Como a sanção dos EUA afeta o celular da Huawei

Duas semanas depois de a Huawei ter sido colocada na lista negra de empresas proibidas de comprar componentes de fornecedores dos Estados Unidos, empresas ao redor do mundo ainda estão descobrindo todas as ramificações da decisão.
Na semana passada, a Huawei relatou ao “Financial Times” que a decisão do governo de Donald Trump de colocar a empresa em sua “lista negra”, vai afetar cerca de 1,2 mil fornecedores americanos. A Huawei comprou cerca de US$ 11 bilhões de componentes e serviços de empresas dos EUA em 2018.
A proibição vem tendo consequências significativas para os fornecedores da Huawei. Além de impedir as empresas americanas de vender diretamente para a Huawei, a proibição também impede empresas de vender produtos com mais de 25% de sua tecnologia originada nos EUA para fabricante chinesa de telefones celulares. Analistas dizem que muitas empresas provavelmente contestarão quais produtos caem nessa categoria.
A incerteza sobre os impactos da proibição levou algumas operadoras telefônicas a adiar o lançamento de novos telefones da Huawei enquanto avaliam melhor a situação. No Reino Unido, a EE e a Vodafone “pausaram” o lançamento de smartphones 5G da Huawei. No Japão, duas das maiores operadoras de telefonia celular, o SoftBank e a KDDI, também suspenderam a pré-venda dos novos modelos P30 da Huawei.
A Huawei é altamente dependente dos Estados Unidos para conseguir os chips que usa em seus telefones celulares e equipamentos de telecomunicações. A Huawei tem sua própria empresa de chips, a HiSilicon, mas para projetar “sistemas integrados em chips” (SOC, na sigla em inglês) para seus telefones de alto padrão precisa de softwares americanos.
Além disso, a arquitetura do núcleo do chip usada pela HiSilicon e outros fabricantes de chips é patenteada pela ARM, uma companhia britânica pertencente ao SoftBank, que já informou não poder mais licenciar seus projetos para a Huawei. O Google comunicou que vai deixar de fornecer à Huawei softwares para o sistema operacional Android, usado em 75% dos telefones celulares do mundo.
Para sorte da Huawei, seu principal produtor de chips, a TSMC, de Taiwan, informou que vai continuar como fornecedora da empresa porque não considera estar violando a proibição americana ao usar equipamentos feitos nos EUA para fabricar chips. Além da TSMC, porém, a Huawei também usa chips de memória feitos pela Micron e Seagate, ambas americanas.
Quanto a outros equipamentos de telecomunicações, como as torres de telefonia celular, a Huawei usa chips lógicos chamados FGPAs, fabricados pela Xilinx, dos EUA. Os outros grandes fornecedores de FGPAs, a Alterra, da Intel, e a Lattice Semiconductor também são empresas americanas.
A Huawei acumulou grandes estoques de chips, antecipando-se à proibição. A empresa de análises de mercado CLSA estima que empresa tem seis meses de estoques para telefones celulares e 9 a 12 meses de estoque para estações radiobase 5G.
Embora o governo da China venha pressionando pela autossuficiência no design e produção de chips em vista do veto anterior americano que impactou a ZTE (uma concorrente da Huawei), praticamente não há alternativas domésticas para a fabricante chinesa quando seus estoques se esgotarem. Analistas acreditam que a China está mais de dez anos atrasada no design de chips lógicos de alto padrão do tipo usado nos roteadores e computadores da Huawei.

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