Democratas vencem eleições nos EUA em onda anti-Trump

Um ano depois de a promessa de “tornar a América grande de novo” levar Donald Trump à Casa Branca, os eleitores americanos ouviram outro candidato defender mais rigidez com imigrantes ilegais, prometer empregos e criticar adversários pela apatia diante da violência urbana.

Desta vez, o resultado foi outro. Na noite de terça (7), o democrata Ralph Northam foi eleito governador da Virgínia, Estado colado à capital, Washington, e importante termômetro eleitoral por variar sua preferência partidária.

Com seu discurso pela economia dinâmica e o compromisso de manter estátuas de líderes confederados que tem sido removidas por todo o país pela associação com o passado escravocrata, o republicano Ed Gillespie perdeu, como mostrou matéria da Fo;há de S. Paulo de 9/11.

“Não acho que isso seja o melhor a ser feito com os impostos dos cidadãos”, disse Gillespie sobre a retirada de estátuas dos confederados.

Não foi a única vitória do partido. Na mesma noite, os democratas reelegeram com 39 pontos percentuais de margem o prefeito de Nova York, Bill de Blasio,levaram o governo de Nova Jersey e conquistaram Executivos e Legislativos locais país afora.

“Não foi uma onda democrata; foi um tsunami”, festejou o deputado democrata David Toscano, da Virgínia.

Analistas evitaram o otimismo, mas confirmam o bom momento do partido, que volta a respirar depois da derrota nas eleições presidenciais de 2016 e vê uma oportunidade na desaprovação a Trump, que chega a 60%.

“A explicação [para os resultados] é uma reação a Trump e ao trumpismo, pura e simplesmente”, afirmou Larry Sabato, professor na Universidade de Virgínia.

Gillespie, o perdedor, integra o establishment do Partido Republicano e foi assessor do presidente George W. Bush. Como candidato, porém, assumiu bandeiras típicas de Trump, levantando questões como imigração ilegal e gangues urbanas.

O resultado foi que milhares de cidadãos da Virgínia, onde o voto não é obrigatório, foram às urnas, mas, para se opor a Gillespie.

“Acabemos com o dissenso, com a política que dividiu esse país”, afirmou Northam, o eleito. “Vamos construir uma comunidade que funcione para todos, não importa quem seja ou de onde venha.”

A maior parte dos votos para o democrata veio do norte da Virgínia, exatamente nos subúrbios de Washington, onde fica a Casa Branca.

“Se você se volta contra os valores de sua cidade natal, sua cidade resistirá”, disse De Blasio, em Nova York, aludindo ao nova-iorquino Trump.

Para alguns, as eleições de terça expuseram os limites do trumpismo. Segundo o cientista político John Hudak, o resultado indica que a resistência a Trump é forte em boa parte do eleitorado.

“Uma eleição é decidida por vários fatores. Mas narrativas são contagiosas, e nem tudo em política é local”, diz o pesquisador da Brookings Institution, de Washington.

Isso não significa, porém, que o caminho democrata será fácil. O partido está tomado por rachas internos e sofre de uma crise de identidade depois da derrota de Hillary Clinton em 2016.

“Esta eleição não nos diz o que vai acontecer [nas legislativas de] 2018”, diz Hudak.

Alguns republicanos minimizaram o resultado de terça, e lembraram que boa parte destes distritos já havia preferido Hillary em 2016.

“É um ciclo típico; já aconteceu em outras eleições”, afirmou o senador Thom Tillis. “A questão é se vamos conseguir reverter essa tendência no ano que vem. Mas não estou preocupado: eu gosto de uma boa briga.”

Há, contudo, apreensão: “A noite passada [terça] foi um referendo [sobre Trump]”, disse o deputado republicano Scott Taylor, que conclamou colegas a refletirem sobre o rumo do partido.

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