Em Paris, CoP-21 já tem resultados

A conferência de Paris, a CoP-21, começou ontem com a mensagem uníssona dos líderes de que é preciso fechar um acordo climático global. Mas não só. Qualquer que seja o desfecho da negociação diplomática em Le Bourget nos próximos 15 dias, os chefes de Estado deram ontem seu recado político: fecharam diversas parcerias internacionais para proteger florestas, estimular o uso de energias renováveis, debater o valor do carbono e apoiar os países mais vulneráveis, debater o valor do carbono e apoiar os países mais vulneráveis, envolvendo centenas de bilhões de dólares.

A primeira-ministra alemã, Angela Merkel, sentou ao lado da presidente do Chile, Michelle Bachelet e dos líderes de França, México, Canadá e Etiópia para anunciar uma coalizão que promova experiências de tarifar carbono, uma forma de reduzir a emissão de gases-estufa, como mostrou material do Valor, assinada por Daniela Chiaretti, publicada em 1/12

O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, lançou junto com o presidente francês, François Hollande, uma aliança de mais de 120 países para estimular o uso da energia solar. Incluiu várias empresas na megarrede. A iniciativa pretende mobilizar US$ 1 trilhão em investimentos em energia solar nos próximos 15 anos.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, juntou-se ao primeiro-ministro britânico, David Cameron, e a outros 20 chefes de governo comprometendo-se a dobrar investimentos em pesquisa e desenvolvimento de energias renováveis em cinco anos. A iniciativa, do bilionário Bill Gates, juntou forças de outros 27 grandes investidores privados. Os países mais vulneráveis às mudanças climáticas se organizaram no Climate Vulnerable Forum (CVF) e pediram a todos que consigam ter 100% de energia renovável até 2050 e, gradativamente, abandonem o uso dos combustíveis fósseis até meados deste século. O Brasil integra essas duas iniciativas.

Os atentados terroristas de 13 de novembro, que mataram 130 e deixaram mais de 350 pessoas feridas, reivindicados pelo Estado Islâmico, pairaram sobre os primeiros momentos da CoP-21. A cerimônia de abertura começou com um minuto de silêncio em memória das vítimas. O presidente François Hollande, anfitrião do evento, amarrou os temas: “A luta contra o terrorismo e a luta contra o aquecimento global são os dois grandes desafios mundiais que precisamos superar”, disse. “Devemos deixar aos nossos filhos mais do que um mundo livre do terror.” E seguiu: “O que está em jogo nesta conferência do clima é a paz.”

Obama definiu as negociações climáticas como um “ato desafiador” contra o terrorismo. A presidente Dilma Rousseff disse que “o Brasil condena o terrorismo onde quer que ocorra e qualquer que seja a sua motivação”.

Os discursos indicaram as divergências que irão aflorar nos próximos dias, nas negociações. O premiê Narendra Modi disse que a comunidade internacional “não pode impor o fim das energias fósseis”, que continuam sendo necessárias durante a transição ao baixo carbono. “Devemos torná-las mais limpas, mas não impor o fim de sua utilização”, disse.

O líder chinês, Xi Jinping, à frente do país que mais emite gases-estufa na atualidade, disse que é “imperativo” que o acordo climático leve em conta a diferenciação entre os países. Obama afirmou que os Estados Unidos, a maior economia do mundo e o segundo maior emissor, sabem de sua responsabilidade. “Um dos inimigos que temos que combater nesta conferência é o cinismo. Nossa prioridade é dar esperança”, disse Obama.

Ele atribuiu aos Estados Unidos e à China a liderança em estimular os outros países a apresentarem suas metas e planos de cortar emissões, as INDCs, no jargão do regime climático. Até ontem, 183 países haviam apresentado suas metas.

O Departamento de Estado americano anunciou, assim que a conferência começou, que os EUA se comprometeram com US$ 51 milhões em um fundo global para ajudar os países mais pobres a se adaptar à mudança do clima, segundo a agência Associated Press. Outras promessas de recursos vieram de Alemanha, Canadá, Itália e outros países, totalizando quase US$ 250 milhões.

À cerimônia de abertura vieram 153 chefes de Estado ou de governo, um recorde de presença de líderes no mesmo lugar, no mesmo dia. “Bons sentimentos, declarações de intenções não vão ser suficientes”, alertou Hollande. “Estamos à beira de uma ruptura.”

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