Apple busca reduzir dependência da Samsung

Na frenética disputa entre as empresas de tecnologia, a colaboração entre competidores tornou-se uma situação recorrente. Nesse cenário, empresas que se digladiam pela preferência dos consumidores no varejo podem ser clientes umas das outras. Alguns chamam isso de “coopetição” – uma junção das palavras cooperação e competição – e outros de “frenemy” – que une os termos em inglês ‘friend’ (amigo) e ‘enemy’ (inimigo).

Apple e Samsung são um bom exemplo. Em seu celular mais avançado, o iPhone X, que chegará às lojas em 3 de novembro, a Apple tem como único fornecedor de telas a fabricante coreana, segundo analistas. A Apple também é uma grande compradora de chips de memória da Samsung, como mostrou matéria do Valor de 21/09.

Apesar de ter se tornado uma situação corriqueira, esse formato está longe de ser totalmente confortável para os fabricantes. Por isso, reduzir essa exposição tornou-se importante. Nesse sentido, a participação da Apple no consórcio que comprou a unidade de chips de memória da Toshiba por US$ 18 bilhões foi um passo estratégico fundamental.

Hoje, de cada 100 chips desse tipo vendidos no mundo, 95 são fornecidos por três empresas: Samsung (com quase 45% de participação), a coreana SK Hynix (29%) e a americana Micron (21%). O mercado cresce a um ritmo acelerado – previsão de mais de 50% para 2017 – impulsionado, principalmente, pela demanda por smartphones. Essa concentração dá ao trio um poder exagerado sobre o mercado e gera outro problema: em momentos de alta demanda, como o atual, fica difícil atender aos pedidos, o que eleva os preços.

Como a segunda maior compradora de semicondutores do mundo – ela era a primeira até 2015 e foi ultrapassada pela Samsung no ano passado -, a Apple sabe que precisa de mais opções. A mesma lógica vale para Dell, Kingston e Seagate, fabricantes que também integram o consórcio liderado pelo Bain Capital.

Além da agressividade no varejo, a Samsung cresceu com uma estratégia de verticalização de suas operações, desenvolvendo componentes que ela mesma poderia usar em seus produtos, além de vender a outros fabricantes. As memórias são os principais produtos, mas baterias e telas também fazem parte da lista. No segundo trimestre, a unidade de semicondutores gerou receita de US$ 15,8 bilhões para a Samsung e de US$ 14,76 bilhões para a Intel. O desempenho tirou a coroa de líder do mercado que a companhia americana ostentava há um quarto de século. A expectativa é que a posição se consolide no restante do ano, uma vez que não há expectativa de uma grande retomada no setor de PCs, principal mercado da Intel.

Para o Brasil, a movimentação terá efeito quase nulo já que as empresas que fornecem memórias para os fabricantes não têm uma relação relevante com a Toshiba. O país poderia ter sido beneficiado, talvez, se o consórcio que tinha a Foxconn como um dos participantes tivesse ganhado a disputa. Mas isso dependeria de a companhia ter levado adiante seu plano de

montar no país uma cidade digital, onde seriam produzidos componentes para produtos eletrônicos. Mas como isso tampouco aconteceu, não haveria nenhum efeito prático no fim das contas.

Fazer da Toshiba um ator relevante do mercado não será uma tarefa fácil, muito menos barata, mas fazer isso talvez seja a única alternativa para manter um nível de coopetição que possa manter empresas como a Apple competitivas e, mais importante, lucrativas.

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