‘De volta ao futuro’: redes sociais investem em conteúdo

Demorou, mas aconteceu. O mundo da tecnologia é feito de novidades constantes. Alguns desses movimentos são revolucionários, e criam coisas nunca antes imaginadas. Mas a boa parte é composta por releituras ou reedições de tentativas passadas.

Os recentes investimentos em conteúdo por parte de empresas como Facebook, Twitter, LinkedIn e Google são exemplos disso, como mostrou matéria do Valor, assinada por Gustavo Brigatto, publicada na edição de 26/10, pg B6.

A ideia de ter material capaz de atrair a atenção dos internautas foi uma das bases das startups que surgiram na segunda metade da década de 90 e ficou eternizada em um artigo escrito pelo cofundador da Microsoft, Bill Gates: “Content is King” (o conteúdo é quem manda, em uma tradução livre).

“Os meios evoluem, mas a gente continua querendo consumir histórias, saber sobre os acontecimentos”, diz Marcelo Tripoli, diretor de criação para América Latina da agência de publicidade SapientNitro.

Assim, notícias, vídeos, artigos, análises e todo tipo de conteúdo lotam as páginas dos internautas. “Tem muita coisa na cabeça das pessoas e queremos que elas consigam colocar isso para fora”, diz ao Valor, Dan Roth, editor- executivo do LinkedIn.

No último ano, a rede social votada a assuntos profissionais ganhou contornos de blog, ao permitir que seus usuários publiquem textos escritos por eles próprios. De acordo com Roth, já são 130 mil postagens por semana. Além de usuários comuns, estão na lista também importantes nomes do mundo dos negócios, como o fundador da Virgin, Sir Richard Branson, Bill Gates e brasileiros como Luiza Trajano, presidente da varejista Magazine Luiza, e Abilio Diniz, presidente do conselho da BRF. O LinkedIn tem, atualmente, 280 milhões de contas cadastradas. O Brasil é o terceiro maior mercado, atrás dos EUA e da Índia.

Para organizar toda essa produção, o LinkedIn tem uma equipe de 12 editores ao redor do mundo, inclusive no Brasil. Além de pessoas, a companhia também usa sistemas que ajudam a automatizar esse processo, os algoritmos. “Queremos que ninguém vá a uma reunião sem ter olhado o LinkedIn antes”, afirma Roth.

O investimento em conteúdo está diretamente ligado aos esforços das empresas de internet de aumentarem suas receitas. O tempo médio gasto por internauta em uma página é uma métrica importante usada por anunciantes na hora de direcionar suas verbas de publicidade.

A lógica é simples: quanto mais tempo o internauta passa dentro do site, mais suscetível ele está a ser impactado por um anúncio. Assim, vale a pena investir ali, ou, eventualmente, até pagar mais caro para estar naquela página.

Segundo Luis Olivalves, diretor de parceiras de mídia do Facebook para a América Latina, de cada quatro minutos que os brasileiros gastam na internet, um é no Facebook. De acordo com o executivo, entre os conteúdos mais consumidos estão informações sobre futebol, futebol e notícias em geral.

“Conhecemos as preferências, gostos das pessoas em nossa plataforma e temos condições de oferecer o conteúdo que realmente estão interessadas em descobrir”, diz Olivalves. Na semana passada, a companhia lançou uma ferramenta de busca que permite acompanhar tudo o que está acontecendo na rede, uma funcionalidade que só estava disponível no Twitter.

O microblog também tem investido para organizar melhor as mensagens que seus usuários postam a todo minuto. Assim como o LinkedIn, a companhia montou uma equipe de editores ao redor do mundo e está usando algoritmos para criar o Moments. “Vamos apresentar os Moments em editorias e o conteúdo poderá ser consumido de maneira bastante prática, através de um único botão. A timeline do usuário não sofrerá nenhuma alteração”, diz Leonardo Stamillo, diretor editorial do Twitter para a América Latina.

De acordo com o executivo, nos Estados Unidos, publicações como o “The New York Times”, “Washington Post” e a Fox News já estão usando o Moments, mesclando suas próprias publicações com informações geradas pelos usuários da rede.

O Facebook também tem se aproximado da mídia tradicional. Em maio, a companhia lançou o Instant Articles, que permite que as companhias de mídia tenham páginas especiais dentro da rede para publicar seu conteúdo. The “New York Times”, “Washington Post” e o site BuzzFeed são alguns nomes que fazem parte da iniciativa, que ainda está em fase inicial de desenvolvimento.

Na avaliação de Tripoli, da SapientNitro, apesar de interessante, o investimento em conteúdo deve ser feito com cautela. “Não dá tempo para consumir tudo”, diz.

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