Cultura da Uber vira desafio para avanço da empresa

Para Travis Kalanick, presidente-executivo da Uber, “pisar nos dedos” é uma coisa boa. Na realidade, ele considera esse um dos valores centrais da empresa, ao lado de slogans como “deixe os construtores construírem”.
A sua atitude obstinada ajudou a transformar, em sete anos, o serviço de transporte em uma companhia global, avaliada em US$ 70 bilhões. Para o bem e para o mal, a arrogância de Kalanick ajudou a definir a empresa, como mostrou artigo do Financial Times, publicado na Folha de S. Paulo de 14/03.
“A Uber é o que é por causa dele”, diz Bradley Tusk, um dos primeiros investidores da companhia e conselheiro de Kalanick. “Ela não seria tão valiosa sem ele.”
No entanto, uma série de crises nas últimas semanas levantou questões sobre se o executivo pisou em muitos dedos e se tem a maturidade para guiar a empresa.
Na lista de problemas estão acusações de assédio sexual e sexismo dentro da empresa, um bate-boca de Kalanick com um motorista do aplicativo e a descoberta de um sistema para enganar autoridades que podiam estar contra o serviço.
Em meio a críticas de usuários e investidores sobre a “cultura tóxica” da companhia, a resposta de Kalanick foi afirmar que estava em busca de um diretor de operações, de um “parceiro”.
A conclusão foi óbvia: o executivo de 40 anos estava procurando alguém como Sheryl Sandberg, diretora de operações do Facebook, que ajudou a equilibrar algumas das deficiências de um jovem Mark Zuckerberg, nos anos que antecederam a entrada da empresa na Bolsa.
Contratar um diretor respeitado ajudaria a acalmar os investidores, mas pessoas que trabalharam com Kalanick dizem que seria muito difícil ele dividir o poder, já que comanda a empresa desde 2009 e tem controle absoluto.
E pelo menos um acionista tem dúvidas se o executivo é a pessoa certa para conduzir a companhia para a venda de ações na Bolsa. “É o momento de ele dar um passo atrás”, disse esse acionista que pediu que não tivesse o nome revelado, “e deixar um adulto ser o presidente.”
Acionistas também demonstram preocupação com seu estilo agressivo de liderança –seus subordinados cederiam muito para ele.
“Ele desenvolveu claramente um culto do Travis e isso no fim das contas vai se tornar muito destrutivo”, disse um acionista. “Ele tem de alterar a cultura, e o modo de fazer isso é colocando gente que não tenha medo de falar e que tenha poderes para fazer mudanças”, completou.
Kalanick criou um ambiente de trabalho que é pesado até para os padrões das start-ups de tecnologia nos EUA.
“Quando eu entrei lá, era como ir em direção a uma motosserra”, diz um ex-funcionário que trabalhou lá por sete meses. Segundo ele, o rápido crescimento da empresa criou vácuos de liderança e os trabalhadores não dividem informações com os outros na esperança de conseguir uma promoção.
“A Uber é masculina, obstinada pelo desempenho”, disse Guillaume Champagne, da empresa de recrutamento SCGC. “O Airbnb é predominantemente feminino, focado mais na missão e menos no desempenho de curto prazo. “A maioria das empresas de tecnologia fica no meio desses extremos.”

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