Após ameaças comerciais, EUA e China negociam

Os EUA mostraram ontem disposição de negociar uma solução para evitar a escalada da disputa comercial com a China, após a retaliação de Pequim contra a decisão americana de impor tarifas a US$ 50 bilhões em produtos chineses importados. O embaixador chinês em Washington disse: “Quando um não quer, dois não brigam”.
Onze horas após o governo do presidente Donald Trump ter proposto uma sobretaxa de 25% sobre cerca de 1.300 linhas tarifárias de produtos industriais – de tecnologia, médicos e de transporte chineses – a China reagiu com uma lista similar para sobretaxar grandes itens de importação dos EUA, como soja, aviões, automóveis, carne bovina e produtos químicos, como mostrou matéria da Reuters
A resposta imediata e enérgica de Pequim elevou o risco de uma rápida intensificação da disputa entre as duas maiores potências econômicas globais, com impacto na economia mundial. Esse risco deixou os mercados nervosos.
Embora Trump tenha postado mensagens desafiadoras no Twitter, sua equipe sinalizou com um possível espaço de negociação.
Questionado sobre a possibilidade de as tarifas anunciadas pelos EUA anteontem nunca entrarem em vigor, sendo apenas uma tática de negociação, Larry Kudlow, o principal assessor econômico de Trump, disse: “Sim, é possível. É parte do processo”. Ele classificou os anúncios feitos pelos dois países de uma simples abertura de propostas.
Mais tarde, Kudlow disse ao canal Fox News: “Não acho que isso seja uma guerra comercial. Acho que haverá negociações intensas dos dois lados. Acho que chegaremos a um acordo. Acredito que os chineses vão recuar e cooperar”.
Cui Tiankai, embaixador da China nos EUA, participou de uma reunião de uma hora com o secretário de Estado em exercício, John Sullivan, em Washington. “Negociar continua sendo a nossa preferência, mas as duas partes precisam estar de acordo. Veremos o que os EUA farão”, disse Cui.
As medidas comerciais não serão implementadas imediatamente, de modo que há tempo para negociação. A divulgação da lista de Washington na terça-feira deu início a um período de comentários e consultas públicas que deverá durar cerca de dois meses. A data efetiva da retaliação da China dependerá de quando a medida dos EUA entrar em vigor.
Se os dois países não conseguirem resolver a disputa, uma guerra comercial plena poderá desestabilizar os laços comerciais entre americanos e chineses, que são um componente importante da economia mundial.
A decisão da China perturbou os agricultores americanos, enquanto as ações de empresas americanas exportadoras oscilaram com forte volatilidade.
Após uma abertura em baixa acentuada, os três maiores índices de ações de Wall Street se recuperaram para fechar com alta de cerca de 1%, com os investidores ponderando que há espaço para se evitar uma guerra comercial.
Sarah Sanders, porta-voz da Casa Branca, disse que a implementação das tarifas pelos EUA vai depender do comportamento da China. “Levará dois meses antes que as tarifas dos dois lados entrem em vigor e sejam implementadas, e temos esperança de que a China fará a coisa certa”, disse. Trump, que afirma que seus antecessores serviram mal os EUA nos assuntos comerciais, escreveu no Twitter: “Não estamos numa guerra comercial com a China. Essa guerra foi perdida há muitos anos pelas pessoas idiotas ou incompetentes que representavam os EUA”.
Em sua lista, Washington mirou produtos que se beneficiaram da política industrial chinesa, como a iniciativa “Made in China 2025”, para substituir importações de produtos tecnológicos avançados por produtos domésticos em setores estratégicos como os de robótica e TI avançada. Já a retaliação chinesa visa infligir dano político a Trump e aos republicanos.
A lista de Washington está cheia de itens industriais obscuros, mas a da China mirou exportações americanas importantes, como a soja, carne bovina congelada, algodão e outras commodities agrícolas produzidas em Estados como Iowa e Texas, que votaram em Trump na eleição de 2016.
A lista inclui ainda tabaco e uísque, produzidos no Kentucky, Estado do líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell. A reação chinesa pode prejudicar os republicanos nas eleições deste ano para o Congresso dos EUA.
Trump disse no mês passado que “guerras comerciais são boas e fáceis de vencer”, mas muitos republicanos se mostram inquietos com a recente escalada. McConnell disse estar nervoso com “a crescente tendência do governo de elevar tarifas”, que poderá se tornar um “caminho perigoso”, enquanto o senador Chuck Grassley, cujo Estado natal de Iowa é um grande produtor agrícola, disse: “Agricultores e fazendeiros não deveriam esperar arcar com a parte mais pesada da retaliação contra o país”.
A China disse que sua lista com sobretaxa de 25% cobre 106 itens de exportação dos EUA, com mesmo valor de U$ 50 bilhões mirado pela lista da Washington.
Os produtos americanos que poderão ser taxados na China incluem carros, jatos da General Dynamics e da Boeing e uísque Jack Daniel’s da Brown-Forman.
Produtos da área de tecnologia da informação (TI), como celulares e computadores, ficaram fora das novas medidas, apesar de responderem por uma parcela significativa do comércio bilateral.

http://www.valor.com.br/internacional/5431563/apos-ameacas-comerciais-eua-e-china-negociam#

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