Após queda, economia dos EUA dá sinais de aceleração

Demorou, mas aconteceu. Depois da retração inesperada nos primeiros três meses do ano, a economia americana voltou a reagir, reforçando projeções de que os EUA têm fôlego para crescer a um ritmo anualizado de 3% por vários trimestres.

A forte criação de empregos e a venda de casas novas e de veículos em maio mostraram que a atividade parece estar de volta aos trilhos, embora a valorização do dólar deva continuar a afetar a indústria. Ao encarecer exportações e baratear importações, a moeda mais forte tende a inibir uma retomada mais exuberante.

No primeiro trimestre, o PIB dos EUA caiu 0,7% em termos anualizados, recuo que se deveu em grande parte a fatores temporários, apontam analistas do Bank of America (BofA Merrill Lynch). Foi o caso do inverno rigoroso, que tirou cerca de 0,5 ponto percentual do PIB no período, e das greves nos portos da Costa Oeste, que teriam “roubado” outro 0,2 ponto. Economistas dizem ainda que o Centro de Análises Econômicas não conseguiu descontar adequadamente fatores sazonais no primeiro trimester, como mostrou material do Valor Econômico, assianda por Sergio Lamucci, publicada em 24/06, pg A9.

Outros dois aspectos mais persistentes também pesaram sobre a atividade no começo do ano: a valorização do dólar e os preços mais baixos do petróleo. O petróleo barato tende a ajudar o crescimento no longo prazo, mas a forte queda causou um tombo nos investimentos no setor de petróleo e gás. Empresas do setor cortaram despesas de capital em mais de 40%. O consumidor, por sua vez, ainda se mostra um pouco cauteloso, poupando boa parte do que economiza com a gasolina mais em conta.

Nas contas do BofA Merrill Lynch, uma valorização de 20% do dólar reduz o crescimento em 0,5 ponto percentual ao longo de quatro trimestres. “Olhando para a frente, vemos uma recuperação sólida para um ritmo de 3% de crescimento, mas os ventos contrários do dólar forte e do choque do petróleo vão continuar a evitar uma retomada mais robusta”, dizem os analistas do banco. Em maio, a produção industrial caiu 0,2%, mostrando os efeitos negativos do câmbio sobre o setor industrial.

A Capital Economics destaca as crescentes evidências de que a atividade deu um salto no segundo trimestre. “Maio se mostrou um mês especialmente forte. As vendas de casas usadas atingiram o nível mais alto em seis meses, as vendas de veículos alcançaram o recorde em nove anos e quase 300 mil empregos foram criados”, diz a consultoria, em relatório divulgado ontem. A fraqueza do primeiro trimestre teria sido em grande parte relacionada ao clima adverso.

O bom momento do mercado imobiliário foi confirmado ontem, com o aumento de 2,2% da venda de casas novas em maio, para o nível mais alto em sete anos.

A Capital diz que a alta do dólar afeta bastante a indústria voltado à exportação e que o setor de extração mineral foi duramente atingido pelo recuo do petróleo. A consultoria destaca, contudo, que o setor manufatureiro e o de mineração respondem por apenas 15% do PIB. “Os outros 85% da economia têm mostrado desempenho forte.”

Analistas notam que a economia pode avançar ainda mais se o consumidor voltar a gastar. Em abril, a taxa de poupança pessoal ficou em 5,6% da renda disponível, bem acima dos 3% de 2006 e 2007, os anos anteriores à crise financeira.

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