUA disse ontem que seu índice de atividade industrial subiu para 55,3 em março, de 54,2 registrados no mês anterior, com números animadores de novos pedidos sendo um bom presságio para a produção industrial nos próximos meses. O índice é baseado na percepção de expansão ou contração da atividade pelos gerentes de compras das empresas, com números acima de 50 indicando expansão.
“Com base no que tenho visto, não acho que as coisas estejam ficando fracas”, disse Tim Fiore, que supervisiona a pesquisa do ISM.
Na China, o índice de atividade industrial (PMI) privado, mensurado pela Caixin/Markit, retornou à zona de expansão em março, para 50,8, de 49,9 em fevereiro. Esta é a melhor leitura do PMI desde julho. O dado corrobora o PMI oficial, divulgado no fim de semana, que também registrou uma forte recuperação do setor industrial chinês, com um aumento de um indicador dos pedidos futuros. O PMI oficial chinês atingiu o mais alto patamar em seis meses em março, 50,5 pontos, em comparação a 49,2 pontos em fevereiro.
Entretanto, a Europa está ficando para trás. O PMI do setor industrial da Alemanha caiu para 44,1 pontos em março, de 44,7 pontos em fevereiro. É a menor leitura em quase sete anos.
Considerados juntos, os índices são medidas importantes da situação da economia mundial. O crescimento global desacelerou nos últimos meses, depois de um período de crescimento sincronizado no início do ano passado. As tensões comerciais atingiram não só as duas maiores economias do mundo, os EUA e a China, como também os negócios em mercados que fornecem para os dois países, muito deles na Europa.
As autoridades responderam tentando estimular a atividade, com o governo chinês reduzindo impostos e aumentando seus gastos, e o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) suspendendo uma campanha de alta das taxas de juros. O Banco Central Europeu (BCE) também abrandou um pouco sua política monetária.
A expectativa agora é ver se essas medidas vão abrir caminho para um crescimento sustentado nos próximos meses, ou se uma desaceleração maior da economia mundial pode estar no horizonte.
Por enquanto, a Europa parece estar tendo mais problemas para acertar o passo. A Alemanha depende muito mais das exportações para o seu crescimento do que muitas outras grandes economias. Nas últimas décadas, ela vem fornecendo ferramentas e equipamentos de ponta para a China e outras economias em desenvolvimento, uma vez que estas vêm fortalecendo suas próprias capacidades industriais.
Ontem, a Associação da Indústria de Engenharia Mecânica da Alemanha cortou pela metade sua previsão de produção para este ano, para um crescimento de 1%, citando a disputa comercial entre os EUA e a China.
As montadoras alemãs sofrem com a desaceleração na demanda por automóveis na China, ao mesmo tempo em que enfrentam dificuldades em casa, no aperfeiçoamento de seus modelos para que eles se enquadrem nos novos padrões de emissões de poluentes da União Europeia (UE). Essas dificuldades estão agora se infiltrando na cadeia de fornecimento, afetando um grande número de fornecedores menores e empresas de serviços que dependem desse setor.
“Será um banho de sangue para os fabricantes na Europa este ano e a primeira melhora provavelmente só vai ocorrer no segundo semestre de 2020”, diz Marco Bonometti, presidente do conselho de administração da fornecedora automobilística OMR Automotive e presidente do grupo lobista Confindustria Lombardia.
Nos EUA, os números do ISM, juntamente com outro relatório apontando dados melhores que os esperados no setor de construção em fevereiro, tranquilizaram alguns economistas. O JP Morgan revisou sua estimativa de crescimento para o PIB americano no primeiro trimestre para 2%, de 1,5%, após o anúncio dos dados de ontem.
A Timesavers, uma fabricante de máquinas de acabamento abrasivo para os setores madeireiro e metalúrgico, disse que os clientes estão confiantes na força da economia. “Acho que este ano será melhor do que o ano passado, e as coisas estiveram bem no ano passado”, disse Peter Wernecke, gerente de marketing. “As pessoas não acreditam que há uma recessão no horizonte e estão seguindo em frente com suas compras.”
Na China, alguns economistas alertam que a recuperação poderá ser frágil. Alguns estavam céticos quanto a uma leitura maior do PMI de março, vendo isso como parte de uma recuperação sazonal normal que acontece após o feriado do Ano Novo Lunar chinês, que a cada ano cai em uma data diferente, entre janeiro e fevereiro.
Leon Gong, gerente de negócios de uma fabricante de equipamentos esportivos de Guangzhou, cidade do sul da China, diz que este ano a empresa não está registrando o aumento usual dos pedidos. Embora parte disso se deva aos atritos comerciais, o principal motivo, segundo ele, é a alta dos custos, com as empresas menores perdendo para as grandes.

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