Disputa EUA ­China reduz planos de investimentos de empresas americanas

As políticas comerciais do governo Trump estão começando a prejudicar os planos das empresas de investir e contratar, informou ontem uma associação dos executivos-chefes dos maiores grupos empresariais dos EUA. Isso mostra como a escalada da guerra tarifária está mudando o humor na cúpula das empresas americanas.
A sobretaxa de 10% sobre US$ 200 bilhões em produtos importados da China entrou em vigor ontem. A pesquisa indica que quase dois terços dos executivos-chefes consultados pela Business Roundtable (BRT) disseram que a medida terá um efeito moderado ou significativamente negativo sobre os planos de investimento das empresas nos próximos seis meses.
“Quase nenhuma das nossas empresas vê isso como positivo”, disse Joshua Bolten, o executivo-chefe da BRT e ex-chefe de gabinete de George W. Bush, sobre a estratégia comercial de Donald Trump.
O grau de confiança das empresas continua alto, graças ao “incentivo significativo” proporcionado pelo corte de impostos corporativos em dezembro e uma série de medidas de desregulamentação tomadas desde que Trump assumiu, disse Bolten, mas os conflitos comerciais criaram “problemas significativos e crescentes”.
O índice Perspectiva Econômica dos Executivos-Chefes, da BRT, que teve sua maior alta dos últimos 15 anos em fevereiro, recuou 1,8 ponto, para 111,1 pontos no terceiro trimestre, para seu quinto cômputo trimestral mais elevado dos 16 anos de história da pesquisa.
O índice da pesquisa que mede os planos de investimentos caiu 4,4 pontos, para 103,2, no segundo trimestre, e o subíndice que monitora planos de contratação recuou 2,9 pontos, para 92,6 pontos – apesar de a medida da perspectiva de receitas das empresas nos próximos seis meses ter subido 2 pontos, para 132,3 pontos.
O governo esperava que a reforma fiscal estimularia as empresas a ampliar investimentos e contratações, mas um segundo relatório divulgado ontem mostrou que as empresas continuam a gastar a maior parte de sua receita inesperada decorrente dos cortes dos impostos em retornos aos acionistas.
As recompras de ações alcançaram US$ 191 bilhões no segundo trimestre, segundo os índices S&P Dow Jones, numa alta de 0,8% em relação ao recorde alcançado no primeiro trimestre, para um nível 59% superior ao do mesmo período de 2017. Os dividendos também atingiram um recorde, ao subirem 7,3% no comparativo trimestral, para US$ 112 bilhões.
Um estudo de economistas do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) divulgado no início deste mês, lançou dúvidas sobre quanto o corte de impostos impulsionou os gastos de capital e concluiu que a repatriação do caixa mantido pelas empresas americanas no exterior não tinha promovido “nenhum pico evidente dos investimentos” das empresas com maior caixa no primeiro trimestre.
Outras pesquisas recentes chamaram a atenção para a mudança de humor. A Agenda, por exemplo, uma subsidiária do “Financial Times”, informou ontem que o grau de confiança dos diretores voltou a cair para níveis observados pela última vez antes dos cortes de impostos de dezembro. A Deloitte apurou na semana passada que o percentual dos diretores financeiros de empresas que classificam as condições como “boas” caiu de seu maior nível, de 94% no segundo trimestre, para 89% no terceiro.
A maioria dos executivos concorda que o governo chinês dificultou para as empresas americanas a tarefa de operar na China e de concorrer com companhias chinesas no mundo inteiro, disse Bolten, da BRT. Ele discorda da estratégia do governo dos EYA e prefere negociações à adoção de tarifas.
Jamie Dimon, o executivo-chefe do J.P. Morgan e que preside a BRT, observou que não esperava que a China adotasse retaliações contra empresas americanas individualmente. “Eu diria que o que se deveria esperar dos chineses seria uma reação de reciprocidade, bem calculada”, disse ele.

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