Eleições indicam UE mais defensiva em questões comerciais

O novo Parlamento Europeu, eleito no domingo, poderá focar mais em questões de sustentabilidade ambiental e combate à mudança climática em futuros acordos comerciais, avalia a analista Natalia Macyra, do European Centre for International Political Economy (Ecipe), um centro de estudos em Bruxelas.
Fragmentação política ameaça paralisar o bloco europeu
A UE responde por 15% das exportações e importações globais. Partidos verdes estão entre os vencedores da eleição e terão mais voz no debate comercial na Europa. Os verdes votaram contra os acordos de livre comércio com o Canadá (Ceta) e com os EUA (TTIP, não concluído), assim como o Tisa – acordo de liberalização do setor de serviços no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Diferentes analistas acham que a política econômica europeia não será alterada. Já as implicações da eleição do Parlamento parecem menos claras em relação ao futuro presidente do Banco Central Europeu (BCE). Para a consultoria Capital Economics, a fragmentação política e o apoio ainda forte recebido por partidos eurocéticos podem acabar por bloquear reformas na zona do euro, tornando mais difícil a resposta a futuras crises. Leia os principais trechos da entrevista com Natalia Macyra:
Valor: Qual será o impacto do resultado da eleição sobre a política econômica na UE?
Natalia Macyra: Depende das possíveis coalizões no novo Parlamento Europeu. Visto o aumento da bancada da Alde [o bloco político dos liberais no Parlamento], poderemos ver algumas concessões do PPE [Partido Popular Europeu, o bloco de centro-direita] e do S&D [o bloco de centro-esquerda] para formar uma maioria que buscará apresentar resultados. A área tributária, mais provavelmente, se tornará um tópico onde um consenso maior precisará ser buscado.

Valor: O que vai mudar na política comercial da UE?
Macyra: Não esperamos grandes mudanças. No entanto, pode haver mais foco em sustentabilidade e clima nas futuras negociações comerciais. Com as cadeiras ganhas pelos verdes, eles podem tentar encontrar apoio em outros partidos, como o S&D, para tornar a aprovação de acordos comerciais mais problemática para a Comissão Europeia. Por outro lado, pode haver mais pressão dos liberais em favor do livre comércio, mas não se sabe se terão votos suficientes.

Valor: Qual a diferença em política comercial entre os candidatos a presidir o Parlamento Europeu?
Macyra: Acho que Frans Timmermans [socialista holandês] é mais incisivo sobre o tema. Ele parece mais pró-comércio do que o seu partido, em geral, e poderia ser um parceiro valioso para o PPE e a Alde para convencer parlamentares socialistas a apoiarem acordos de livre comércio. A posição de outro candidato, Manfred Weber [democrata-cristão alemão], é menos clara. Ele segue mais as políticas do partido sobre a questão, sem apresentar sua visão pessoal.

Valor: Como ficarão as relações UE-Estados Unidos?
Macyra: Acho que ninguém [no Parlamento] quer uma escalada de conflitos com os EUA, já que isso afetaria o mercado doméstico europeu. Não espero uma mudança súbita nessa frente, e as negociações [com os americanos] vão continuar.

Valor: E a relação UE-China, pode ter mudança ou novos desafios?
Macyra: Poderemos ver algumas mudanças adicionais nas relações bilateral, similares à recente introdução do processo de investigação dos investimentos chineses, com os partidos mais dispostos a proteger interesses europeus. Não espero que a Europa vá tão longe quanto [o presidente dos EUA, Donald] Trump, e inicie uma guerra comercial com a China, mas eles [os parlamentares] provavelmente serão mais defensivos na questão.

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