Com 5G, o centro de dados fica perto do consumidor

Na era dos serviços de dados com a tecnologia 5G, milésimos de segundo fazem toda a diferença. Para fazer funcionar carros autônomos, robôs- cirurgiões controlados a distância e sistemas de reconhecimento facial em controles fronteiriços entre países, as operadoras começam a testar – inclusive no Brasil – uma nova camada de infraestrutura. Esta vai permitir o armazenamento e o processamento de dados nas “bordas” da rede de telecomunicações, a chamada “edge computing.”
A descentralização da capacidade de guardar e processar grandes quantidades
de dados é vital para reduzir a latência (tempo de resposta) das máquinas. Enquanto uma pessoa dirigindo um carro tem um tempo de reação de 150 milésimos de segundo, um carro autônomo deverá ser capaz de enviar sinais à rede 5G e recebê-los de volta num intervalo muito menor – entre 50 e 75 milésimos de segundo. Essa comunicação permitirá ao veículo reagir a outros objetos conectados à web, como sinais de trânsito e bicicletas.
A “edge computing” também tem potencial para baratear drasticamente os preços de celulares, videogames e até robôs, diz Wilson Cardoso, diretor da finlandesa Nokia.
Com uma rede capaz de armazenar e analisar dados localmente e de forma rápida, não haveria necessidade de telefones móveis com grande capacidade de memória ou poder de processamento. Nem mesmo os aplicativos precisariam estar instalados no aparelho. “Por que é preciso ter tanta coisa no seu telefone? Porque a rede hoje não tem capacidade [de reagir suficientemente rápido]”, justificou Cardoso.
Pelo mesmo motivo, consoles de videogame também tenderiam a desaparecer. Os equipamentos de “edge computing” fariam todo o trabalho de gerar sons e imagens, respondendo aos comandos do jogador com uma latência similar à de um console físico. “Você vai poder jogar [videogame] no computador mais barato que tiver em casa. Aquele velho, que estava esquecido num canto”, disse David del Val, executivo responsável pela área de pesquisa e desenvolvimento da Telefônica, que participou ontem do World Mobile Congress, evento do setor de telecomunicações em Barcelona.
A expectativa da indústria de telecomunicações é de que a “edge computing” influencie na distribuição de conteúdo digital. A transmissão de um filme em streaming (fluxo contínuo de dados) não precisará mais ficar concentrada em servidores distantes do usuário, mas em pequenos centros de dados dentro de centrais telefônicas locais. Seguindo esse raciocínio, o volume de dados transportados tende a cair nos pontos da rede onde hoje há maior tráfego. “É algo que vai reduzir a largura de banda [ocupada] dentro da rede”, disse João Monteiro Soares, gerente da fabricante sueca de infraestrutura de rede Ericsson.
Para reduzir a latência, fator crítico em usos industriais e de mobilidade urbana, por exemplo, a ideia é ter um minicentro de dados em cada central telefônica, disse o executivo da Telefónica.
A empresa espanhola inicia neste ano testes de “edge computing” no Brasil. Na Espanha, as primeiras experiências começaram no ano passado. Val não diz qual será o serviço a ser testado no Brasil, mas esclarece que a Telefónica pretende desenhar produtos em conjunto com alguns de seus clientes. A partir dessas experiências, a companhia vai testar a aceitação e a viabilidade comercial de determinados serviços.
O vice-presidente e gerente geral para a América Latina da americana Vertiv, Fernando García, contou que a empresa – fornecedora de equipamentos e serviços para dois terços dos centros de dados instalados no Brasil – tem contrato fechado com uma grande operadora de telefonia e um banco de varejo para desenvolver projetos de “edge computing” no país.
García não informou o nome dos clientes, mas disse que a Vertiv planeja instalar 100 minicentros de dados por todo o país. Entre outros produtos, a Vertiv fabrica “nobreaks” (equipamento que garante o funcionamento de máquinas, mesmo com queda de energia) e sistemas de ar-condicionado para centros de dados.
“Se pegarmos um mapa do Brasil, vamos ver uma concentração muito grande de centros de dados em alguns pontos. À medida em que o desenvolvimento do 5G for acontecendo, essa infraestrutura vai ficar muito mais distribuída”, disse o executivo da Vertiv.
Os desdobramentos da “edge computing” se estendem também ao segmento industrial. Um dos projetos em desenvolvimento pela Telefónica junto a um cliente na área de manufatura prevê o uso de realidade aumentada – uma combinação de elementos ou informações virtuais com imagens do mundo real – para antecipar como se daria o encaixe de peças de grandes dimensões. Com o uso de óculos de realidade virtual, seria possível ter uma ideia se uma peça ainda não fabricada será compatível com outra já existente.
A finlandesa Nokia estima que as tecnologias reunidas no conceito de indústria 4.0, em especial a 5G, vão fazer triplicar o número de sites – conjunto de antena e transmissor – de telefonia móvel existentes no mundo, hoje na casa dos sete milhões. A expansão da tecnologia 5G vai resultar na instalação de mais 14 milhões de torres móveis, projeta a companhia finlandesa. A Nokia faz testes com “edge computing” no interior da Bahia. O projeto foi desenvolvido em conjunto com a TIM Brasil no setor de agronegócio. O projeto visa a aprimorar o uso de defensivos agrícolas e de colheitadeiras a partir do uso de algoritmos e outras tecnologias digitais.

https://www.valor.com.br/empresas/6139643/com-5g-o-centro-de-dados-fica-perto-do-consumidor#

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