Alemanha avalia pacote de estímulo contra recessão

A Alemanha, maior economia da Europa, pode entrar em recessão no terceiro trimestre, pressionada pela acentuada queda nas exportações e o declínio na produção industrial, alertou ontem o Bundesbank, o banco central alemão. Diante disso, o governo alemão estaria preparando um programa de estímulo fiscal, segundo duas fontes ouvidas pela agência de notícias Bloomberg.
“O desempenho econômico geral poderá cair levemente mais uma vez”, disse o Bundesbank, após o PIB ter se contraído 0,1% no segundo trimestre. “O fator principal disso é a desaceleração em curso na [produção] industrial.”
Para dar suporte aos gastos de consumo e evitar uma alta do desemprego, o governo alemão está estudando incentivos para melhorar a eficiência de energia das residências, promover a contratação de trabalhadores temporários e elevar a renda através do bem-estar social, disseram as fontes. O plano seria semelhante ao bônus criado na crise de 2009 para estimular a compra de carros novos.
Recentemente vêm aumentando os sinais de que a Alemanha pode finalmente usar sua folga fiscal para estimular o crescimento. No domingo, o ministro das Finanças, Olaf Scholz, sugeriu que o governo pode ter gastos extras de € 50 bilhões em caso de uma crise econômica. Na semana passada, a premiê Angela Merkel disse que a economia está “diante de dificuldades” e que seu governo reagirá “dependendo da situação”.
A expectativa de estímulos fiscais da Alemanha, assim como na China, animaram os mercados financeiros ontem. Na Europa, o índice pan-europeu Stoxx 600 subiu mais de 1%. Em Nova York, o índice S&P 500 avançou 1,2%.
A economia alemã sofre da combinação de problemas na sua crucial indústria automobilística – consequência do escândalo da manipulação dos dados de emissões dos motores a diesel e da mudança tecnológica em direção aos carros elétricos – com a escalada da guerra comercial EUA-China e a perspectiva de uma saída caótica do Reino Unido da UE. EUA e China estão entre os maiores parceiros comerciais da Alemanha, com o Reino Unido não muito atrás.
No segundo trimestre, a desaceleração no comércio exterior e a queda na produção industrial foram parcialmente compensados pelo crescimento dos gastos internos e do governo. Mas o Bundesbank alertou não saber por quanto tempo isso pode continuar.
Embora o mercado de trabalho alemão continue num nível historicamente muito baixo, com a taxa de desemprego em 3,1%, se as preocupações econômicas levarem os consumidores a adotar uma postura mais cautelosa, isso poderá a afetar o crescimento alemão e de outros países da UE.
“Se esta estagnação/recessão continuar e deixar marcas mais duradouras na economia [alemã], o resto do mundo também vai sentir”, disse Carsten Brzeski, economista do ING bank, à AP.
Com a maior economia da Europa desacelerando e a coalizão de governo da premiê Merkel se tornando cada vez mais impopular, há uma forte pressão interna e externa para que Berlim abra os cofres. Manter uma política de orçamento equilibrado por quase uma década permitiu que a Alemanha reduzisse a dívida pública de 83% para 60% do PIB na última
“Considerando que a fraqueza industrial persiste há um ano e meio, é notável como o debate tenha evoluído tão lentamente até agora”, disse Greg Fuzesi, economista do JPMorgan Chase. “Isso se deve em parte ao fato de que o desejo de reduzir a dívida do governo é profundamente defendido por todos os principais partidos e porque a desaceleração econômica tem sido ‘estranha’ até o momento, com repercussões no mercado de trabalho apenas começando a surgir agora e em escala modesta.”
Mas os obstáculos para um programa de estímulo continuam significativos. O Parlamento alemão teria de declarar uma crise para que o governo possa emitir dívida além do já autorizado durante uma recessão. Sem um sentimento de mal-estar generalizado, a aprovação pode ser difícil de justificar e, oficialmente, a Alemanha ainda está prevendo uma recuperação econômica antes do fim do ano.

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