Argentina leva “puxão de orelha” do FMI e “congela” preços

Quem tem menos de trinta anos não consegue entender bem o que é isso: “congelamento de preços”. A mágica foi muito praticada no Brasil, por exemplo, mas caiu em desuso faz mais ou menos 20 anos. Congelamento quer dizer que os preços de tudo, da dúzia de ovos no supermercado, da gasolina, do corte de cabelo, ou da cerveja no boteco da esquina ficam “parados” por decreto. Quem regula o preço de qualquer produto ou serviço não é mais a lei da oferta ou da procura, mas a vontade do governo. Durante períodos de guerra, por exemplo, é comum e compreensível esta medida; fora disso, invariavelmente, apresenta mais problemas para o controle da inflação do que os soluciona.
Ontem, a “fórmula” foi ressuscitada na Argentina quando o governo fechou um “acordo” com a associação dos supermercados para congelar os preços dos produtos por dois meses. Por decreto, os preços voltam ao que eram em 1º de fevereiro e ficam parados até 1º de abril. Motivo: controle da inflação. É muito estranha a decisão exatamente quando a presidente da Argentina, Cristina Kirchner anunciou que a inflação em 2012 foi de 10,8%. AS consultorias econômicas independentes dizem que a inflação verdadeira no país, não a “maquiada” pelos índices oficiais é bem diferente e alcançou 25,8% em 2012.
No final da semana passada, o Fundo Monetário Internacional enviou moção pública de censura para a Argentina pela má qualidade de suas estatísticas que provocaram índices de inflação e de crescimento do PIB “sem credibilidade”, o que impede comparações internacionais e distorce a correta avaliação da situação econômica do país. Em resposta ao FMI a presidente Kirchner tuitou diversas acusações ao Fundo, de “incompetência”, recusou o “puxão de orelha” da entidade internacional. Mas, no dia seguinte, decretou o “congelamento de preços” para segurar artificialmente a subida da inflação.
Os sindicatos argentinos, reunidos na poderosa Confederação Geral do trabalho, a CGT, querem que os salários aumentem conforme a inflação real, ou seja, tenham um reajuste de 25%. A presidente Cristina Kirchner resiste e diz que o máximo que pode dar é 20%. Em outras palavras, nem mesmo o governo acredita na inflação “oficial” de 10,8% no ano passado.
A crise econômica internacional atingiu duramente as exportações de commodities argentinas no ano passado. Os baixos investimentos, tanto nacionais como internacionais, atingiram a produtividade da indústria do país. Os gastos públicos também aumentaram gerando déficit. O conjunto desses problemas ajudou a subida da inflação. O congelamento só imagina enfrentar o resultado desses problemas e não a sua origem.

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