Consumo de álcool na ESPM? Um debate sobre consciência e saúde

“Cuidado com a vida dos alunos, enquanto aproveitam como devem tudo que a vida universitária oferece”. A frase do professor da ESPM Pedro de Santi, psicólogo, na abertura do encontro sobre “consumo consciente de álcool”, resumiu o clima de confluência de preocupações da faculdade e das entidades estudantis com o problema.

A primeira novidade do I Encontro ESPM Consciência e Saúde foi essa: não há clima de condenação e muito menos de proibição. O caminho é outro: o do controle consciente no momento da festa. A outra novidade ficou por conta de quem dividiu essa preocupação com o CA e do DA: o maior fabricante de cerveja do mundo, a Ambev.

O interessante é que a empresa ofereceu caminho diferente para essa discussão: organizou pesquisa sobre Padrão de Consumo de álcool na ESPM. Guilherme Soares de Mello, gerente de Consumo Responsável da Ambev discutiu os resultados da aplicação de 559 questionários entre os alunos da escola sobre esse assunto. Primeiro, a questão é mesmo o consumo irresponsável, maior no universo pesquisado do que a média nacional. O problema está tanto no risco como na motivação desse comportamento. Bom exemplo de risco está no fato constatado pela pesquisa: 61% dos alunos relataram que já pegaram carona com alguém embriagado.

Além dessa preocupação Mello descreveu os dados sobre motivação de consumo irresponsável encontrada pela pesquisa: há significativa porcentagem de consumo indevido, o beber justificado, apenas, pela vontade de ficar embriagado. O gerente da Ambev ponderou que esse tipo de consumo não interessa à empresa e lembrou o dado, nacional, de que só 20% dos pais “falam de álcool” com seus filhos.

Mas, o que fazer com os resultados da pesquisa? A operacionalidade da intervenção para “consumo consciente” foi debatida por João Lucas Teixeira Gerente da Plataforma Skol Facul da Ambev. Questões técnicas, como manter-se hidratado na balada pode se transformar em operação induzida de consumo consciente. Essa indução, que pode utilizar diferentes instrumentos, inclusive a cerveja sem álcool, tem alvo definido: o planejamento de consumo como exercício de liberdade individual. João Teixeira considera esta estratégia eficiente para inibir o consumo indevido e perigoso.

O processo de indução ao consumo consciente de álcool ganhou contornos de ação efetiva no forte debate sobre o esquema open bar. Na medida em que as festas têm como atrativo a oferta absoluta e descontrolada, como combater o consumo indevido? Como enfrentar o dano da embriagues e todos os seus efeitos colaterais, inclusive a violência e o assédio sexual, como lembrou no debate o professor Pedro de Santi?

Os dois gerentes da Ambev discutiram longamente, com os diretores do CA e DA presentes ao encontro, o acordo entre todos os fabricantes de cerveja de negar qualquer apoio às festas que apresentem o esquema open bar. Exatamente pelo apelo ao consumo consciente. O debate pegou fogo, não só pelo argumento de que o atrativo da festa “é este”, mas, principalmente, sobre o papel de faculdades líderes como a ESPM de construir mentalidade diferente sobre o que é direito de aproveitar a vida universitária sem riscos tão altos E tão desnecessários, porque o problema não está no consumo do álcool, mas no descontrole. Como em tantos outros aspectos da vida adulta.

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