Essa briga promete: Google Glass versus privacidade das pessoas

Ainda não é possível comprar o Google Glass, mas o aparelho já foi proibido em um bar de Seattle, com enorme repercussão na mídia. Mais grave: o New York Times noticiou anteontem que deputados do estado da Virgínia Ocidental já deram início a projeto de lei proibindo o uso dos “óculos” para motoristas.
O motivo da confusão é simples como noticiou o Estadão em 9 de maio, pg B19: no momento em que a tecnologia pessoal fica mais ágil e invisível o Glass abre debate sobre os efeitos dele para motoristas, relacionamentos e, principalmente, se ele priva as pessoas da pouca privacidade que lhes resta em público.
O Google Glass é um par de aros sem lentes com um minúsculo computador preso a um fone de ouvido. E tem a capacidade de captar qualquer encontro e transmiti-lo para milhões de pessoas em segundos. Uma advogada de Nova York resumiu o risco: “seremos todos paparazzi e alvos de paparazzi”.
Não é o que diz o Google. O Glass ainda é um projeto, em versões de testes, entregues a 2 mil desenvolvedores, gente especializada que está checando tecnicamente o aparelho. Outros 8 mil serão “exploradores” para usar o “óculos” ao longo de um tempo, receberão o aparelho de graça, para dizer o que acham. O Google não esconde a preocupação de torná-lo “menos intrusivo”. Será preciso olhar diretamente para alguém para tirar uma foto, por exemplo. Um desenvolvedor causou muito barulho ao desenvolver um programa para o Glass que permite tirar uma foto, ou fazer um vídeo apenas piscando o olho.
É curioso, mas como muitas outras empresas do Vale do Silício, a Google também repete a estratégia de que as pessoas não deveriam ter nada a esconder. Um presidente da Google, Eric Schmidt, em 2009, resumiu o que é a posição da indústria sobre o que se entende por privacidade: “se você fez algo quer que ninguém saiba, talvez não devesse tê-lo feito”.
Essa visão é muito relativa. Muita gente, não só advogados, lembram as pessoas têm direito constitucional à privacidade. Várias situações bem complicadas já aconteceram em ambientes de trabalho principalmente, exigindo inclusive presença policial, nos testes de aparelhos semelhantes ao Google Glass nos EUA. É fato que, como ponderou Thad Sterner, um dos pioneiros em computação “vestível” e consultor técnico do Google, alguns temores são exagerados: se existem pessoas antissociais, existem também “pessoas comuns que gostam de manter contato social”.
Em tempo: a consultoria especializada IHS, realizou pesquisa internacional e calculou que 6,6 milhões de óculos digitais podem ser vendidos pelo Google em apenas três anos.

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