China ameaça barrar venda de terras raras aos EUA

A China está pronta para usar as suas reservas de terras raras como arma na guerra comercial com os EUA, segundo alertaram ontem jornais oficiais chineses. A restrição à venda desses importantes metais aos EUA seria uma escalada na tensão entre os dois países. Essa perspectiva afetou negativamente ontem os mercados de ações.
Terras raras são um grupo de 17 elementos químicos com várias aplicações, desde eletrônicos de alta tecnologia até equipamentos militares. A China tem a maior capacidade de processamento de terras raras do mundo e, entre 2014 e 2017, forneceu 80% das terras raras importadas pelos EUA. Em 2017, a China respondeu por 81% da produção mundial, segundo dados dos EUA.
Até agora Pequim não manifestou oficialmente a intenção de restringir a venda de terras raras aos EUA, mas a mídia chinesa tem sugerido essa possibilidade.
Em artigo intitulado “EUA, não subestimem a capacidade da China de contra-atacar”, o “Diário do Povo”, órgão oficial do Partido Comunista Chinês, destacou a “desconfortável” dependência dos EUA das terras raras fornecidas pela China. “As terras raras se tornarão numa arma para a China reagir contra a pressão que os EUA têm feito sem motivo? A resposta não é um mistério”, disse o jornal.
“Sem dúvida, o lado americano quer usar os produtos feitos com as terras raras exportadas pela China para conter e suprimir o desenvolvimento da China. O povo chinês nunca vai aceitar isso!”, acrescentou o jornal, que costuma refletir as posições do governo chinês. “Aconselhamos o lado americano a não subestimar a capacidade do lado chinês de defender seus direitos de desenvolvimento e interesses. Não diga que não avisamos!”
Os metais das chamadas terras raras são um grupo de 17 elementos encontrados em baixas concentrações no solo. São eles: lantânio, cério, praseodímio, neodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, túlio, itérbio, lutécio, escândio e ítrio.
Esses metais têm uma vasta gama de aplicações, que incluem baterias recarregáveis para automóveis elétricos e híbridos, cerâmicas avançadas, computadores, tocadores de DVD, turbinas eólicas, catalizadores de automóveis, refinarias de petróleo, monitores, televisores, iluminação, lasers, supercondutores e polimento de vidros.
Vários elementos de terras raras, como o neodímio e o disprósio, são essenciais em motores usados em veículos elétricos.
Terras raras também são essenciais em equipamentos militares, como motores de aviões, sistemas de orientação de mísseis, sistemas defensivos antimísseis, satélites e lasers. O lantânio, por exemplo, é necessário na fabricação de dispositivos de visão noturna.
O Departamento de Defesa dos EUA responde por cerca de 1% da demanda americana, que por sua vez representa cerca de 9% da demanda mundial por terras raras, segundo um relatório de 2016 do Escritório de Prestação de Contas do Governo dos EUA.
Entre as empresas mais dependentes dos estoques chineses estão grupos de defesa como Raytheon, Lockheed Martin e a BAE Systems, que fabricam mísseis sofisticados que usam elementos de terras raras em seus sistemas de orientação e sensores. A Lockheed e a BAE não quiseram comentar o assunto. A Raytheon não respondeu a um pedido para comentário.
Entre as empresas de consumo, a Apple usa elementos de terras raras em seus alto-falantes, câmeras e nos chamados motores “táteis”, que fazem seus telefones vibrar. A companhia diz que os elementos não podem ser obtidos por meio de um processo de reciclagem tradicional porque eles são usados em quantidades tão pequenas que não podem ser recuperados.
Embora sejam mais abundantes do que o nome indica, esses elementos são difíceis e caros de serem explorados e processados. Poucos fornecedores são capazes de competir com a China, que abriga 37% das reservas mundiais conhecidas de terras raras.
A mina Mountain Pass, na Califórnia, é a única instalação operacional de terras raras nos EUA. Mas a MP Materials, controladora da Mountain Pass, vende cerca de 50 mil toneladas de concentrado de terras raras que extrai todos os anos para a China, para serem processadas.
Em meio à guerra comercial, Pequim impôs uma tarifa de 25% sobre essa exportação de terras raras da MP Materials. Por outro lado, Washington até agora não aplicou tarifas punitivas sobre as terras raras que importa da China, já que isso causaria custo extra à sua indústria.
A australiana Lynas Corporation assinou recentemente um memorando de entendimento com a Blue Line, do Texas, para construir uma usina de processamento de terras raras nos EUA.
Terras raras também são exploradas na Índia, na África do Sul, no Canadá, na Austrália, na Estônia, na Malásia e no Brasil.
Não há muitas opções para reduzir a dependência das terras raras chinesas. A reciclagem é uma potencial fonte de terras raras. A americana Rare Earth Salts, de Nebrasca, por exemplo, está reciclando velhos tubos de luz fluorescente. Elementos de terras raras compõem cerca de 20% do bulbo.

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