Eleição para o Congresso afeta do comércio à política fiscal dos EUA

Dos impostos ao comércio, as eleições legislativas desta terça- feira terão um impacto sobre uma variedade de questões para as empresas e a economia dos EUA. O Congresso, controlado hoje pelos republicanos, tem sido bastante favorável às políticas do governo de Donald Trump, ajudando o presidente a conseguir um grande corte nos impostos corporativos e a buscar desregulamentação.

Mas, se os democratas obtiverem maioria na Câmara, no Senado ou em ambas as casas, isso enfraquecerá a agenda de Trump.

Pesquisas indicam que os democratas têm uma boa chance de obter a maioria na Câmara, onde todas as cadeiras estão em disputa. No Senado, onde apenas um terço das cadeiras está em disputa, parece mais provável que os republicanos mantenham a maioria.

Leia abaixo o que pode mudar para as empresas e a economia.

Impostos – O governo Trump quer tornar permanentes os cortes no impostos de renda para a pessoa física, aprovados no ano passado, medida que, segundo analistas da Wall Street, poderia reforçar a confiança do consumidor e melhorar as perspectivas para o comércio, fabricantes de automóveis, empresas de tecnologia e outras fabricantes de bens de consumo. Mas a Casa Branca precisará que os republicanos mantenham a maioria nas duas casas do Congresso para aprovar a lei que vai garantir esses cortes. Se os democratas
passarem a controlar uma ou ambas as casas, o partido provavelmente vão pressionar por um aumento dos impostos corporativos.

Os democratas também poderão defender novas propostas que aumentariam os impostos para os fundos hedge e firmas de private equity, além de tentar reformular as regras tributárias internacionais para empresas com lucros e operações fora dos EUA. Trump poderia vetar essas propostas, mas os democratas poderiam exercer sua influência de outras maneiras, pressionando por essas medidas como parte de negociações orçamentárias mais amplas.

Comércio – Trump firmou no mês passado um novo acordo comercial com Canadá e México, que almeja substituir o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), assinado há 24 anos. As regras reformuladas criam novas restrições para os fabricantes, como as montadoras e os produtores agrícolas que dependem do comércio isento de impostos na região. Mas o novo acordo comercial ainda precisa da aprovação do Congresso e não deverá ser votado neste ano.

Se os democratas assumirem o controle da Câmara, do Senado ou de ambos, o acordo poderá enfrentar novos obstáculos entre os congressistas democratas, que podem pressionar por termos mais favoráveis aos sindicatos de trabalhadores, segundo analistas políticos.

Eventuais demoras nas aprovação criarão uma nova incerteza para as empresas que buscam transparência para seguir adiante em suas decisões de investimentos. Em outras questões comerciais, a Casa Branca tem ampla autoridade para impor tarifas de importação e vem tentando negociar novos acordos comerciais com China, Japão e União Europeia. Trump precisa do apoio do Congresso para implementar esses acordos.

Desregulamentação – O presidente Trump fez da desregulamentação uma prioridade e vem pressionando por ela em vários setores, como o automobilístico e os de energia e finanças.

Empresas de petróleo e gás, juntamente com os produtores de carvão, estão entre os maiores vencedores até agora do esforço do governo de afrouxar as regras de redução de emissão de gases ligados ao aquecimento global. As montadoras também estão se beneficiando de um esforço para frear as exigências futuras de economia de consumo de combustíveis.

Se os republicanos mantiverem o controle do Congresso, eles provavelmente ajudarão a pressionar por uma maior desregulamentação, assim como por medidas adicionais para enfraquecer a lei Dodd-Frank de reestruturação do setor financeiro, partes da qual já foram revogadas neste ano.

Se os democratas conseguirem o controle do Congresso, eles deverão usar sua autoridade sobre as comissões de supervisão para tentar impedir esses esforços. Eles também poderão iniciar investigações sobre como as agências estão fiscalizando as leis atuais e pressionar membros do governo a justificarem suas medidas em depoimentos, o que poderá provocar um maior escrutínio regulador, especialmente para setores como os de energia e finanças.

Infraestrutura – A Casa Branca vem tentando aprovar um projeto de lei para gastos maiores com infraestrutura, baseado numa proposta de US$ 1,5 trilhão anunciada neste ano que poderá beneficiar vários setores, incluindo os de construção, telecomunicações e serviços públicos.

Líderes republicanos no Congresso se mostrando pouco apoio a esse aumento dos gastos do governo com infraestrutura, mas uma vitória democrata poderá dar a Trump o apoio necessário para prosseguir com essa proposta.

Defesa – Uma vitória republicana na Câmara poderia intensificar a oposição ao plano da Casa Branca de conter o gasto militar. Uma vitória dos democratas poderia levar ao atraso de projetos de gastos com defesa, por desacordo entre os partidos sobre gastos discricionários não militares.

Além disso, o controle democrata da Câmara poderia reforçar os esforços de alguns congressistas para desacelerar ou congelar as vendas de armas para a Arábia Saudita, em razão das preocupações com a guerra no Iêmen e das consequências da morte do jornalista Jamal Khashoggi. No entanto, a Casa Branca poderá vetar essas medidas. Nas últimas semanas, os principais fornecedores minimizaram sua exposição ao país.

Agricultura – Uma mudança no controle também poderá tornar mais lento o progresso de um projeto de lei agrícola pendente, que cobre tudo que vai do seguro às colheitas ao financiamento a vales-refeição. Lobistas do setor agrícola veem a chance de os congressistas apresentarem uma versão para a sanção presidencial no fim do ano, antes de o novo Congresso assumir. Mas se os democratas conquistarem mais assentos, poderão pedir mudanças em medidas controvertidas, como a proposta de exigências de trabalho mais duras para pessoas que recebem vales-refeição.

Saúde e farmacêuticas – Os preços dos medicamentos deverão continuar sendo um problema para os congressistas independentemente do resultado das eleições. Após as eleições, o governo deverá continuar buscando medidas para reduzir os preços, e esse esforço poderá ser limitado se os republicanos mantiveram o controle do Congresso.
Se os democratas vencerem, eles poderão pressionar por um monitoramento formal do governo sobre os preços dos medicamentos e permitir ao Medicare negociar diretamente com os grupos farmacêuticos.

Do mesmo modo, se os democratas assumirem o controle da Câmara ou do Senado, eles deverão usar sua vantagem para apoiar o Obamacare. Se os republicanos mantiverem o controle, eles poderão tentar mais uma vez repelir essa lei, criando mais incerteza para as empresas de seguro saúde.

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