Choque comercial já afeta economia e Europa crescerá menos

A tensão comercial gerada pelos EUA já está afetando a economia europeia. A Alemanha, terceiro maior exportador mundial, terá crescimento bem menor que previsto neste ano. Também a França, segunda maior economia da zona do euro, crescerá menos, diante do euro mais forte, da alta do petróleo e das incertezas com relação às políticas protecionistas pelo mundo.
O Instituto Ifo, de Munique, prevê agora expansão de apenas 1,8% do PIB alemão neste ano, ante os 2,6% previstos anteriormente. Para o ano que vem, a projeção também caiu, de 2,1% para 1,8%.
“Levamos em conta tudo o que já foi decidido, como tarifas sobre aço e alumínio nos EUA, que praticamente não têm impacto na economia alemã”, disse ao Valor Timo Wollmershäuser, economista do Ifo. “Mas é claro que todo o debate sobre a imposição de tarifas adicionais, e economicamente mais relevantes, sobre carros já teve impacto sobre a economia alemã antes de sua provável introdução.”
Wollmershäuser nota que os indicadores de confiança do setor industrial caíram desde o início do ano, os investimentos em maquinário e equipamentos diminuíram no primeiro trimestre, apesar das limitadas capacidades de produção e da carteira de pedidos, as novas encomendas recebidas estão em baixa e a produção industrial caiu mais uma vez em abril.
Segundo o Ifo, a situação é idêntica na França, na Itália e na Espanha, as outras grandes economias europeias e importantes parceiros comerciais do Brasil. Além das incertezas geradas pelo ambiente de guerra comercial, que tem impacto nos negócios, o Ifo leva em conta ainda o risco de uma nova crise do euro, provocada a partir da Itália.
O Bundesbank, o banco central alemão, alertou que preocupações políticas e no comércio global tornavam as perspectivas econômicas mais incertas. Líderes empresariais alemães não escondem o temor de serem vítimas colaterais do confronto entre os EUA e a China.
Em sincronia com a desaceleração na zona do euro, o PIB da França deve reduzir seu ritmo de crescimento para 1,7% este ano, depois de uma expansão de 2,3% em 2017, segundo a mais recente projeção do Insee, divulgada ontem.
Para o banco Rabobank, da Holanda, uma guerra comercial global – com os EUA aplicando sobretaxa geral de 20% nas suas importações de todos os países, e uma retaliação no mesmo percentual pelos parceiros dos EUA – pode derrubar o crescimento econômico mundial em 1,5 ponto percentual no período de cinco anos. Segundo o banco, isso significaria perda de US$ 1 trilhão de crescimento econômico.
No ritmo atual do confronto, economistas do banco francês Sociétè Générale (SG) duvidam que os EUA vão impor sanção adicional de US$ 200 bilhões sobre importações chinesas. Isso representa pouco menos de um terço do que Pequim vende para o mercado americano. E, se aplicadas sobretaxas nesse volume de importações, haveria um evidente aumento de preços nos EUA, assim como menor crescimento na China.
A Rússia anunciou ontem que vai impor tarifas sobre máquinas pesadas, para construção de estradas, feitas nos EUA. O ministro da Economia, Maxim Oreshkin, disse a medida, em retaliação à tarifa dos EUA ao aço russo, terá como alvo outros produtos que tenham equivalentes produzidos no país.

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