Clima deve isolar Trump na cúpula do G­20

Depois de anunciar a saída dos EUA do Acordo de Paris, o próximo palco de controvérsias com o presidente Donald Trump será a cúpula entre as 20 maiores economias do mundo, o G-20, em Hamburgo (Alemanha), em julho. Mudança do clima, prioridade para a anfitriã Angela Merkel, voltará a ser tópico sobre a mesa. A aposta provável é que o G-20 se transforme em G-19, reeditando o isolamento dos EUA como se viu no encontro do G-7, há poucos dias, na Sicília.

“Vai ser bem difícil”, reconhece Ottmar Edenhofer, economista-chefe do Potsdam Institute for Climate Impact Research, centro de referência de estudos em mudança do clima. Ele esteve à frente de uma iniciativa de clima e energia que assessora a agenda do G-20.

“É um sinal muito ruim, mas a saída dos EUA não significa que o Acordo de Paris esteja morto!, diz ele. “No G-7 vimos que os outros seis países reafirmaram seus compromissos para a proteção do clima e Trump ficou isolado”, como mostrou matéria de Daniela Chiaretti, publicada no Valor de 5/06.

Um dos tópicos que os alemães gostariam de avançar na cúpula é a eliminação dos subsídios aos combustíveis fósseis. O outro é dar preço ao carbono emitido. Evidentemente, a posição americana será de barrar ambas as propostas.

“O mercado só pode funcionar se os preços falarem a realidade. Carvão é barato no mercado, mas custa à sociedade, porque traz danos à saúde pública”, diz ele, que também foi presidiu o grupo de cientistas responsáveis por elaborar um dos últimos relatórios do IPCC (o Painel Intergovernamental de Mudança do Clima, da ONU), sobre mitigação de gases- estufa.

O argumento de Edenhofer é que danos ao meio ambiente cobram seu preço a médio e longo prazo. “Usinas de carvão fazem muita poluição local, o que é muito ruim para os americanos”, diz. Ele defende a internalização, no preço do carbono, do custo social provocado pelos danos à saúde.

Para ele, a estratégia de Trump de privilegiar os combustíveis fósseis tem duas frentes de inimigos óbvios- os preços de mercado e os governadores dos Estados. Os preços do gás estão mais baratos que os do carvão nos EUA e há vários governadores muito comprometidos com políticas climáticas agressivas. A estimativa é que os Estados possam influenciar na metade das emissões de gases-estufa dos EUA.

Foi a transição energética provocada pelo gás de xisto que fez com que as emissões de gases-estufa recuassem nos últimos dois anos nos EUA, e não tanto as energias eólica e solar, diz Edenhofer. “É por isso que não acredito que Trump consiga inaugurar muitas novas usinas a carvão”, aposta. “Por isso é possível que as emissões americanas não cresçam muito nos próximos quatro anos e permitam, ao próximo presidente, voltar ao Acordo de Paris.”

No longo prazo, diz o economista, não será possível limitar o aquecimento da temperatura aos 2°C sem os EUA. “Podemos aguentar quatro anos de Trump, mas oito anos serão um desastre.

Edenhofer critica a falha no discurso de Trump na comparação com os esforços da China. É provável que os EUA consigam atingir a meta de cortar entre 26% a 28% de emissões em 2025, comparados aos níveis de 2005. “Um líder diria aos chineses, eu posso fazer mais, desde que você também faça.”

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